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Em Pauta

A arte de enganar eleitores mudando nomes dos partidos

Mário Sérgio Lorenzetto | 31/08/2017 06:53
A arte de enganar eleitores mudando nomes dos partidos

Mudar de nome não é pecado. Nem vergonha. Mas pode ser falta dela. É o caso da avalanche de mudanças de nomes de partidos na política brasileira. Das quase três dezenas de partidos com assento no parlamento nacional, mais da metade têm como objetivo - declarado e despudorado - infiltrar-se nas entranhas dos governos e trocar cargos, honrarias e muito mais pelo peso de seus votos sem uma gota sequer de motivação ideológica ou programática.
Como esses sistema, apodrecido mas longe de extirpado, ficou exposto em carne viva, parcela importante da população ganhou aversão aos partidos - e à palavra "partido". Não importa qual partido, todos estão no mesmo rol de figuras indesejáveis.
Vai daí, percebendo essa realidade indesejável, as lideranças dos partidos contrataram os nefastos marqueteiros - aquilo que há de pior na política nacional - que transformaram o PTN em Podemos, o PSDC em DC, o PT do B em Avante, o PSL em Livres e o PEN em Patriotas. O PMDB também cogita voltar ao passado e retirar o "P" de "Partido". Acreditam que o retorno ao que havia de melhor na época de MDB, a cara e a atuação de Ulisses Guimarães, pode transformar sua imagem rota e encardida. Nomes com melhor sonoridade, cópias de partidos italianos e espanhóis que obtiveram sucesso e, logo a seguir, definharam. Os marqueteiros são tão preguiçosos que não criam, copiam... e faturam milhões Os partidos brasileiros estão mudando de nome para que o passado sombrio se perpetue.

A arte de enganar eleitores mudando nomes dos partidos

Devemos ser intolerantes com os intolerantes? A apatia é perigosa.

Em Boston as igrejas têm faixas na entrada dando boas vindas aos imigrantes e refugiados. A cidade é diversa e acolhedora, casa de tantos imigrantes brasileiros e de outras partes do mundo. Só isso explica como uma manifestação de ativistas da extrema direita reuniu apenas 40 pessoas - mas do outro lado apareceram 40 mil contra manifestantes. Os 40 eram neonazistas, membros da KKK e da "altright", um eufemismo simpático para a extrema direita. Assim como "supremacistas" não passam de racistas, tentando o disfarce.
O Facebook, Twiter e YouTube apressaram-se a expurgar qualquer indício de neonazistas e supremacistas, depois de muito tempo fingindo que eles não existiam. O site "Daile Stormer" teve de se refugiar na Rússia depois de ser expulso de todos os lados nos EUA devido a suas matérias de extrema direita. Muitos participantes dessa área ideológica, que estiveram em Charlottesville, estão sendo identificados e demitidos de seus empregos ou expulsos de suas comunidades. Na era de Trump, todas as facetas nazistas consideraram que podiam assumir-se publicamente. Tal como no Brasil, sempre influenciado pelas ondas norte-americanas.
Eis o grande dilema dos liberais do mundo: devem defender a tolerância a todo custo, mesmo quando isso abre as portas para fenômenos perigosos como os neonazistas e similares, ou ser intolerantes perante os intolerantes? Devem deixar que eles façam suas manifestações, que recrutem mais elementos para suas "lutas", ou pôr-lhes uma rolha como fizeram os alemães, indo contra os princípio da liberdade de expressão que está plasmado nas leis e no espírito liberal?
A escolha é difícil e controversa. A liberdade de expressão têm limites? Os ataques e incidentes racistas dispararam no mundo, inclusive no Brasil, desde a ascensão de "Heil Trump", como o glorificam os neonazistas. Os eventos trágicos que dispararam em Charlottesville, com mortes, são um aviso ao mundo. Devemos deixar que a história de Hitler seja repetida? No polo contrário, retirar a liberdade dos neonazistas não é o primeiro passo para a destruição das liberdades democráticas? As eleições de 2018, no Brasil, mostrarão quadro similar de intolerância, essa doença da democracia já foi gestada e está vindo à luz.

A arte de enganar eleitores mudando nomes dos partidos

O primeiro debate presidencial exibido ao vivo pela TV.

Foi em um 26 de setembro, no já longínquo 1960 que digladiaram-se os candidatos John Kennedy e Richard Nixon. Esse debate provou a força da TV nas eleições e pulverizou a do rádio. Quem ouviu, deu vitória a Nixon, quem viu deu a JFK.
Jovem, católico e quase desconhecido, quando o senador John F. Kennedy chegou aos estúdios da CBS tinha pouco a seu favor frente a um experiente vice-presidente Nixon. Mas quando saiu, após quase uma hora de embates, JFK era uma estrela. Nixon não soube cuidar da imagem, pensava como nos passado, na importância dos debates nas rádios, estava suado, amarfanhado e visivelmente abatido (saíra de uma hospitalização). Kennedy, ao contrário, estava bronzeado, exibindo seu corpo atlético e tomara cuidado com a roupa. Nixon não imaginava que naqueles anos mais de 88% da população dos EUA tinha televisão em suas residências. Foi derrotado.
Passou mais de meio século mas a influência desse frente-a-frente ainda se faz sentir. Os programas eleitorais tornaram-se caros - extremamente dispendiosos - e elegeram presidentes nos EUA e no Brasil que, logo após, foram contestados por seus eleitores. O charlatanismo televisivo foi disseminado. Ainda não encontraram o remédio que curasse esse mal que corrói a democracia.

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