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Capital

"A falta de acessibilidade começa nas calçadas", relata pessoa com deficiência

Sem rampas e calçadas adequadas, Glaucia Lopes explica que a dificuldade ocorre até na hora de pegar ônibus

Mylena Fraiha | 14/08/2023 19:09
Devido a falta de rampa, Glaucia não consegue acessar ponto de ônibus na avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)
Devido a falta de rampa, Glaucia não consegue acessar ponto de ônibus na avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)

Uma calçada danificada ou irregular pode ser um mero incômodo para muitos, entretanto, para PcD (Pessoas com deficiência) torna-se um obstáculo ainda maior. Exemplo disso é a rotina diária da servidora pública Glaucia Lopes, de 37 anos, que, na condição de PcD, enfrenta esse obstáculo em atividades cotidianas, como pegar um ônibus.

Durante entrevista concedida ao Campo Grande News, Glaucia compartilhou que nasceu com uma distrofia de cintura e atrofia múltipla, o que impacta sua mobilidade. "Eu tenho a mobilidade reduzida, então eu não consigo caminhar longas distâncias. Uso uma scooter, que é uma cadeira de rodas motorizada", explica.

Em sua sala de estar, Glaucia explica como é sua rotina (Foto: Mylena Fraiha)
Em sua sala de estar, Glaucia explica como é sua rotina (Foto: Mylena Fraiha)

Entretanto, com uma rotina ativa, na qual intercala entre o trabalho, fisioterapia e visitas ao Centro da cidade, a falta de acessibilidade se torna um grande problema para Glaucia.

Ela revelou que apesar de ter um ponto de ônibus em frente a sua casa, na Rua Miguel Bedoglim, no bairro Morada do Sossego, raramente consegue utilizá-lo, devido à lotação do transporte público.

"Eu moro em frente a um ponto, mas mesmo assim preciso pegar ônibus em outro lugar, porque eu moro no último ponto do bairro. Então, geralmente quando eu tenho que pegar ônibus, já vem cheio, com outro cadeirante ocupando o lugar", comenta a funcionária pública.

Durante trajeto, Glaucia mostrou calçada destruída na rua Jacinto Gomes que impossibilita sua passagem (Foto: Mylena Fraiha)
Durante trajeto, Glaucia mostrou calçada destruída na rua Jacinto Gomes que impossibilita sua passagem (Foto: Mylena Fraiha)

Para chegar ao trabalho a tempo, Glaucia relata que precisa pegar o transporte público na Avenida Guaicurus, a 900 metros de sua casa. Entretanto, o trajeto dela também é prejudicado pela falta de acessibilidade nas calçadas da Rua Jacinto Maximo Gomes, que dá acesso à Avenida Cônsul Assaf Trad.

A falta de acessibilidade começa nas calçadas. Muitas vezes, não consigo usá-las e sou obrigada a ir para a rua, o que se torna perigoso, especialmente ao cruzar avenida movimentada", compartilhou Glaucia.

Nos pontos de ônibus, a falta de rampas e outras adequações também é recorrente. Segundo ela, o único local que ela consegue ter acesso ao transporte coletivo fica a aproximadamente 1 km de sua residência. "O primeiro ponto que encontro, que está mais próximo, também é inacessível, pois não possui rampa. Isso me obriga a me deslocar até outro ponto, mais longe ainda", explicou.

Apesar da calçada irregular, Glaucia chega ao ponto de ônibus da avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)
Apesar da calçada irregular, Glaucia chega ao ponto de ônibus da avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)

Conscientização - No cotidiano de Glaucia, as dificuldades se apresentam de diversas formas, desde a falta de rampas até a obstrução das rampas por veículos estacionados.

Além das dificuldades encontradas nas vias públicas, Glaucia ressaltou que a carência de adaptações adequadas é frequente em outros espaços que frequenta diariamente. "Já enfrentei situações em que não conseguia entrar em prédios e, por vezes, não conseguia sequer beber água devido à falta de estrutura acessível", relatou.

Panfleto de conscientização sobre acessibilidade, apelidado como "multa moral" (Foto: Mylena Fraiha)
Panfleto de conscientização sobre acessibilidade, apelidado como "multa moral" (Foto: Mylena Fraiha)

Em seu ativismo diário, conforme ela mesma destaca, Glaucia carrega sempre consigo um folheto de conscientização, que funciona como uma espécie de “multa moral”. "Sempre mantenho esses folhetos de multa moral comigo e os utilizo, principalmente, quando me deparo com situações de veículos estacionados em rampas. Essa ocorrência é bastante frequente, especialmente na região central de Campo Grande", relata.

Apesar dos avanços nas discussões e na garantia de direitos, a funcionária pública destaca que o preconceito e a falta de compreensão em relação às necessidades das pessoas com deficiência ainda persistem.

Um tempo atrás, as pessoas com deficiência eram consideradas pessoas incapazes, que não tinham atividades em lugares além da sua casa. Só que a realidade é outra. As pessoas com deficiência estão em todos os lugares. O que a gente precisa é de adequações nos lugares, para poder viver de forma igualitária", explica Glaucia Lopes.

Além disso, Glaucia ressalta que a busca por acessibilidade não é apenas uma necessidade pessoal, mas uma luta por igualdade. "As adequações não beneficiarão somente a mim, mas também a outras pessoas com mobilidade reduzida ou temporariamente limitada. A acessibilidade é um direito que deve ser assegurado a todos".

Em sua cadeira de rodas motorizada, Glaucia se locomove sozinha até o ponto de ônibus na avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)
Em sua cadeira de rodas motorizada, Glaucia se locomove sozinha até o ponto de ônibus na avenida Cônsul Assaf Trad (Foto: Mylena Fraiha)

Melhorias - A reportagem entrou em contato com a Prefeitura para saber se há previsão de fiscalizar e buscar uma solução para as irregularidades encontradas na região do bairro Morada do Sossego. Entretanto, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto.

O Consórcio Guaicurus também foi acionado pelo Campo Grande News, para saber quantas vagas são disponibilizadas nos ônibus da Capital. De acordo com a assessoria, todos os ônibus da frota têm acessibilidade e que a demanda por vagas será verificada por um técnico da empresa.

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