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Cidades

Em meio a denúncia e lotação, Hospital Regional tem desafio de virar referência

Em autoavaliação da instituição, diretor-geral cita pontos fortes e fracos que atravessam a meta pretensiosa

Cassia Modena e Jackeline Oliveira | 15/08/2023 12:00
Uma das entradas do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Uma das entradas do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

Entre as unidades que mais recebem encaminhamentos do SUS (Sistema Único de Saúde) no Estado, o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) também pode ser considerado "um paciente em recuperação" com uma série de problemas para resolver, 26 anos após a inauguração.

Os principais são ainda as sequelas de dois anos intensos de pandemia de covid-19 e uma lotação persistente que invade os corredores, atualmente chegando a 130%. A instituição também precisa seguir garantindo lisura e eficiência dos gastos, evitando que falte o básico e impedindo denúncias como a de desvio de dinheiro para medicamentos.

Apesar disso tudo, há otimismo. O secretário estadual de Saúde, Maurício Simões, e o diretor-geral do HRMS e médico ortopedista, Paulo Limberger, veem a possibilidade de a instituição se tornar uma referência para outros hospitais de Mato Grosso do Sul em alguns anos e, pretensiosamente, também do Brasil.

"Eu tenho, inclusive por encomenda do próprio governador [Eduardo Riedel], o desafio de realmente transformar o Hospital Regional numa referência em gestão hospitalar. Não só para o Estado de Mato Grosso do Sul, mas para toda a nossa federação", confirmou Simões durante evento voltado à educação, realizado no início deste mês.

O secretário estadual de Saúde, Maurício Simões, assumiu o cargo em janeiro deste ano (Foto: Arquivo)
O secretário estadual de Saúde, Maurício Simões, assumiu o cargo em janeiro deste ano (Foto: Arquivo)

Ele não deixa de admitir a complexidade de participar da gestão de um hospital que custa R$ 35 milhões ao ano e tem uma estrutura de 10 pavimentos, mais de 3 mil funcionários, 46 especialidades médicas e diversos serviços de alta complexidade. "A maioria das pessoas não tem noção de como é complexo", destacou.

De experiência nesse sentido, o secretário tem carreira como cirurgião de cabeça e o comando da reestruturação da rede privada Unimed em Mato Grosso do Sul, feita em uma década. Mesmo sabendo que o ritmo do SUS é diferente, ele tem visitado o hospital semanalmente e feito reuniões mensais, perseguindo o propósito da referência.

Pontos fortes - Limberger, em entrevista ao Campo Grande News, falou que também crê na possibilidade porque o hospital tem as ferramentas em mãos. "A gente tem o melhor corpo clínico do Estado. Temos professor aqui que dá aula fora do país, tem profissional da cardiologia que é chamado direto na Europa para dar curso na área dele, uma sumidade", citou.

Entre outros pontos fortes, está a agilidade que a equipe ganhou, como reflexo da pandemia que pedia tudo para já. O médico a observou como diretor técnico, na época. O momento terrível forçou o hospital a se dedicar exclusivamente ao tratamento de pacientes com complicações graves da covid-19, se tornando uma enorme CTI (Centro de Terapia Intensivo) e UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para tratar a doença que era a maior preocupação.

Outras coisas que eram feitas lá antes da pandemia e podem ser colocadas numa longa lista acabaram ficando para o final da fila e são retomadas desde o ano passado. O hospital agora se esforça para voltar a "fazer o básico bem feito", afirma o diretor-geral.

O diretor do HRMS, Paulo Limberger, atua na instituição desde o início da pandemia (Foto: Juliano Almeida)
O diretor do HRMS, Paulo Limberger, atua na instituição desde o início da pandemia (Foto: Juliano Almeida)

A UTI Neonatal e o setor de nefrologia, este último atualmente em reforma, são duas referências que orgulham o hospital e podem ser estampadas. Outro setor que promete ser exemplo é o de oncologia pediátrica, recém-reformado em parceria com a AACC (Associação dos Amigos da Criança com Câncer).

O tratamento de câncer já é uma das referências estaduais. Os maiores gastos de medicamentos do HRMS, inclusive, servem para tratar os pacientes dessa seara. A conclusão de prédio anexo da radioterapia, anunciada entre as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na última sexta-feira (18), poderá melhorar esse serviço. O diretor não o comenta por ser uma obra de responsabilidade do Ministério da Saúde, sem a participação técnica do hospital, que está há 10 anos parada.

A troca de experiências com hospitais privados renomados, como o Albert Einsten de São Paulo (SP), também tem contribuído para a gestão hospitalar da instituição sul-mato-grossense melhorar. O HRMS está inserido em programa federal que o permite receber consultorias em troca da União dar isenções fiscais ao hospital que colabora.

Arte: Thiago Mendes
Arte: Thiago Mendes

Uma novidade é que o Regional terá a parte externa pintada, para melhorar seu aspecto, e está havendo reforma em seu "coração", a central de materiais esterilizados. São duas melhorias "para agora", cita ainda o diretor.

Caminho que o hospital percorre para uma reestruturação que o ajudará a ser referência, é a implantação de uma central de custos e de maior controle administrativo. "Todos os nossos processos são exaustivamente controlados por todo mundo. Ministério Público e Tribunal de Contas da União acompanham. Tem procurador do Estado presente toda semana dentro do hospital, verificando todos os contratos e compras", ele conclui.

Imagem negativa - Na visão dos pacientes e acompanhantes, segundo dados da ouvidoria do hospital, falta infraestrutura no hospital, principalmente. Cerca de 40% das reclamações recebidas apontam esse problema.

Do início do ano para cá, o Campo Grande News mostrou que substituição, compra e reparos de aparelhos que levaram pessoas a esperar muito tempo por exames de imagem; falta de agulha; demora para alta; fila para cirurgias; e necessidade de mais cirurgiões (leia nas matérias relacionadas ao fim desta). São problemas de ordens diferentes, que refletem em imagem negativa para a "clientela" do HRMS, os pacientes do SUS.

Boa parte deles decorre da demora para diagnóstico e prolongamento das internações. O agravante tem sido o Regional precisar adquirir ou instalar equipamentos, após o fim do contrato com a empresa Di Imagem, a pedido do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). O diretor-geral admite que a ressonância magnética ainda não voltou a ser feita, e que tomografias e raio-X foram pausados por um tempo. Isso justificou parte das reclamações, no entanto, acabou acelerando a modernização do hospital.

Angiógrafo de R$ 2,8 milhões, instalado em maio no HRMS (Foto: Divulgação/HRMS)
Angiógrafo de R$ 2,8 milhões, instalado em maio no HRMS (Foto: Divulgação/HRMS)

Outra coisa nítida para quem depende do hospital é que poderia haver mais funcionários. Limberger confirma que a instituição precisa reforçar quadros de servidores e contratados, especialmente o da enfermagem, em todas as áreas. Um concurso foi autorizado pelo Governo do Estado para solucionar isso.

Problema sério é a lotação do PAM (Pronto Atendimento Médico), que o diretor classifica como "ingovernável". Vive superlotado e contribui no recebimento de pacientes no hospital, que ficam nas macas de corredor. Atualmente, de 50 a 60 pessoas são atendidas nesse improviso, que gera prejuízo ao hospital. "O Ministério da Saúde não paga produtividade para pacientes que estão em 'leitos que não existem'. Mas não podemos negar atendimento", comenta o diretor.

Além de pacientes de Campo Grande, o HRMS atende os de municípios do interior. Na última semana, havia gente no PAM de Sidrolândia, São Gabriel do Oeste e Terenos, por exemplo. Isso também contribui para a demanda estar além da capacidade.

Pronto Atendimento Médico tem situação "ingovernável", segundo diretor (Foto: Arquivo)
Pronto Atendimento Médico tem situação "ingovernável", segundo diretor (Foto: Arquivo)

Para ser referência - O diretor-geral reconhece que "não é do dia para a noite" que o HRMS se transformará em modelo. O plano hoje é, principalmente, reduzir as filas de cirurgias eletivas como solução para desafogar o pronto socorro e "fazer girar os pacientes nos leitos". Quanto antes os procedimentos não emergenciais forem feitos dentro do hospital, os problemas não evoluem para questões graves de saúde.

Muitas reformas precisam ser feitas, ele reconhece, mas isso depende justamente da redução da lotação. "Precisamos ter lotação de 80% para ir podendo fazer essas reformas e manutenção no hospital da forma como se deve, no tempo adequado. Se você pegar qualquer hospital particular ou de referência, ele trabalha com 80% a 85% de lotação", explica.

Na opinião de Limberger, o que ajudaria o Regional a ter condições de se reestruturar mais rápido, tendo a vazão necessária para as reformas e redução da lotação e das filas das eletivas, é Campo Grande ter mais leitos distribuídos entre as instituições. "Se 'colocar' de acordo com o que a Organização Mundial da Saúde define como a quantidade ideal de leitos a cada 100 mil habitantes, podemos fazer essa análise", sugere.

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