Traficante desde os 11 anos, adolescente sonha com vida nova durante brincadeira
Com redução da pandemia, equipe da Unei Dom Bosco organizou atividades destinadas aos internos
Por ser um local relacionado à retirada da liberdade, quem olha a Unei (Unidade Educacional de Internação) Dom Bosco pelo lado de fora pode imaginar que o local seja cinza por dentro. Algo como uma prisão. Na tarde desta terça-feira (23), o espaço mais parecia um ambiente escolar e, durante ação social com brincadeiras, um dos internos resumiu que se lembrar de como é ser adolescente faz com que liberdade e nova vida voltem a ser sonhos.
Devido à pandemia de covid-19, parte das ações socioeducativas realizadas nas unidades da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) foram pausadas ou alteradas e, agora estão sendo retomadas com cursos e momentos de lazer. Internado na Unei Dom Bosco há quatro meses, José (*), de 17 anos, narrou que a falta de liberdade se intensificou com o coronavírus.
“Foi um período ruim porque não tinha como a gente brincar. Nosso banho de sol é uma hora, mas a gente soube levar a cadeia porque, querendo ou não, estamos aqui para pagar os nossos atos”, diz.
Com pés no chão e uniforme da SED (Secretaria Estadual de Educação), José contou que se envolveu com tráfico de drogas aos 11 anos. Durante esta terça-feira, se lembrando de como é “brincar”, ele explicou que tem voltado a sonhar com nova vida.
José diz que conheceu as drogas na escola e, logo que se aprofundou no novo caminho, abandonou a educação. “Comecei a usar maconha na escola, fui ver e entrei no crime. Sai de casa e minha mãe sempre ficou atrás de mim, mas eu não queria saber de nada”.
Sobre a Unei, ele relata que voltou a estudar e, agora, consegue voltar a pensar em algum futuro. “Eu perdi minha liberdade, perdi tudo. Você começa a ter as coisas e na hora que vai ver, tá preso. Agora tô estudando o 9º ano e já sou tio, quero sair daqui”, explica.
Ação socioeducativa - “Eles desacreditam em si mesmos, então estamos dando oportunidade para que eles vejam que existem outras possibilidades”. Agente de segurança socioeducativa, Rosilaine Arruda foi uma das organizadoras da atividade social com os adolescentes da Unei Dom Bosco nesta terça-feira (23).
De acordo com Rosilaine, lazer e práticas de esportes fazem parte da reeducação dos internos.
Estamos proporcionando que eles possam ter opção de escolher os caminhos, diz Rosilaine.
Diretor adjunto da unidade, Jair da Costa Carvalho explicou que oferecer brincadeiras e momentos de descontração é entendido como uma possibilidade de mudança. “Eles estão brincando, expondo artesanato. São jovens de 14 a 20 anos que estão aqui e como qualquer outro jovem têm necessidades de acesso à informação, lazer, cultura e esporte”.
Sobre a reeducação, Carvalho diz que a ação executada pela equipe também envolve a sociabilidade entre os internos, “Eles se aproximam e isso diminui a questão de conflitos. Damos mais segurança aos jovens, melhorando a autoestima. Essas atividades os fortalecem, fazendo com que suportem a carga que é estar em privação de liberdade”.
(*) O nome foi alterado para preservar a identidade do adolescente e da família.