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Cidades

Jovens negligenciam covid, se expõem e são os principais transmissores em MS

Quem tem entre 20 e 39 anos representa 60% de todos os casos de novo coronavírus já registrados em MS

Lucia Morel | 09/06/2020 08:25
Para especialista, população está baixando a guarda, negligenciando as máscaras e voltando às aglomerações. (Foto: Silas Lima)
Para especialista, população está baixando a guarda, negligenciando as máscaras e voltando às aglomerações. (Foto: Silas Lima)

De todos os 2.324 casos confirmados de covid-19 em Mato Grosso do Sul, quase 60% têm entre 20 e 39 anos de idade.  A taxa sobe para 72%, se somadas as pessoas com até 49 anos. E mesmo essa população não seja grupo de risco efetivo, ela é a principal transmissora para quem é mais vulnerável.

A SES (Secretaria de Estado de Saúde) não esclarece nas estatísticas quantos apresentaram os sintomas e pondera, no entanto, que qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ter complicações da doença.

Responsável pelo COE (Comitê de Operações de Emergência da SES) e infectologista, Mariana Croda afirma que o grupo mais afetado pelo novo coronavírus é justamente a população economicamente ativa, que precisa trabalhar e não pode ficar em casa. “São os mais expostos, porque não têm opção e precisam sair para trabalhar”, explica.

É assim, por exemplo, no caso dos frigoríficos ou quem atua no comércio e em estabelecimentos de saúde. No entanto, Croda alerta que há uma característica infeliz em muitos casos, identificados principalmente em Campo Grande, de pessoas contaminadas, mas que não contraíram a doença no local de trabalho.

“São pessoas que se infectaram porque foram ao salão de beleza, ao dentista, ou ao shopping, por exemplo. Pegaram sem ser por necessidade de trabalhar e isso é o pior”, destaca, lembrando que além de infectadas, podem infectar outras e sem saber, já que a doença é muitas vezes leve na população dessa faixa etária, ou mesmo, assintomática.

Para a especialista, que ainda é pesquisadora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a atividade laboral é fator de risco, principalmente no perfil dos infectados nas cidade do interior de MS, mas não em Campo Grande, onde o foco está em núcleos familiares ou atividades que geraram aglomeração. “Vemos que é um grupo que transita mais, não necessariamente por trabalho, e leva a doença para o grupo de risco”, avalia.

Croda lembra que a Capital tem níveis de isolamento baixíssimo, comércio aberto, ônibus lotados, que são fatores que provocam uma alta transmissão. No entanto, ela credita à Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), os baixos números de infectados na cidade.

Faixa etária dos infectados por covid-19 em Mato Grosso do Sul. Fonte: SES
Faixa etária dos infectados por covid-19 em Mato Grosso do Sul. Fonte: SES

“Tivemos restrições no começo (da pandemia) que tiveram uma boa resposta da população e ajudaram a controlar o surto. Temos ainda a secretaria atuante, fazendo o mapeamento de contatos rapidamente para controlar e isolar as pessoas infectadas e ainda não temos grandes atividades que geram aglomeração, como muitas indústrias”, destaca.

Baixando a guarda – Apesar disso, Mariana afirma que a população, principalmente na faixa etária mais infectada, está baixando a guarda. “Muitas pessoas nos mercados, levando até as crianças, o que não estávamos vendo tanto. As pessoas estão relaxando cada vez mais, voltando às aglomerações, não respeitando o distanciamento e até o uso da máscara sendo negligenciado”.

Para ela, no caso de Campo Grande precisar de um fechamento real, o temido “lockdown”, ela avalia que “não vamos conseguir adesão adequada da população”, o que é ainda mais arriscado, já que agora, quando não deveri, ela já está “baixando a guarda”.

“Isso tudo é uma mudança de cultura. Não podemos baixar a guarda. Está tendo uma expansão grande da doença no interior e todos (os municípios) têm trânsito para a Capital”, aponta.

Com isso, a infectologista alerta que “não é o momento das pessoas se exporem. Não se pode pensar: ‘ah, esse vírus já está aí mesmo, vai infectar todo mundo’. Quem pode postergar o contato, que o faça, até que quando houver um respaldo científico de tratamento eficaz, seja uma vacina ou remédio. Se você posterga a exposição ao vírus, você evita o alto risco de morrer”, assegura.

Dentre todos os casos confirmados de Mato Grosso do Sul, 22,29% tem entre 20 e 29 anos de idade; 28,66% entre 30 e 39 e 21,04% entre 40 e 49. Dentre as 22 mortes, 72% são de pessoas com mais de 60 anos, mas houve sete óbitos de pessoas entre 27 e 58 anos.

Entre os 50 internados com covid-19 no Estado, há 28 em leitos públicos, com idade entre 41 e 86 anos e 24 em leitos privados, entre 29 e 86 anos de idade. De todos eles, 17 têm entre 29 e 49 anos.

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