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Tornando-se um menino de verdade

Talita Martins (*) | 02/07/2021 08:30

Sabemos que uma grande preocupação que nós, pais e educadores, temos com as nossas crianças é que elas consigam distinguir o bem do mal e a verdade da mentira. No livro “Cultivando um coração de Virtudes”, de Vigen Guroian, o autor diz que essa necessidade de fazer distinções morais é um dom, uma graça que os seres humanos receberam desde o nascimento. Mas, então, por que nem todos os indivíduos agem com bondade? Por que as pessoas mentem? Por que algumas pessoas são cruéis? Isso acontece, pois, tornar-se um ser humano responsável é uma jornada cheia de perigos e atingida por constantes tentações.

Com isso, lembremo-nos da importância de investirmos em uma educação holística na formação das nossas crianças para que elas consigam chegar à fase adulta, sendo capazes de guiar suas próprias vidas em sociedade de maneira ética. Entretanto, não nos esqueçamos de que elas precisam de orientações e de roteiros morais. Além disso, elas se beneficiam, imensamente, com os exemplos de adultos com os quais elas convivem, falam a verdade e agem com a força moral.

Ao explorarmos a história do Pinóquio, podemos retirar dela importantes reflexões morais. Seu pai, Gepeto, um homem bondoso e trabalhador, sonha em ter um filho de verdade. Sendo merecedor de realizar tal sonho, certo dia, foi presenteado por uma fada que deu vida ao seu boneco de madeira. Muito preocupado com o futuro do  filho, Gepeto faz planos para que Pinóquio aprenda a viver como um ser humano, oferecendo-lhe condições para tal: escola, casa, roupas, afeto etc. No entanto, as raízes de Pinóquio são rígidas e densas, em decorrência de sua matéria prima, a madeira. Mas, como então transformá-lo em um ser humano de verdade, de carne e osso? Em sua trajetória, o boneco, imaturo, movido por seus desejos e prazeres imediatos, age por algumas vezes de maneira irresponsável e impulsiva.

Em seu livro, Vigen Guroian descreve que Pinóquio, não sendo um mero inocente, afirma que os erros que ele comete são, na maioria das vezes, não apenas erros de ignorância, mas consequências de uma cabeça dura, repleta de paixões indisciplinadas e de uma vontade desnorteada que resiste a bons conselhos.

Na obra, há várias atitudes de Pinóquio permeadas por mentiras, irresponsabilidade, preguiça e egoísmo. Por isso, as ações do boneco colocaram, muitas vezes, a própria vida e a do pai em risco. Por fim, o menino de madeira se torna uma criança humana de carne e osso. Como isso acontecera? A verdadeira infância de Pinóquio não é tanto uma recompensa, mas, sim, uma consequência das mudanças de atitudes, ou seja, é um sinal visível de uma tarefa moral que foi realizada conscientemente. Tarefa que, mesmo no momento em que Pinóquio é transformado de madeira para carne e osso, ainda não está totalmente concluída. O amor, a obediência, a honestidade e o autodesgaste de Pinóquio, em benefício dos outros, triunfam sobre sua propensão primária de ser egoísta e egocêntrico. O bom coração e a capacidade inata de amar do personagem central do livro, finalmente, dominam sua cabeça de madeira. A carne que ele adquire representa um estágio significativo de sua humanidade, isto é, quando o amor e a obediência aos pais se tornam apropriados. Assim, essas e outras virtudes são as condições prévias para que ele se torne um ser humano real.

(*) Talita Martins é mestre pela UFMS em Saúde, Educação e Desenvolvimento e diretora da Educação Infantil da Escola Harmonia.

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