Defesa leva “diplomas de herói” à Justiça, mas PM suspeito de tráfico fica preso
Para juíza, caso “é extremamente grave” e prisão foi mantida para que PM não atrapalhe investigações
A defesa do 2º-sargento Laércio Alves dos Santos, de 48 anos, preso por envolvimento com quadrilha de traficantes na sexta-feira (21), depois que o colega dele de batalhão, o cabo Almir Figueiredo Barros Junior, foi morto em confronto, apresentou à Justiça os “diplomas de herói” do cliente. Além disso, pedido de liberdade, protocolado às 22h50 deste sábado (22) fala da “boa conduta” do PM ao longo de seus 26 anos de carreira. Mas, as alegações não foram suficientes para tirá-lo da cadeia.
No fim da manhã deste domingo (23), ele passou por audiência de custódia, para verificar a validade da prisão. A juíza de plantão, May Melke Amaral Penteado Siravegna, não só validou o flagrante como decidiu mantê-lo preso por tempo indeterminado (prisão preventiva).
Para a magistrada, “o caso em exame é extremamente grave, seja pela quantia de droga apreendida, seja pela organização e atuação dos envolvidos, e principalmente pela participação do autuado, PM, com a função de dar segurança à operação e escoltar a droga ao seu destino”. “A gravidade da conduta do autuado se eleva sobremaneira, ante seu dever de preservação da ordem pública, e portanto sua inobservância, assim como o ferimento a preceitos morais e éticos vinculados à conduta do policial militar, importam até mesmo na indignidade do cargo”, completou.
A magistrada justificou que manter o sargento na cadeia é necessário para “garantir a ordem pública, abalada pela prática do delito por quem deveria, ao contrário, reprimi-lo”. Há ainda a possibilidade do PM atrapalhar o inquérito que ainda vai responder. “Em liberdade, sendo policial militar, poderá interferir e se valer de tal condição para a completa investigação dos fatos delituosos. Portanto, converto a prisão em flagrante em prisão preventiva”.
Laércio Santos optou pelo silêncio em solo policial. Acompanhado do advogado Marcos Ivan, na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Cepol (Centro Especializado de Polícia Integrada), na manhã de sábado (22), não respondeu às perguntas do delegado Lucas Caires. Disse somente ser casado, ter três filhos menores e vestir a farda militar há duas décadas.
Na ficha de antecedentes, o PM tem passagens por falsificação de documento público, abuso de autoridade e trocar socos com outro militar durante briga de trânsito. Já cumpriu todas as condenações.
A defesa do sargento informou à Justiça, porém, que o cliente “é tecnicamente primário e portador de bons antecedentes haja vista que não possui nenhuma condenação criminal, logo não há risco à ordem pública se colocada em liberdade”.
“O acusado, em 26 anos de carreira militar, possui um currículo memorável, não tendo qualquer envolvimento com o crime, este fato além de isolado, também será provado sua inocência em momento oportuno, conforme extrai-se do próprio Boletim de Ocorrência e do Auto de Prisão em Flagrante, o Acusado não foi preso portanto qualquer droga ou até mesmo junto com os demais envolvidos”, também argumentou o advogado Douglas Barros de Figueiredo.
Homenagens – O sargento Laércio já foi homenageado pela Câmara de Campo Grande e Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul). Em fevereiro de 2019, por resgatar avó e neta de incêndio em um caminhão usado como bilheteria de circo que estava instalado no Los Angeles. Apesar do susto, nenhuma das duas sofreu ferimentos. "Congratulamos pelo seu ato de bravura e altruísmo", diz a moção da Câmara. Por este ato, também foi parabenizado na Assembleia.
Já em 2021, recebeu parabéns das Casas de Leis por salvar crianças de um apartamento em chamas, no Bairro Pioneiros, na Capital.
Entenda – Laércio Santos (preso) e Almir Barros (morto) são apontados como integrantes de uma quadrilha de traficantes, que sequestrou motorista de um caminhão para roubar 90 quilos de maconha na tarde desta sexta, em Campo Grande. O plano, descoberto pela Inteligência da Polícia Militar, terminou em troca de tiros e duas mortes.
Os fatos ocorreram depois que o Batalhão de Choque recebeu informação de que um caminhão com droga acessaria a Capital através da BR-262 e a carga seria roubada por um grupo rival. Então, militares da inteligência se posicionaram na região do Indubrasil para vigiar os suspeitos e viram a aproximação de um caminhão azul, sendo seguido de perto por um Toyota Corolla.
Na Rua Barra dos Bugres, os ocupantes do carro sinalizaram para que o motorista do caminhão parasse, o que foi feito. Na sequência, o condutor foi retirado do caminhão e colocado em um veículo sedan branco. Então, o veículo de carga seguiu conduzido por outra pessoa e escoltado pelo Corolla.
Segundo o boletim de ocorrência, caminhão e Toyota seguiram até uma chácara na Rua Cláudio Augusto, na Vila Romana. Lá, cinco suspeitos passaram a cortar a lataria do veículo de carga e foi o momento que o Choque decidiu abordá-los. Contudo, todos correram para a vegetação ao redor. Dois deles foram cercados e, de acordo com o Choque, resistiram com armas de fogo.
"Que não restou alternativas aos policiais, se não o também emprego de armas de fogo para neutralizar a injusta agressão desencadeada pelos marginais". Os dois foram socorridos em estado grave e morreram antes de chegar na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Santa Mônica. Eles foram identificados como Jorcinei Junior Sabia Gil da Silva e o cabo da PM, Almir Figueiredo. Duas armas de fogo foram apreendidas com eles.
O sargento foi surpreendido próximo a BR-262 e acabou preso. Ele é o dono do Corolla que escoltou o caminhão. O resto do bando conseguiu fugir.
A droga foi encontrada em um compartimento do caminhão e no estepe, totalizando 90 quilos, em embalagens com etiqueta com a palavra "oferta". A polícia disse que o motorista do caminhão, supostamente sequestrado, não foi encontrado até o momento.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.