Perto da fonte, estudantes de Medicina no Paraguai são cooptados pelo tráfico
Cooptação de alunos para transporte de drogas preocupa polícias
O envolvimento com o tráfico de drogas de estudantes brasileiros de Medicina das universidades de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, preocupa as polícias em Mato Grosso do Sul. Na avaliação das forças de segurança, a proximidade com a “fonte” dos ilícitos facilita a cooptação destes alunos para o crime.
O governo do departamento de Amambay estima em 15 mil o número de estudantes matriculados nos cursos de Medicina das universidades de Pedro Juan Caballero, vizinha da sul-mato-grossense Ponta Porã.
As mensalidades vão até R$ 790,00 em instituições de ensino paraguaias, taxa dez vezes menor que a média praticada pelas faculdades privadas do Brasil, de R$ 8 mil, segundo Mapa do Ensino Superior 2019, elaborado pelo Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior). Em Mato Grosso do Sul, o valor supera os R$ 13 mil.
A Polícia Federal aponta que, em regra, a droga traficada por estudantes brasileiros é fornecida no Paraguai.
Investigações da força de segurança ainda não identificaram atuação sistêmica de grupos organizados para aliciar alunos para o tráfico.
Porém, a facilidade de acesso transforma universidades paraguaias em esconderijos de criminosos, como traficantes. Assim, a roupagem de estudante é usada como disfarce.
A Polícia Federal revela que já fez prisões de foragidos da Justiça dentro de instituições paraguaias de Ensino Superior.
Perfil - Com atuação efetiva em 730,8 quilômetros em região de fronteira seca do Estado, o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) indica que traficantes vendem a estudantes “uma falsa ideia que, ao passarem por uma barreira do DOF, não seriam abordados, ou se fossem parados passariam por uma abordagem mais administrativa”.
Segundo o departamento, a maconha é a mais traficada neste tipo de crime, “devido à facilidade de acesso no Paraguai”. O DOF lembra que também houve casos de apreensões de drogas sintéticas e anabolizantes.
Em março do ano passado, o DOF prendeu estudante de Medicina com 3,6 quilos de supermaconha - também chamada de skunk - em ônibus, na BR-463, em Ponta Porã.
Já em outubro de 2019, policiais militares rodoviários flagraram aluno de Medicina no Paraguai com 228 quilos de maconha e um quilo de pasta-base de cocaína em fundo falso de uma Ford F-1000, na MS-162, em Dourados.
Polícia Civil - Na avaliação do titular da Delegacia Regional de Polícia de Ponta Porã, Clemir Vieira Júnior, assédio e oportunidade de entrar para o tráfico de drogas são maiores na faixa de fronteira.
Segundo o delegado, a Polícia Civil atua subsidiariamente nas ações de combate ao comércio ilegal de drogas na região.
Categoria - O presidente do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira, afirma que a entidade vê o envolvimento com o tráfico de futuros profissionais da categoria “com extrema preocupação”.
“O papel social do médico tem que afastá-lo desse tipo de situação. O médico trabalha pela saúde e não pode estar relacionado com esse crime”, continua.
Silveira também ressalta que o Sinmed-MS acompanha a formação dos médicos, independente se feita no Brasil ou no exterior, e mostrou preocupação com a situação de vulnerabilidade de parte dos estudantes no Paraguai.
“Muitos já vão em situação financeira não privilegiada para estes locais. [Entrar para o tráfico] pode servir como forma de financiar o próprio curso”, finaliza.