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Capital

Durante inspeção federal, polícia é acionada para investigar cárcere em clínica

Responsáveis pelo local foram levados para delegacia e familiares chamados para retirar pacientes

Por Ana Paula Chuva e Geniffer Valeriano | 25/10/2024 16:03
Movimentação em frente à clínica durante ação policial nesta tarde (Foto: Paulo Francis)
Movimentação em frente à clínica durante ação policial nesta tarde (Foto: Paulo Francis)

Durante inspeção na Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, a equipe do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) precisou acionar equipes da Polícia Civil e da Defensoria Pública após suspeita de cárcere privado, lesão corporal e sequestro no local, que fica na Chácara dos Poderes, em Campo Grande. O flagrante aconteceu na tarde desta sexta-feira (25).

Conforme informações iniciais, a equipe que faz parte do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania está em Mato Grosso do Sul fazendo as inspeções regulares em alguns locais e hoje esteve na clínica, que já havia sido denunciada por algumas situações.

Quando os servidores federais chegaram ao local, encontraram uma situação mais grave do que imaginavam e então decidiram acionar a equipe da 3ª Delegacia de Polícia Civil. Duas defensoras públicas acompanharam a ação. Perícia criminal e um fiscal do Conselho de Farmácia também estiveram na clínica e apreenderam algumas medicações.

Perito fiscalizando medicações encontradas no local (Foto: Divulgação | MNPCT)
Perito fiscalizando medicações encontradas no local (Foto: Divulgação | MNPCT)

Os responsáveis pela clínica foram encaminhados para a delegacia para prestar depoimento e alguns dos internos que eram mantidos no local contra sua vontade, ou seja, em cárcere privado, foram liberados. Equipes do Conselho Regional de Psicologia, do Conselho Estadual de Direitos Humanos e da Secretaria de Assistência Social também acompanharam a ação.

Ao Campo Grande News, o familiar de um dos pacientes da clínica contou que o homem de 32 anos deu entrada no local de forma compulsória em janeiro deste ano e, para que ele permanecesse em tratamento, foi preciso pagar R$ 1.870,00 de matrícula e depois cerca de quase R$ 3 mil por mês com mensalidade, cantina e medicações.

“Ele teve problemas com álcool e drogas, foi feito contrato de seis meses e depois renovaram por mais três meses. Tivemos o primeiro contato depois de 30 dias da internação e depois de 45 dias a primeira visita. Depois podíamos ver ele uma vez por mês só”, contou o familiar que terá a identidade preservada.

Durante as visitas, o paciente contava aos familiares que se alimentava apenas de arroz e macarrão e tomava muitos remédios que o deixavam em estado vegetativo. Ele chegou a relatar que apanhava quando não lavava a louça e chegou a ter o braço queimado com cigarros uma vez.

"Falta higiene, más condições de dormitórios, ausências de reuniões. Os internos ficam lá ociosos sem fazer nada para a recuperação. Visam apenas dinheiro dos familiares. O espaço é pequeno para a quantidade de internos que eles têm lá", relatou outro familiar.

A reportagem esteve na clínica na tarde de hoje e foi informada que o local segue funcionando e que emitiriam uma nota para falar sobre a situação. Também foi feito contato com um telefone encontrado na internet, mas ainda não houve retorno. O espaço segue aberto.

Bolhas no braço do paciente que seriam de queimaduras de cigarro (Foto: Direto das Ruas)
Bolhas no braço do paciente que seriam de queimaduras de cigarro (Foto: Direto das Ruas)

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