Uso Racional de Medicamentos
O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos (5 de maio) foi idealizado por estudantes de farmácia em um momento revolucionário no país. Com a Lei nº 9.787/99 foram criados os medicamentos genéricos, buscando ampliar as opções e o consequente acesso a diferentes marcas e preços de medicamentos disponíveis no mercado. No mesmo ano foi criada a Anvisa, objetivando garantir a segurança, qualidade e eficácia dos medicamentos em um momento em que, por exemplo, pílulas (anticoncepcionais) de farinha chegaram ao mercado, resultando em muitas gravidezes indesejadas. A desinformação da população em relação ao uso de medicamentos era grande. Assim, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos mobilizou estudantes e profissionais farmacêuticos a alertarem a população sobre a automedicação e seus riscos para a saúde.
Ainda em 1999 tive a oportunidade de participar da 1ª campanha do 5 de maio em Ribeirão Preto/SP, realizada pelo centro acadêmico da FCFRP/USP. Já se passaram quase 20 anos do fim da minha graduação e noto que ainda precisamos atuar muito na promoção do uso racional de medicamentos, pois muitas são as dúvidas da população, como o que é a automedicação e o uso racional de medicamentos? Devo comprar medicamento para tratar meus sintomas sem consultar um profissional da saúde? Posso indicar um medicamento que fez bem pra mim a meus parentes? Caso eu manifeste alguns dos efeitos colaterais indicados na bula, devo continuar tomando o medicamento? Onde e como devo guarda-los e descartá-los? Quem é o profissional que pode me orientar sobre o uso desses produtos e onde posso encontrá-lo?
O uso racional de medicamentos consiste na utilização do medicamento certo, na dose adequada, pelo tempo indicado e com o menor custo. E não apenas o uso deve ser racional, mas também a prescrição e dispensação. Por outro lado, quando não buscamos auxílio um farmacêutico - presente nas drogarias, farmácias de manipulação, unidades básicas de saúde e hospitais - para receber as devidas orientações e escolhemos o medicamento por conta própria ou por indicação de algum amigo, parente ou vizinho, estamos praticando a automedicação.
Diversos são os exemplos de uso indiscriminado de medicamentos disponíveis na internet. O uso de antialérgicos por pessoas que querem ganhar massa muscular, medicamentos para tratamento de diabetes prescritos e usados para emagrecer sem nunca terem sido aprovados para este fim e cujos efeitos a longo prazo serem desconhecidos. Na disciplina de Autocuidado, ofertada para idosos pela UniSER - programa de extensão da UnB -, diferentes histórias são compartilhadas sobre o uso inadequado de medicamentos ou sem a correta orientação e a desinformação sobre armazenamento e descarte corretos desses produtos. Além disso, não se pode ignorar o uso de produtos ou terapias com falsas promessas e sem comprovação científica e até relatos de apreensão dos fabricantes pela polícia por estarem longe de cumprir a legislação vigente.
Educadores de farmácia, estudantes, profissionais farmacêuticos e os Conselhos Federal e Regionais de Farmácia continuam firmes na luta para que o Uso Racional de Medicamentos não seja um evento isolado no dia 05 de maio, mas sim promovido diariamente.
Participo, com muito orgulho, de um grupo de pesquisa do curso de Farmácia da Faculdade de Ceilândia/UnB denominado AMUR (Acesso a Medicamentos e Uso Responsável), no qual docentes e estudantes desenvolvem diversas atividades de orientação à sociedade, como divulgação de informações por meio do Instagram, o acompanhamento de pacientes no ambulatório de transplante renal do HUB, campanhas orientativas e pesquisas diversas. E fico feliz por saber que não estamos sozinhos, pois vários são os grupos envolvidos com esse tema no país, evidenciando a importância de se investir em ensino, pesquisa e extensão, e na formação de profissionais capacitados a promover o Uso Racional dos Medicamentos.
(*) Camila Alves Areda é professora de farmácia na Faculdade UnB Ceilândia.