Tem loucuras que a gente só faz com muita maturidade
Quando pensamos em loucura, frequentemente associamos essa ideia à juventude, à impulsividade e à falta de experiência. No entanto, existe uma categoria de “loucuras” que só se tornam possíveis com a maturidade. São aquelas decisões audaciosas, muitas vezes arriscadas, mas tomadas com uma profunda consciência de quem somos, do que queremos e das consequências que estamos dispostos a enfrentar.
Esse tipo de loucura não é uma fuga do pensamento racional, mas uma forma de liberdade que só surge quando a experiência de vida nos dá segurança o suficiente para arriscar. Neste artigo, vamos explorar como a maturidade nos permite tomar decisões ousadas que, em outros momentos da vida, poderiam parecer impensáveis.
A diferença entre a loucura da juventude e a da maturidade
Na juventude, nossas “loucuras” costumam ser movidas por impulsos e pela vontade de experimentar o mundo. Queremos viver intensamente, testar nossos limites e muitas vezes não pensamos nas consequências. É a fase de explorar o desconhecido sem necessariamente compreender os riscos ou as repercussões de nossas ações.
Por outro lado, as loucuras que vêm com a maturidade são diferentes. Elas não surgem da impulsividade, mas de uma reflexão consciente sobre quem somos e o que queremos da vida. Com o passar do tempo, aprendemos a lidar melhor com o medo, a insegurança e a pressão social. A maturidade nos dá a coragem de tomar decisões ousadas, mesmo sabendo que há incertezas envolvidas, porque temos a confiança de que, independentemente do resultado, saberemos lidar com as consequências.
A coragem de seguir novos caminhos
Uma das maiores “loucuras” que a maturidade nos permite é a capacidade de abandonar algo estável e confortável para seguir um novo caminho. Isso pode acontecer em várias áreas da vida: mudar de carreira, terminar um relacionamento de anos, ou até mesmo decidir começar uma nova vida em outro país. Para muitos, essas decisões podem parecer radicais, mas, para quem as toma, há uma clareza que só a maturidade proporciona.
Tomar essas decisões audaciosas na maturidade reflete uma consciência mais profunda sobre o que é importante. A pessoa madura entende que a estabilidade não é necessariamente sinônimo de felicidade e que a segurança, muitas vezes, pode ser uma prisão confortável. Com o tempo, aprendemos que vale a pena arriscar em busca de algo que ressoe mais com nossa essência, mesmo que o caminho seja incerto.
O poder de dizer “não”
Dizer “não” também pode ser uma loucura que só a maturidade nos permite. Na juventude, estamos frequentemente preocupados com a aprovação dos outros, e isso nos leva a aceitar coisas que não queremos ou com as quais não concordamos. No entanto, à medida que amadurecemos, aprendemos o valor do “não” como um ato de preservação de nossa energia, nosso tempo e nossa paz.
Muitas vezes, o ato de recusar algo — seja um trabalho, uma responsabilidade ou uma relação — pode parecer ousado, ou até mesmo arriscado, para aqueles que não compreendem as razões por trás dessa escolha. Porém, quando temos maturidade, sabemos que dizer “não” não é uma perda, mas um ganho em termos de integridade e bem-estar pessoal.
Arriscar-se emocionalmente
Outro tipo de loucura que a maturidade permite é a disposição para se arriscar emocionalmente. Quando jovens, tendemos a proteger nosso coração, com medo de nos machucarmos. À medida que amadurecemos, no entanto, entendemos que as feridas fazem parte do processo de viver plenamente. A maturidade nos ensina que se abrir para o amor, para novas amizades ou até mesmo para perdoar alguém, não é sinal de fraqueza, mas de força.
Arriscar-se emocionalmente pode ser uma das coisas mais ousadas que fazemos na vida adulta. É uma escolha consciente de vulnerabilidade, baseada no entendimento de que a dor pode ser temporária, mas a conexão profunda e verdadeira que buscamos só acontece quando estamos dispostos a nos expor completamente.
A loucura de ser autêntico
A sociedade costuma impor expectativas rígidas sobre como devemos nos comportar, quais caminhos devemos seguir e quais metas devemos alcançar. Muitas vezes, a loucura que a maturidade nos traz é a coragem de ser autêntico, mesmo que isso signifique ir contra a corrente.
Ser autêntico requer uma dose de ousadia, especialmente em um mundo que nos pressiona a nos encaixar em moldes predefinidos. Com a maturidade, aprendemos que a única pessoa que precisamos satisfazer somos nós mesmos. Decidir viver de acordo com nossos valores e desejos mais profundos, ignorando as expectativas alheias, pode parecer insano para alguns, mas é uma loucura que traz consigo uma sensação de liberdade incomparável.
A tranquilidade diante das incertezas
Talvez a maior “loucura” que a maturidade nos permite seja a tranquilidade diante das incertezas da vida. Enquanto a juventude frequentemente busca controle e respostas definitivas, a maturidade nos ensina que a vida é cheia de imprevisibilidades e que isso faz parte da sua beleza. Com o tempo, aprendemos a aceitar que nem tudo está sob nosso controle e que, às vezes, o melhor que podemos fazer é seguir em frente com coragem, mesmo sem garantias.
Essa aceitação das incertezas, essa disposição para viver o presente sem obsessão pelo futuro, pode parecer uma forma de loucura, especialmente em um mundo que valoriza tanto a segurança e o planejamento. Mas, para quem já percorreu uma longa jornada, essa é uma forma de sabedoria.
Há loucuras que a juventude faz por impulso, sem medir as consequências. Mas as loucuras que a maturidade nos permite fazer são aquelas que surgem da experiência, da reflexão e da coragem de viver de forma autêntica. São decisões ousadas, sim, mas baseadas em uma profunda compreensão de quem somos e do que realmente importa.
A maturidade nos ensina que, às vezes, é preciso arriscar, mudar de caminho ou simplesmente viver de acordo com nossos próprios termos. Essas loucuras, longe de serem irracionais, são expressões de uma liberdade que só alcançamos quando nos sentimos verdadeiramente confortáveis em nossa própria pele.
Então, se um dia você se encontrar tomando uma decisão que outros possam chamar de “loucura”, lembre-se de que, muitas vezes, é essa ousadia que nos leva a uma vida mais plena e significativa.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
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