Tabu, desinformação causa baixa adesão da vacina contra HPV
Imunizante previne a transmissão de vírus que causa câncer de útero, de pênis, de garganta e de reto
Apenas 7% do público alvo da vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano) de Campo Grande foi imunizado até o momento neste ano. O percentual é o mesmo registrado no mesmo período do ano passado, conforme o levantamento da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).
Dos 85.941 meninos e meninas campo-grandenses de 9 a 14 anos que precisam se imunizar com duas doses contra a doença, apenas um percentual muito baixo tem buscado a prevenção. Veja a tabela abaixo.
Em todo o País são mais de 20 milhões de adolescentes aptos a receber as doses. Em Mato Grosso do Sul, a meta do Ministério da Saúde era vacinar 116,5 mil meninas de 9 a 14 anos e 140,4 mil meninos de 11 a 14 anos.
Mas o cenário é o mesmo em todos os outros países. Pais, mães ou responsáveis deixam de levar as crianças para vacinar. Vale ressaltar que o Brasil investiu R$ 567 milhões na aquisição de 14 milhões de vacinas que garantem a prevenção a doenças como câncer de colo de útero, pênis, garganta e reto.
Por isso a OMS (Organização Mundial da Saúde) atualizou neste mês as recomendações referentes à vacinação contra o HPV, por conta da baixa adesão ao imunizante. A organização passou a indicar a aplicação de dose única como uma alternativa para o esquema tradicional de duas injeções. O Brasil ainda não aderiu a esta recomendação.
Mas a medida leva em conta os números de 2019 e 2021, que apontaram queda na cobertura com a primeira dose de 25%, que já era baixa, para 15% das meninas de 9 a 14 anos. Isso significa um total de 3,5 milhões a mais desprotegidas.
Respostas – Para o médico de família do CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) de Campo Grande, Roberto Paulo Braz Junior, são vários os motivos que refletem essa baixa adesão.
“Acredito que vários fatores influenciam na baixa adesão. Como HPV é uma doença sexualmente transmissível se torna uma barreira e um tabu para falar da doença. Assim como é com o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), sífilis, do uso de preservativo, das prevenções, principalmente nessa faixa etária”, justificou.
Roberto ressaltou que a vacina é mais eficaz sendo aplicada antes do início da vida sexual da pessoa, por isso a principal faixa etária é de meninos e meninas de 9 a 14 anos. Além desse grupo, pessoas imunossuprimidas têm direito à vacina, como pessoas vivendo com HIV até 45 anos, com câncer, transplantados. No entanto, os portadores de doenças de imunossupressão precisam de atestado médico para conseguir se imunizar pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Já o grupo da faixa etária, precisa apenas de um documento que comprove a idade.
“Também vale ressaltar que nos últimos anos existiu um movimento antivacina. Isso tem piorado a adesão e a taxa de cobertura de todas as vacinas, incluindo a do HPV”, disse o médico. A mobilização surgiu após a disseminação de fake news baseadas em ideias sem comprovação científica e em teorias da conspiração da falta de eficácia dos imunizantes.
Outro fator comprovado por um estudo recente da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) mostrou que a principal causa da falta de vacina da faixa etária indicada é a desinformação. “Questionaram os adolescentes o porquê não se vacinaram? Era a falta de informação. Eles não sabiam que precisavam da vacina”.
Onde vacinar? – Desde 2014 a vacina que protege contra o papilomavírus humano foi incorporada de forma escalonada ao SUS. É estimado que o Brasil tenha de 9 a 10 milhões de infectados pelo HPV e que, a cada ano, 700 mil casos novos da infecção surjam. Cerca de 105 milhões de pessoas são positivas para o HPV 16 ou 18 no mundo.
Meninas e meninos de 9 a 14 anos, com esquema de duas doses. Adolescentes que receberem a primeira dose dessa vacina nessas idades poderão tomar a segunda dose mesmo se ultrapassado os seis meses do intervalo preconizado, para não perder a chance de completar o seu esquema. Basta ir ao posto de saúde mais próximo da sua residência. Na Capital o atendimento é sempre de segunda a sexta-feira, das 7h30 até às 16h45 (horário local).
Prevenção - A vacina não previne infecções por todos os tipos de HPV, mas é dirigida para os tipos mais frequentes: 6, 11, 16 e 18. Exame preventivo contra o HPV, o Papanicolau é um exame ginecológico preventivo mais comum para identificar lesões precursoras do câncer do colo do útero.
Esse exame ajuda a detectar células anormais no revestimento do colo do útero, que podem ser tratadas antes de se tornarem câncer. O exame não é capaz de diagnosticar a presença do vírus, no entanto, é considerado o melhor método para detectar câncer de colo do útero e suas lesões precursoras.
Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas, é possível prevenir 100% dos casos, por isso é muito importante que as mulheres façam o exame de papanicolaou regularmente.
O uso do preservativo (camisinha) masculino ou feminino nas relações sexuais é outra importante forma de prevenção do HPV. Contudo, seu uso, apesar de prevenir a maioria das IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), não impede totalmente a infecção pelo HPV, pois, frequentemente, as lesões estão presentes em áreas não protegidas pela camisinha (vulva, região pubiana, perineal ou bolsa escrotal). A camisinha feminina, que cobre também a vulva, evita mais eficazmente o contágio se utilizada desde o início da relação sexual.
A vacina utilizada no País previne 70% dos cânceres do colo do útero, 90% do câncer anal, 63% do câncer de pênis, 70% dos cânceres de vagina, 72% dos cânceres de orofaringe e 90% das verrugas genitais. Além disso, as vacinas HPV protegem contra o pré-câncer cervical em mulheres de 15 a 26 anos, associadas ao HPV 16 /18. A vacina é segura e não aumenta o risco de eventos adversos graves, aborto ou interrupção da gravidez.