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Uso do smartphone para avaliação da escoliose

Camila Silva Braga, Isis Juliene Rodrigues Leite Navarro e Cláudia Tarragô Candotti (*) | 28/09/2022 13:30

A escoliose é uma condição estrutural que acomete 3% da população mundial, em sua maioria indivíduos do sexo feminino. É caracterizada como uma condição tridimensional da coluna vertebral, na qual, no plano transversal, observamos a rotação das vértebras e do tronco. A manifestação clínica dessa condição estrutural é acompanhada pela deformidade das costelas na região torácica, denominada gibosidade. O rastreamento e o acompanhamento da escoliose podem ser feitos de maneira não invasiva por meio de instrumentos validados com a finalidade da detecção precoce da deformidade.

Considerada referência na prática clínica, o escoliômetro, um instrumento validado e confiável para medir a rotação, é de difícil acesso no Brasil, visto que não possui fabricação nacional. Como alternativa, os aplicativos nos smartphones começaram a ganhar espaço na avaliação e no monitoramento da escoliose. Para uso do smartphone nessa avaliação, há a necessidade, entretanto, de adaptações que permitam o ajuste dele sobre a coluna, com o mínimo de erro embutido.

Como uma alternativa prática para avaliação da escoliose em crianças e adolescentes, o nosso estudo se propôs a fazer essas adaptações do smartphone, acoplando-o em dois clipes de papel, que são comercialmente vendidos, feitos de material e tamanho padronizados, sendo de fácil acesso em qualquer papelaria.

Para analisar a confiabilidade das medidas feitas com o smartphone adaptado com dois clipes de papel, dois avaliadores realizaram 50 medições com o escoliômetro e o smartphone em dois dias diferentes, com intervalo de 2 a 10 dias entre cada avaliação. Essas medições foram realizadas em jovens de ambos os sexos, com idades entre 10 e 17 anos, com suspeita ou diagnóstico de escoliose idiopática. Foram excluídos participantes com tratamento cirúrgico prévio da coluna vertebral, qualquer causa diagnosticável de escoliose e amputação de membros inferiores ou superiores.

No primeiro dia de avaliação, os participantes realizaram um teste clínico, chamado “Teste de Adam”, que consiste em flexionar lentamente o tronco à frente (arredondado), estando em pé, com os pés unidos. Durante esse teste, era obtida a medida da rotação vertebral com o escoliômetro ou com o smartphone. Essas medidas foram obtidas por dois avaliadores no mesmo dia e horário. Além disso, o segundo avaliador realizou as mesmas medidas em um 2.º dia. O aplicativo utilizado na avaliação foi o Angle Pro Free, um aplicativo gratuito, disponível nas plataformas de downloads de aplicativos, enquanto o celular foi um Galaxy J5 prime da Samsung.

Nas medidas feitas pelos dois avaliadores, os valores de correlação obtidos pelo escoliômetro e o smartphone foram excelentes. Esses resultados, semelhantes aos de outros estudos, indicam a validade, a exatidão e a concordância das medidas feitas pelo smartphone em relação ao escoliômetro. Os dois avaliadores obtiveram altos valores de sensibilidade e especificidade. Nenhum estudo até o momento mostrou dados sobre análise de acurácia diagnóstica das medidas obtidas com smartphone, sendo o nosso estudo pioneiro nesse quesito. Para a prática clínica, os resultados obtidos indicam a confiabilidade das medidas do smartphone obtidas pelo mesmo avaliador ou por avaliadores diferentes.

Os resultados do nosso estudo indicam que, na avaliação clínica da escoliose, a identificação e a quantificação da presença de rotação vertebral não são mais dependentes somente do escoliômetro. Agora, os profissionais da saúde, em especial os fisioterapeutas, têm à sua disposição uma ferramenta prática, acessível, ao alcance da mão, como é o caso do aparelho celular, presente na vida de todos.

Com um smartphone, um aplicativo que mensure ângulo e dois clipes de papel, portanto, o profissional tem uma ferramenta capaz de medir a rotação vertebral e qualificar a avaliação da escoliose, podendo utilizá-la no rastreamento da escoliose ou na avaliação clínica, para acompanhamento dos pacientes com escoliose.

(*) Camila Braga é aluna do curso de Fisioterapia da UFRGS e bolsista do Grupo de Pesquisa Investigação da Mecânica do Movimento (BIOMEC).

(*) Isis Navarro é mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS, especialista em Escoliose pelo Método SEAS (Itália) e com Formação Biomecânica em Cadeias Musculares e Articulares G.D.S (França).

(*) Claudia Tarragô Candotti é professora associada da UFRGS, docente no curso de Fisioterapia e no Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) e coordenadora do grupo de pesquisa BIOMEC.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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