Uma perda ou uma oportunidade
Confesso que ainda tenho dificuldade de escrever sobre o que aconteceu nas reservas da Serra do Amolar em 2020. A dimensão da perda de biodiversidade são imensuráveis. O fogo atravessou as áreas numa velocidade superior a 40km por hora e foi cruel.
A fauna literalmente, num primeiro momento, foi praticamente extinta. A paisagem foi de fato, convertida em carvão. Aos poucos, os animais e plantas, alguns, começam a reaparecer num esforço de recompor a paisagem, buscando seus territórios e comida. As cinzas dominam o solo.
Jovens alunos da veterinária iniciarem um amplo programa de assistência, levando alimentação, minimizando a fome. Estamos reunindo todo conhecimento científico para pensar em um recomeço limitado a condição humana. A sacralidade sofreu brutal interferência. A capacidade de resiliência não é absoluta!
A intensidade do dano, certamente interrompe processos ecológicos vitais para o ecossistema. As abelhas, mais de 35 espécies identificadas, cumpriam seu papel fundamental de polinização e agora, algumas começam a reaparecer. Uma reflexão responsável deve ser feita a partir deste evento se queremos de fato, proteger o Pantanal.
As áreas protegidas por lei no bioma na planície representam apenas 5%, ou seja, 95% das áreas são fazendas. Pensar na evolução das estratégias de manejo nas reservas é imperioso. A lógica do intocável, mostrou falível. Perdemos muito!
Os outros 95% do bioma são fazendas e sem elas, dentro de uma estratégia de respeito, apoio e equilíbrio, seremos derrotados na proteção do bioma.
A história do homem pantaneiro nos dá um indicativo positivo com inúmeras evidências. A pecuária extensiva e a vida silvestre se tornaram harmônicas. Mesmo o “Novo Pantaneiro “, que se apresenta na sucessão natural, deverá respeitar os limites impostos pelo bioma.
Pensar como lidar com fogo no futuro é de fato necessário, mas não deve ser a única pauta. O governo pode investir em programas para minimizar os custos de produção no Pantanal, fundamentais para sobrevida Econômica e Conservação.
Detentor de um dos maiores rebanhos do país, nossa carne poderia ter uma adicionalidade se valor, fomentando as boas práticas tradicionais. Precisamos de linhas de crédito sustentáveis que ajude a repor matrizes, proteger as nascentes e fomentar o turismo. Devemos olhar com respeito e coragem para os 70% que não queimaram e os outros 30% devem se tornar nossa tarefa diária de “pensar e fazer” ações para restaurar a beleza da paisagem.
Finalmente o Pantanal entrou na pauta nacional e despertou de forma magnífica o sentimento de pertencimento dos brasileiros. Não devemos nos tornar moldura de lindas paisagens e livros de histórias saudosas, mas sim, símbolo de vitalidade e respeito ao homem e a natureza. Uma simbiose perfeita é necessária!
(*) Coronel Angelo Rabelo é presidente do Instituto Homem Pantaneiro.