Quem movimenta o agronegócio são as pessoas
O agronegócio é um livre mercado de escolha e seu funcionamento envolve relações complexas e sistêmicas entre os atores de todo o sistema agroindustrial. O agronegócio, conceituado como uma rede de negócios que integra atividades econômicas organizadas para produzir alimentos e bens agrícolas, pode ser formado por setores, cadeias, complexos, redes, clusters que dinamizam o mercado, geram capital e disputam interesses por meio da livre escolha. Assim, dentro de todo esse arranjo interorganizacional, podemos destacar como principal fenômeno, que movimenta todo o sistema, a relação do indivíduo com o ambiente.
Talvez você tenha pensado que o agronegócio é movimentado pelo capitalismo, e você não deixa de estar certo: historicamente o capitalismo moveu (e ainda move) parte do sistema, porém o foco vem mudando e não só como algo modal, mas sim como algo real e necessário diante dos desafios emergentes do mundo contemporâneo. A maior conscientização de que estamos estreitamente relacionados com a natureza, os animais e com toda a biodiversidade do planeta e de que dependemos desse ambiente para nossa sobrevivência amplia a visão em busca de um sistema mais sustentável de produção. Sustentabilidade é um conceito no âmbito de sistemas em que o desenvolvimento que soluciona as necessidades presentes não compromete as gerações futuras. Mas não estávamos falando de agronegócios? Com certeza sim!
O agronegócio é amplo e envolve uma relação com mercados (capital), organizações (pessoas), local/ambiente em que se está inserido e também o meio ambiente. Essas relações nada mais são que relações de troca – por exemplo, entre firmas situadas num local, que é a relação das pessoas com os meios de produção, matéria-prima, recursos naturais e tecnologia. Nesse contexto, nós somos essas pessoas e por meio das nossas relações formamos as organizações. Com isso, enfrentamos desafios econômicos, sociais e ambientais que demandam, o tempo todo, o surgimento de novas ideias, ou seja, abordagens inovadoras e logo maiores níveis de cooperação multilateral.
À medida que o conhecimento sobre o sistema agroindustrial avança, surgem novas necessidades de identificar e propor medidas, bem como de fazer escolhas assertivas para a sua evolução eficiente e sustentável.
Nós, como indivíduos, pensamos, sentimos, raciocinamos e, portanto, temos interesses que influenciam nossas escolhas. Como observado pelo grande pesquisador e economista Herbert Simon, cada um de nós é um tomador de decisão, sendo uma parte ou várias interagindo com um todo. Mas o que influencia a tomada de decisão? Os neoclássicos diriam que: como consumidor, maximizando a função de utilidade, consumindo mais a um menor preço; como empresa, maximizando o lucro, produzindo mais a um menor custo. Então podemos pensar que a racionalidade envolve uma escolha “perfeita”, mas perfeita para quem? Depende e muito, principalmente, do ambiente em que se está inserido.
Simon discorre que as organizações são complexas, pois envolvem tomadas de decisão, e isso envolve a racionalidade limitada, logo, ninguém tem a verdade absoluta. Estamos num meio institucional, não só da visão de governo e leis, mas também de crenças, normas, costumes, cultura, que acabam influenciando e moldando o nosso comportamento, nossos relacionamentos e, por sua vez, nossa tomada de decisão.
E é exatamente nesse ponto que quero chegar. Pense comigo: se o agronegócio é um arranjo interorganizacional, e esse arranjo são as relações que ocorrem como sistemas dentro de um mercado que depende das organizações que estão inseridas num ambiente, portanto o entorno moldaria o comportamento de determinado sistema. Então será que a minha tomada de decisão poderia determinar o futuro da produção de alimentos, ou seja, o futuro do agronegócio?
Mesmo o agronegócio emergindo do capital, do caos e da complexidade, ele nada mais é que a relação do homem com o ambiente e com os seres que nele vivem, portanto não podemos só olhar o escopo mercado/capital e, sim, mercado/pessoas/ambiente e suas relações.
O agronegócio nos traz todo esse pensamento: ele é ideias, estado, produção, alimento, vida, sobrevivência, arranjos, tomada de decisão, sustentabilidade, e toda essa relação, por mais complexa que seja, vai moldando o agronegócio e tudo a nossa volta, determinando o nosso futuro.
Então podemos e devemos fazer escolhas pautadas não na perfeição do sistema e no individualismo, mas olhar mais além, como um tomador de decisão, consciente e reflexivo de como podemos moldar o futuro do planeta e influenciar o movimento do agronegócio para que ele se torne cada vez mais uma organização sustentável de pessoas, meio ambiente e mercado.
(*) Luana Rodrigues Ferretto é médica veterinária, mestre em Alimentos de Origem Animal e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (UFRGS).