Por diárias ilegais, vereador mandava assessor sumir até do Facebook
Além de extorquir o prefeito Léo Mattos (PV) para aprovar projetos de interesse do Executivo e cobrar propina de empresários para “facilitar” o andamento de documentos geralmente travados pela burocracia, os vereadores de Naviraí, cidade a 366 km de Campo Grande, também tinham um esquema para receber diárias da Câmara sem sair da cidade. Para oficializar o golpe, eles e os assessores ficavam “escondidos” até das redes sociais.
Em uma das conversas gravadas pela Polícia Federal durante a Operação Atenas, o vereador afastado Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, pede para o assessor “desaparecer”, não atender telefone, não assinar documento e nem acessar o Facebook. No fim de semana o PT suspendeu a filiação de Cicinho, que permanece preso junto com outros quatro vereadores, três assessores e a mulher dele, Mainara Santos.
“... Pode ser observado nitidamente como funciona o esquema das diárias. Ocorre quando o servidor recebe o valor pela viagem informada, sem, entretanto, realizá-la. Para isso Cícero dos Santos atua como mentor do grupo e orienta como seu assessor deve agir para parecer que está viajando para Campo Grande, juntamente com o próprio Cicinho: 'Saímo' hoje, ‘voltamo’ amanhã! resolve tudo que tem que resolver aí e amanhã de manhã você some!", afirma relatório da Polícia Federal com a transcrição das escutas feitas com autorização judicial ao qual o Campo Grande News teve acesso.
Em outro trecho da gravação, o assessor Tiago Caliza da Rocha, que também está preso. “Tiago tem dúvidas quanto ao dinheiro da diária e pergunta: ‘mas isso aqui, você quer pra você?’ Cícero diz que não e completa: ‘a boquinha é sua’. Pelo breve trecho, pode-se sugerir que é possível que Cícero apodere-se ou reclame para si, parte ou todo dinheiro proveniente das diárias pagas irregularmente a outros funcionários”, afirma o relatório.
Na conversa, Cícero orienta o assessor sobre como proceder para não levantar suspeitas de que se trata de diária fraudulenta. "Pra todos os efeitos a saída é hoje e o retorno, amanhã. Pra todos os efeitos saímos hoje, pousamos em Campo Grande hoje”.
Além de Cicinho do PT, estão presos o vereador e advogado Marcus Douglas Miranda (PMN), Adriano José Silvério (SDD), vereador mais votado da cidade, a vereadora e policial civil aposentada Solange Olímpia de Castro Melo (Pros) e Carlos Alberto Sanches (SDD), o Carlão. Os assessores da Câmara Wagner do Nascimento, Rogério dos Santos Silva e Tiago Caliza da Rocha e a mulher de Cicinho do PT, Mainara Gessika Malinski dos Santos, são os outros quatro presos.