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Suicídio entre idosos

José Carlos Souza (*) e Bruno Massayuki (*) | 14/09/2020 13:30

O envelhecimento é um processo individual, universal e irreversível; cada pessoa envelhece de uma forma diferente, tanto nos aspectos cerebrais e corporais, como nos aspectos de adaptação e estratégias de enfrentamento a esse novo ciclo de vida. Dessas modificações, podem-se mencionar as mudanças na morfologia do corpo (aparecimento de rugas, cabelos brancos, ganho ou perda de peso e diminuição na altura), características vocais (fala lenta, mais aguda ou grave e rouquidão), vitalidade (indisposição), dificuldades orgânicas de funcionamento dos diversos órgãos do corpo (doenças neurológicas, cardíacas, pulmonares e articulares), aumento do uso de medicamentos para problemas diversos, entre outras.

Além disso, pode haver uma deterioração de capacidades funcionais relacionadas ao bem-estar emocional, como a depressão e outros distúrbios do gênero. Modificações comportamentais entre os idosos são confundidas com a solidão ou com algum outro fator aparentemente ligado à idade; entretanto, esses entes queridos, embora com experiências de vida muito maiores, podem estar sofrendo de problemas existenciais e transtornos mentais, como depressão, ansiedade, dependência de álcool e drogas e outras situações sérias que podem levar ao suicídio (Batista & Santos, 2014). Ou seja, o que este cenário mostra é que, por ser muitas vezes insidiosa ou até mesmo negligenciadas por familiares, conhecidos e pelo próprio indivíduo; ocorre que, com frequência, os comprometimentos psicológicos e psiquiátricos não são diagnosticados a tempo, podendo, por conta disso, levar ao suicídio.

De acordo com dados de pesquisas recentes de 2018, a média nacional de suicídios nessa população é de mais de 5 para cada 100 mil e, em relação com outras faixas etárias, a chance de ocorrer é de quase 3 vezes mais (Greff et al., 2020). Atualmente, com os desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2), como o distanciamento social, isolamento dos familiares e amigos; aumentam-se ainda mais as preocupações em relação a tal estatística. É sabido que, conforme estatísticas e experiências clínicas psiquiátricas, o número de casos de tentativas e suicídio propriamente dito entre os idosos tem aumentado (Santos et. al, 2019).

Infelizmente, algumas pessoas ainda têm a ideia de considerar o idoso como um ser inútil para a sociedade, sob o argumento infundado de que não colabora com a economia, política e progresso da ciência e da convivência social (Santos et. al, 2019). É indubitável que se trata de um grande engano considerá-los dessa forma, haja vista que suas experiências e aprendizados ao longo da vida são de suma importância para sociedade. Ademais, caso tais repertórios sejam bem trabalhados e valorizados, podem ajudar os idosos a instituir estratégias de enfrentamento de estresse e de problemas diários, a fim de viverem com maior qualidade de vida (Sloane-Seale & Kops, 2012).

Como se não bastasse essa cruel mentalidade de algumas pessoas, a população dos cabelos brancos também é obrigado a lidar com os estigmas e obstáculos que a doença desse novo vírus (COVID-19) lhe impõe, como, por exemplo, o distanciamento e isolamento social (fatos que os fazem se sentir ainda mais sozinho), bem como o medo da morte em face do risco aumentado de mortalidade para aqueles que contraem a COVID-19 em idade senil e o aterrorizador número de contágios e de mortos no Brasil (até a presente data de 12 de setembro de 2020, já se contabilizam mais de 131 mil mortos) (Johns Hopkins University and Medicine, 2020).

Consequentemente, os idosos podem manifestar (como estratégias de enfrentamento) o luto antecipado, desejo de morrer, isolamento social, a perda do autocontrole, submissão, falta de aceitação, dificuldade de acomodação e adaptação, falta de um suporte social, desconforto espiritual, perda da dignidade e da sua individualidade. Com efeito, chegam a tentar ou até a consumar o suicídio; porém, quando ocorre, os conviventes alegam frequentemente que tenha sido um acidente, impactando dramaticamente a vida de todos devido à perda desse ente querido (Batista & Santos, 2014).

Sendo assim, uma vez que a cidade de Campo Grande e o estado do Mato Grosso do Sul estão, respectivamente, entre as capitais e os estados com os maiores índices nacionais de suicídio, é patente que sejam instituídas, cada vez mais, políticas públicas e sociais de prevenção e posvenção do suicídio. A sociedade deve se envolver, como um todo, haja vista que os jovens e adultos esperam um dia envelhecerem com saúde física e mental, capazes de aproveitarem o restante de sua existência com uma boa qualidade de vida.

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