Mãe que suspeita de erro médico diz que filho foi liberado 3 vezes de UPAs
Rodrigo Rezende ficou em estado vegetativo após retirar a vesícula em cirurgia e ser intubado
"Perfeito, amava a vida, tinha muitos planos e sonhos". Assim era Rodrigo Rezende, nas palavras da mãe, Tânia Rezende Miranda, antes de fazer uma cirurgia em Campo Grande, ser intubado e acordar em estado vegetativo.
Ela, que é deficiente visual e se mantém com o pouco dinheiro da aposentadoria, tem saído para visitá-lo no local onde foi feita a intervenção e o filho segue internado, o HRMS (Hospital Regional Maria Aparecida Pedrossian). São cerca de 15 quilômetros para ir e mais 15 para voltar para casa, no Bairro Morada Verde.
Já são 50 dias sem entender como uma cirurgia para retirada de vesícula o levou a uma piora tão grande. "Só mexe os olhos. Aparenta estar muito cansado", diz.
Em relato anterior ao Campo Grande News, Tânia afirmou ter ouvido de um médico que se tratava de coisa rápida e que o paciente estava bem e tranquilo, o que a acalmou antes da entrada no centro cirúrgico.
Rever vídeos como os acima para recordar como era Rodrigo, que tem 34 anos e trabalhava como técnico em informática, acaba alimentando a incompreensão sobre como tudo mudou do dia para a noite.
A mãe e outros familiares suspeitam de erro médico e mencionam que não se sabe, no hospital, onde foram parar as anotações sobre o pós-operatório.
A reportagem pediu explicações sobre o caso à assessoria de imprensa do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, mas não recebeu respostas às perguntas. A instituição se limitou a dizer que possui "canais específicos para denúncias desta natureza, sendo eles a Ouvidoria e o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC)". Elas depois são encaminhadas ao Conselho Regional de Medicina e aos demais órgãos competentes.
Liberado de UPAs - Detalhe contado por Tânia à Associação de Vítimas de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul, que pode ser importante para apuração sobre o que houve com o técnico em informática, é que ele foi atendido três vezes nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) Aero Rancho e Universitário antes de buscar diretamente o Hospital Regional.
Segundo a mãe, a primeira vez que passou mal a ponto de pedir socorro às unidades foi entre os dias 21 e 22 de outubro. O filho sentia fortes dores abdominais e nada parava no estômago. Ele vomitava "até a bile", conforme afirma.
Rodrigo estava se recuperando de um quadro de dengue, também de acordo com a mãe, e isso foi informado aos profissionais de saúde das duas unidades.
Nos três atendimentos, chegou a receber medicação e soro, inclusive passando a noite na UPA Universitário, mas foi liberado. "Na última vez, passou mal no saguão, logo depois de receber alta. Voltou, ficou mais um pouco, mas foi liberado de novo", conta Tânia. A irmã tomou a decisão de levá-lo ao hospital depois disso.
A reportagem também falou com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), responsável pela gestão das UPAs. A pasta informou que as dados sobre o atendimento e o prontuário do paciente são sigilosos, conforme regulamentação do Conselho Federal de Medicina.
Quanto à possível apuração de responsabilização no caso, acrescenta que "está à disposição da associação, bem como dos familiares do paciente e autoridades competentes para esclarecer quaisquer dúvidas que sejam pertinentes".
Pode ser irreversível - Tânia está na expectativa de que o filho não precise mais do respirador e seja transferido para a enfermaria do HRMS. Ainda aguarda explicações sobre o que aconteceu e o que pode ser feito para ele voltar a ser o mesmo Rodrigo de antes.
"Os médicos falam que ele é jovem e a mente pode surpreender, mas não dão muitas esperanças. O que sei é que meu filho vai precisar de muita fisioterapia para estimular, nada atrofiar, não ficar do jeito que está hoje", fala.
Uma manifestação será feita em frente ao Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, às 9h30 desta quarta-feira (20), para cobrar respostas e providências.
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*Matéria editada às 11h35 para acrescentar nota do HRMS.