Abrasel diz que bares e restaurantes vivem "apagão de mão de obra"
Empresários estão com dificuldades para encontrar pessoas com o mínimo de qualificação necessária
Setores do comércio seguem em recuperação por conta da pandemia. O movimento de clientes aumenta e a demanda por contratações acompanha. Dados mais recentes do Ministério do Trabalho, referentes a dezembro de 2022, mostram que Campo Grande teve saldo positivo de 6% em relação a pessoas com trabalho formal. Foram 135 mil contratações, 8 mil a mais que o número de desligamentos. O saldo poderia ser ainda mais positivo, não fosse a falta de mão de obra em bares e restaurantes.
Campo Grande fechou 2022 com 135 novas empresa neste ramo do comércio, segundo a Jucems (Junta Comercial do Estado de Mato Grosso do Sul).
A dificuldade em encontrar pessoas qualificadas é tanta que o empresário Igor Rocha chegou a adiar a abertura do restaurante Olivia, em um terraço na Avenida Afonso Pena. O local foi inaugurado há poucos dias. "A falta de mão de obra é recorrente, as pessoas não buscam qualificação. Participo de consultoria na área de restaurante, por isso sei".
Everton Silva, gerente do restaurante, diz que quando surgem profissionais dispostos não têm qualificação necessária. "Na maioria das vezes acabam não sabendo o básico para ingressar no mercado de trabalho", revela.
Em busca de ajuda, empresários do setor contratam consultorias. O chef de cozinha Marcilio Galeano faz esse tipo de serviço para bares e restaurantes de Campo Grande.
Segundo ele, além da falta de mão de obra, o interesse por qualificação é baixo. "Em breve não atuarei na área de consultoria por falta de profissionais que queiram aprender sobre atendimento envolvendo o ramo da gastronomia. É fundamental que profissionais tenham noção básica de atendimento", destaca.
A dificuldade para encontrar profissionais capacitados fez Douglas Moraes abrir uma empresa de qualificação. Ele diz que "são mais de 3 mil pessoas atendidas, incluindo cozinheiros, garçons, lavadores de pratos, entre outros".
Alex Júnior Wastowski, da Churrascaria Nativas Grill, lembra que o empreendimento chegou a Campo Grande há três anos e a seleção de funcionários é criteriosa. O restaurante prefere trazer trabalhadores de fora e sem experiência para ensinar o passo a passo.
O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Juliano Wertheimer, diz que este momento está sendo chamado de “apagão de mão de obra”. "Não é só no Brasil, tem sido percebido também nos Estados Unidos. Então, nós temos como o maior complicador para o crescimento e manutenção dos negócios, a formação e contratação de mão de obra", relata.
Segundo Juliano, empresas "têm se tornado escolas, pegando funcionários de primeiro emprego, trabalhadores de base e formando, qualificando esses funcionários".
Uma das saídas é estimular parcerias e buscar opções que incluem órgãos públicos, como o Exército. O presidente da Abrasel conta que recentemente mais de 600 militares de Mato Grosso do Sul ficaram disponíveis para o mercado "já com experiência na cozinha, no almoxarifado ou em estruturas administrativas, com treinamento, disciplina, responsabilidade".
"O projeto 'Emprega MS', do Senac, também busca agora fazer a organização de toda essa cadeia, então lá é mais uma opção para mão de obra de pouca idade, mas com alguma experiência e responsabilidade", explica Juliano.