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Interior

Após violência e êxodo, “xerife” impõe paz à cidade ao fechar bares às 20h

Aliny Mary Dias, de Sete Quedas | 08/10/2013 07:17
Depois das 20 horas, cidade fica deserta e poucos moradores saem de casa (Foto: João Garrigó)
Depois das 20 horas, cidade fica deserta e poucos moradores saem de casa (Foto: João Garrigó)
Após violência e êxodo, “xerife” impõe paz à cidade ao fechar bares às 20h

Toda cidade que faz fronteira seca com o Paraguai vive dias de insegurança pela dificuldade em localizar bandidos que praticam crimes no Brasil e fogem para o país vizinho. Em Sete Quedas, a 404 quilômetros de Campo Grande, a história se repetia até o fim do ano passado, quando um delegado tomou as rédeas da cidade e o cenário se transformou.

A cidade se transformou em uma “ilha da paz” da região sul, já que nos municípios vizinhos o tráfico de drogas, cigarro, crimes de pistolagem, homicídios e contrabando são comuns. A mudança foi tão grande que de janeiro a outubro desse ano Sete Quedas registrou dois homicídios, três roubos e um disparo de arma de fogo.

Há pelo menos cinco anos, a cidade viveu uma onda de roubos a caminhonetes que deixou Sete Quedas sem nenhuma para contar história. Diante da situação, moradores acostumados a deixar os carros destrancados nas ruas começaram a mudar o hábito e o medo imperou no município. A criminalidade foi tanta que de 1996 ate este ano, a cidade perdeu 36% da população, muitos foram embora por conta da insegurança.

Considerado pela maioria dos 10.873 mil moradores como o responsável por trazer paz para a cidade, o delegado Rinaldo Gomes Moreira assumiu o comando da Polícia Civil em janeiro deste ano.

Charrete circula em meio aos carros no centro da cidade (Foto: João Garrigó)
Charrete circula em meio aos carros no centro da cidade (Foto: João Garrigó)

“Eu tenho costume de fazer esse trabalho nas cidades do interior onde eu assumo. Em Sete Quedas fizemos o mesmo e começamos a controlar a diversão noturna”, conta o delegado, que ressalta a importância do trabalho em conjunto com a Polícia Militar.

Uma fiscalização intensa em bares que costumavam passar a madrugada abertos foi feita no início do ano e aqueles que não possuíam alvarás, situação comum em cidades do interior, foram obrigados a restringir o horário de funcionamento.

Rinaldo explica que o motivo da atitude considerada polêmica por moradores de grandes centros se justifica em razão da aglomeração de pessoas de má índole nos bares. “Existem os que só estão lá para beber, mas muitos se juntavam nesses locais e os índices de criminalidade eram altos”, afirma.

Com a prisão de uma quadrilha especializada em roubos de carro no início do ano e a fiscalização nos bares, Sete Quedas ganhou de volta a paz e a característica de cidades interioranas. “As únicas duas mortes desse ano foram de uma dupla de assaltantes que agiam na cidade. Depois disso, estamos há mais de seis meses sem registrar nenhum roubo”, comemora o delegado.

Silvio vive há 30 anos na cidade e gosta da vida que leva (Foto: João Garrigó)
Silvio vive há 30 anos na cidade e gosta da vida que leva (Foto: João Garrigó)

Vida de interior – Com a calmaria e segurança por toda a cidade, os setequedense vive a rotina de moradores do interior. Silvio Marques, 76 anos, vive há 30 anos no município e acompanha de perto a transformação.

“Aqui já foi muito violento. As caminhonetes, principalmente S10, sumiram da cidade. Hoje está tudo mais calmo e a gente pode deixar a chave no contato do carro que não tem perigo de roubo”, conta o aposentado.

Diferente de outras cidades do mesmo porte, Sete Quedas tem o comércio distribuído em algumas ruas. Não há a aglomeração em uma única via. Quem tem lojas e criou os filhos com o fruto do trabalho diz querer viver o resto da vida no município.

“Meus dois filhos foram criados com o que eu consegui vivendo em Sete Quedas. É um lugar muito tranquilo e calmo para viver, bastante diferente de outras cidades”, afirma Adão Mendes, 43 anos, e dono de uma farmácia, um laboratório e de propriedades rurais na cidade.

Além dos adultos, os jovens também declaram a paixão pela cidade. Guilherme Sebastiani tem 21 anos e é sócio-proprietário de uma loja especializada em venda de produtos agrícolas. Assim como muitos moradores, os pais de Guilherme vieram do Paraná e se instalaram em Sete Quedas.

Guilherme tem 21 anos e não se rende aos encantos da cidade grande (Foto: João Garrigó)
Guilherme tem 21 anos e não se rende aos encantos da cidade grande (Foto: João Garrigó)
Casas com arquitetura moderna chamam a atenção (Foto: João Garrigó)
Casas com arquitetura moderna chamam a atenção (Foto: João Garrigó)

Para o jovem, o local é seguro e uma boa opção para criar os filhos. “Eu já tenho um filho e sem dúvidas a cidade é uma boa opção para a vida dele. Eu adoro viver aqui e não trocaria por São Paulo ou Rio de Janeiro”, afirma Guilherme.

A arquitetura de algumas casas da cidade impressiona. Os moradores dizem que a maioria pertence a fazendeiros e comerciantes bem-sucedidos. Em uma das casas, o acabamento é tão bem feito que até o muro de tijolos deu lugar ao vidro blindex.

Comércio de fronteira – De um lado Sete Quedas e de outro Pinoty Porã, distrito da cidade paraguaia Corpus Christi. Muitos não sabem, mas Ponta Porã não é a única cidade com comércio paraguaio a poucos passos de quem vive no Brasil.

Smartphones podem custar até 50% a menos que o preço no Brasil (Foto: João Garrigó)
Smartphones podem custar até 50% a menos que o preço no Brasil (Foto: João Garrigó)

Na Avenida Internacional, que separa os dois países, as lojas imponentes e o comércio de produtos importados chamam a atenção. Cristiane Seibt, 26 anos, é proprietário de uma das maiores lojas do distrito.

Assim como em outras lojas, qualquer um que tiver dólar, real ou guarani ou possuir cartão de crédito internacional pode adquirir produtos até 50% mais baratos do que o valor praticado no Brasil. Os comércios são mantidos 100% por brasileiros.

A dona conta que os produtos são adquiridos em Ciudad del Este e os preços e variedades são melhores se comparados aos de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã.

“Todos nossos produtos são comprados em Ciudad e é tudo muito melhor. Os preços são mais baixos e a variedade impressiona”, conta a jovem. Com o dólar acima dos R$ 2 nos últimos meses, o movimento do comércio enfraqueceu, mas em uma sexta-feira de manhã é fácil encontrar consumidores afoitos por produtos baratos.

Eletrônicos e "bugigangas" paraguaias estão disponíveis por preço baixo (Foto: João Garrigó)
Eletrônicos e "bugigangas" paraguaias estão disponíveis por preço baixo (Foto: João Garrigó)

Há mais de 18 anos com loja na fronteira, Silvana Ceratti, 36 anos, vive do lado paraguaio com o marido e afirma que toda a economia do distrito é mantida pelos brasileiros. “Nós vendemos para muitos parentes de quem mora em Sete Quedas, por não ser uma cidade de passagem, o nosso público fica mais restrito”, conta a empresária.

O comércio de pneus é um dos maiores atrativos de Pinoty Porã. Valdemar Ferreira, 40 anos, é dono de uma das lojas da linha internacional e diz que os preços valem à pena. “Depende muito do dólar, mas temos pneus com 60% de desconto”, completa o comerciante.

Para quem escolheu Sete Quedas para viver ou está na cidade pelas “circunstâncias da vida” o sentimento é de segurança e felicidade em morar na cidade. “Eu já morei em São Paulo, mas hoje estou feliz por viver em Sete Quedas, não pretende sair daqui tão cedo”, conta Thiago Valles Mendes, 24 anos.

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