Após operação da PF, fazendeiros registram B.O sobre queimadas
Os boletins de ocorrência começaram a ser registrados na segunda-feira (14) e ajudam a traçar o caminho da destruição do fogo
Em dois dias, pelo menos quatro boletins de ocorrência foram registrados para denunciar incêndios em propriedades rurais de Corumbá – cidade a 419 quilômetros de Campo Grande. Os relatos de fazendeiros e funcionários, entre eles figuras conhecidas por serem alvos de operações da Polícia Federal, acontecem em meio a ações para descobrir os responsáveis pelas chamas que devastam o Pantanal.
Os boletins de ocorrência começaram a ser registrados na segunda-feira (14) e também ajudam a traçar o caminho da destruição na região pantaneira. O primeiro, relata um incêndio nas margens do Rio Paraguai, que se espalhou e atingiu a Fazenda Otilia, localizado na região do Porto da Manga.
A área que integra a Estrada-Parque do Pantanal, é consumida pelo fogo há vários dias. Relatório do Ibama, divulgado no dia 28 de agosto, apontou que foram queimados cerca de 1.600 hectares de vegetação. O responsável por denunciar o caso nesta semana, um homem de 77 anos, não soube dizer a polícia a causa das chamas, mas contou que os focos de incêndio recomeçaram no dia 11 de setembro.
Nesta terça-feira (15), outras duas pessoas procuraram a 1ª Delegacia de Polícia Civil da cidade para registrar os incêndios nas propriedades rurais.
Se apresentando como contador e representante do dono, o pecuarista, empresário e delator na operação Lama Asfáltica, Ivanildo da Cunha Miranda, de 62 anos, declarou que as chamas de outras propriedades do pantanal atingiram a área do cliente e consumiram aproximadamente 4 mil hectares de pastagens e vegetação nativa de três fazendas vizinhas: a Uval, a Santa Amália e a São Bento, todas na Região do Paiaguás.
Ivanildo foi essencial para as investigações que resultaram na 5ª fase da Operação Lama Asfáltica, denominada Papiros de Lama. Nela, foram presos o ex-governador André Puccinelli (PMDB), o filho dele André Puccinelli Júnior e outras duas pessoas, supostamente envolvidas em um esquema de propinas que soma R$ 235 milhões.
Também nesta terça-feira, o proprietário da Fazenda Saran, em Corumbá, narrou à polícia a tentativa de combate as chamas dentro de sua propriedade. Segundo o homem de 62 anos, uma equipe da Prevfogo avisou sobre o incêndio, que teria começado na Fazenda Otilia e se espalhado pela região. Por conta disso, precisou retirar 1200 cabeças de gados às pressas do pasto.
Os animais foram alojados em um “um pequeno piquete ao lado da sede”. Ao todo, mais de 1100 hectares de pastagem nativa, incluindo três invernadas, foram destruídas. O fogo chegou a ser controlado pelos brigadistas, mas com o vento forte, reacendeu no dia seguinte. A propriedade fica a cerca de 45 quilômetros da BR-262.
Na tarde desta quarta-feira (16), outra figura conhecida foi até a polícia por conta dos incêndios no Pantanal. Sônia Oliveira Rodrigues, de 55 anos, esposa do pecuarista Élvio Rodrigues, alvo da Operação Vostok da Polícia Federal, procurou a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro, contou que o fogo invadiu sua propriedade no dia 11 de setembro e consumiu todo o pasto.
Sônia é proprietária da Fazenda Santa Mônica, área que por dois anos foi motivo de discussão na justiça de Mato Grosso do Sul em processo de autorização ao desmatamento de 20.526 hectares no Pantanal. A ação foi impedida após manifestação do Ministério Público Estadual, que considerou o risco de dano permanente aos corredores ecológicos usados por animais de várias espécies em extinção na região.
Para a polícia, a pecuarista afirmou que desde o dia 7 de setembro os funcionários que trabalham em sua fazenda ajudam no combate as chamas de todas as propriedades do entorno. Relatou ainda que ontem, um dos vizinhos chegou a avisar sobre um novo incêndio, mas recusou auxilio.
Operações – Apesar dos incêndios castigarem a região há dias, os registros começaram após operações policiais para se descobrir se as chamas foram resultado da ação humana e quem são os responsáveis pelo crime. Nesta semana, duas ações são realizadas em Corumbá, uma coordenada pela Polícia Federal e outra por órgãos ligados ao Governo de Mato Grosso do Sul.
Na segunda-feira (14), equipes da Polícia Federal cumpriram oito mandados de busca e apreensão em Corumbá e Campo Grande durante investigações sobre as queimadas. Os alvos foram cinco fazendeiros do Pantanal, que não tiveram os nomes divulgados, mas possuem propriedades exatamente nas áreas em que os incêndios que devastam a área começaram.
As propriedades foram identificadas após análise de imagens de satélite e sobrevoo das áreas queimadas. Assim, foi possível identificar o início e a evolução diária dos focos de incêndio. Durante a operação, as fazendas dos cinco investigados foram periciadas e funcionários ouvidos sobre a situação.
Além disso, duas casas foram alvos de busca na cidade. Em uma delas, os policiais encontraram três armas – duas pistolas e um revólver – além de 108 munições de calibre permitido e 44 de calibre restrito, sem registro. Por isso o proprietário foi preso em flagrante por porte ilegal de arma. O dano ambiental apurado pela Polícia Federal supera mais de 25 mil hectares do bioma pantaneiro, aproximadamente 25 mil campos de futebol.
Nas primeiras horas desta quarta-feira (16), profissionais do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), soldados do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, agentes da Polícia Civil e da Perícia Técnica da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), deixaram a Capital com objetivo de fiscalizar 35 fazendas nas regiões do Nabileque e Nhecolândia.
A ideia da Operação Focus também é fazer levantamento da área queimada com base em imagens de satélites e assim, verificar indícios da origem das chamas. Uma das hipóteses para a origem dos incêndios é a perda de controle das queimadas autorizadas.
Ao Campo Grande News, o delegado Alan Wagner Nascimento Givigi, da Polícia Federal, afirmou não ser possível confirmar uma ligação entre a operação e os registros policiais, no entanto, destacou os benefícios de se “mapear” os pontos de incêndio e sua origem a partir das denúncias.
“Pode ser que após a operação perceberam a necessidade de registram e procuram a polícia. Diagnosticar, a partir dessas denúncias, pode ajudar no combate ao fogo, é um bom caminho., explicou. Em relação a Operação Matáá, detalhou ainda que as investigações continuam e que espera a conclusão dos laudos periciais nos documentos e celulares apreendidos, além das analises feitas nas propriedades alvos das ações de segunda-feira.