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Será que todo mundo tem TDAH?

Por Cristiane Lang (*) | 05/10/2024 13:31

Nos últimos anos, o diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem se tornado mais comum, especialmente entre adultos. Com a popularização do tema nas redes sociais e o aumento da busca por respostas para dificuldades cotidianas, muitas pessoas começaram a questionar: será que todo mundo tem TDAH? Embora os sintomas de desatenção e impulsividade sejam frequentemente descritos por muitos, a resposta a essa pergunta é mais complexa do que parece.

O que é TDAH?

O TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico caracterizado por desatenção, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade. Ele se manifesta desde a infância e pode continuar na vida adulta, afetando a capacidade de concentração, organização e controle de impulsos. É importante lembrar que o TDAH não é apenas uma questão de “falta de atenção” comum, mas um conjunto de sintomas que afetam a funcionalidade diária de forma significativa.

Sintomas ou reflexo da vida moderna?

Vivemos em uma era de sobrecarga de informações e distrações constantes, principalmente com a presença das redes sociais e a hiperconectividade. A dificuldade de se concentrar em tarefas, a procrastinação e a sensação de estar sempre correndo atrás do tempo são reclamações comuns no dia a dia moderno. Esse ambiente cria condições que podem parecer, à primeira vista, semelhantes aos sintomas do TDAH. Contudo, é essencial diferenciar entre uma dificuldade generalizada gerada pelo estilo de vida e um transtorno de base neurológica.

O estilo de vida contemporâneo, com múltiplas tarefas e demandas constantes, pode sobrecarregar qualquer pessoa. A necessidade de estar sempre produtivo, somada à ansiedade que isso gera, pode imitar sintomas típicos do TDAH, como distração e dificuldade de manter o foco. No entanto, isso não significa que todos tenham o transtorno.

Diagnóstico: um caminho delicado

Para receber o diagnóstico de TDAH, é preciso passar por uma avaliação criteriosa com profissionais de saúde mental. Essa avaliação considera não só os sintomas, mas também a frequência e a intensidade com que eles ocorrem, além de como impactam diferentes áreas da vida da pessoa, como trabalho, relacionamentos e autocuidado. Apenas porque alguém tem dificuldade de concentração ou procrastina, não significa que tenha TDAH. Há diversos fatores que podem influenciar esses comportamentos, como estresse, ansiedade, falta de sono ou sobrecarga emocional.

TDAH: Uma condição mal interpretada

O aumento de diagnósticos e a visibilidade do TDAH nas redes sociais e na mídia popular fizeram com que o transtorno ganhasse notoriedade, mas também contribuíram para mal-entendidos. É comum que as pessoas busquem explicações rápidas para seus problemas diários e se identifiquem com os sintomas superficiais descritos. No entanto, viver com TDAH é muito mais do que apenas sentir-se distraído ou desorganizado de vez em quando. Pessoas com TDAH enfrentam desafios profundos que impactam áreas cruciais de suas vidas.

A importância de um diagnóstico preciso

Buscar um diagnóstico correto é fundamental, tanto para aqueles que realmente possuem TDAH quanto para os que estão passando por outras dificuldades que imitam os sintomas. O diagnóstico correto garante que a pessoa receba o tratamento adequado, que pode incluir psicoterapia, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicação.

A popularização do tema também pode ser benéfica, já que ajuda a desestigmatizar o transtorno e a encorajar as pessoas a buscar ajuda. No entanto, é preciso ter cautela para não confundir situações passageiras, como falta de foco devido a estresse, com uma condição neurológica de longo prazo.

Embora muitas pessoas possam sentir que têm alguns dos sintomas de TDAH, nem todas têm o transtorno. O ambiente acelerado e exigente da vida moderna pode contribuir para comportamentos que se assemelham aos sintomas, mas o TDAH é uma condição séria que precisa ser diagnosticada com cuidado. Se você se sente sobrecarregado ou tem dificuldade em se concentrar, o primeiro passo é procurar orientação profissional para entender melhor suas dificuldades e buscar as melhores soluções.

Entender o que é o TDAH e como ele se manifesta é crucial para lidar de forma consciente com os desafios do dia a dia. E, acima de tudo, lembrar que nem tudo que parece TDAH, de fato, é.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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