Sucesso em acolhimento esbarra em desejo de continuar morando nas ruas
De 497 moradores de rua abordados este ano, apenas 261 aceitaram ser "resgatados" e outros 236 negaram o apoio
De 497 pessoas abordadas nas ruas de Campo Grande pelo serviço de acolhimento da prefeitura, quase metade (236) nega o auxílio e prefere permanecer como andarilho. Já quem aceita, recebe acompanhamento psicossocial, além de, quando necessário, tratamento para se livrar do vício em drogas.
Segundo a prefeitura, através do PAIC (Programa de Ação Integrada e Continuada), iniciado em 2018, 68 pessoas fizeram o tratamento de dependência química e o número de comunidades terapêuticas parceiras também ampliou, passando de cinco para sete. Ao todo, 821 pessoas já foram atendidas, sendo que 450 foram qualificadas profissionalmente e outras 23 concluíram o EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Entre as histórias de sucesso, está a de Lucas Milani, que ficou em uma Casa de Acolhimento até conseguir mudar de vida. “Sou feliz, porque hoje tenho um trabalho, graças ao acolhimento que tive. Fiz cursos no local e fui encaminhado para o mercado de trabalho. Hoje, pago meu aluguel, minhas contas e minha comida”, ressaltou.
Quem está no mesmo caminho é Elton de Oliveira Barros, 29 anos, que passou por um plano tratamento de 7 meses em comunidade terapêutica. “Fui usuário de drogas desde os meus 14 anos. Fui praticamente jogado neste mundo. Lançado nos braços das drogas”, relatou.
Mas emocionado, ele lembra como foi seu recomeço. “Através do convênio, eu fiquei em tratamento na Comunidade Terapêutica Jaboque. Lá, tive cursos de informática, cursos de horta e ainda fui encaminhado para entrevistas de emprego com toda a minha documentação pronta para o mercado de trabalho”, contou.
Recuperado, ele reforça a importância do tratamento psicológico. “Pra gente, não é fácil. E mesmo durante o período de pandemia, eu pude ter uma nova perspectiva de vida. Além dos cursos profissionalizantes, eu tive acompanhamento psicológico. Saí de dentro da comunidade terapêutica graças a ajuda de todos, psicólogos e terapêuticos, e sem uso abusivo de medicamentos. E agora já estou sendo encaminhado para o mercado de trabalho, algo realmente inédito na minha vida”, finalizou.
Segundo a Coordenadora do projeto, Barbara Cristina Rodrigues, mesmo neste período de pandemia não houve interrupção nos atendimentos, sempre respeitando as normas de segurança. Inclusive, durante a pandemia a procura aumentou bastante e a prefeitura, em parceria com as sete comunidades conveniadas, têm tentado atender essa população.
Na rua - No entanto, esbarra, muitas vezes, na negativa dos próprios moradores de rua, que não querem ser acolhidos. A coordenadora do Centro Pop (Centro Especializado para População em Situação de Rua), Maria do Carmo de Oliveira, acredita que muitas vezes, o vício e a dependência das drogas são o que impede a não aceitação do acolhimento.
Ronaldo Antônio Pereira, é um deles, e parte de sua história foi mostrada no Campo Grande News aqui. Ele vive há seis anos debaixo de uma das pontes localizadas na BR-262, saída para Três Lagoas.
“Das 497 abordagens realizadas, 236 não aceitaram ajuda”, exemplificou, explicando que “sempre realizamos novas abordagens e os que aceitam acolhimento, recebem material de higiene pessoal, atendimento médico e psicológico. Não tem como não se emocionar com o trabalho que está sendo realizado”, conta.
O trabalho é frequente e a chamada abordagem social é feita nas sete regiões da cidade. A equipe, formada por psicólogos e assistentes sociais, busca resgatar vidas e dar um novo direcionamento para quem vive nas ruas e perdeu a esperança e a dignidade.