A pequena filosofia dos pássaros. Aceitar nossa fragilidade
Na vida dos pássaros, como na nossa, se produzem todos os tipos de acontecimentos que constituem pequenas mortes e renascimentos. A muda, por exemplo. Perder a plumagem para adquirir uma mais bonita é um pouco como aprender a renovar-nos todos os anos, ainda que tenhamos de passar por uma fase difícil para consegui-lo.
Para renascer.
Para poder renascer, é necessário que deixemos morrer uma pequena parte daquilo que somos. É o que faz um pássaro quando muda sua plumagem, com a nova, torna-se resplandecente de saúde. Para ele é vital, já que não poderia voar sem uma plumagem em perfeito,Estado. Também é para nós. Nossa incapacidade de mudar, de livrar-nos do passado, com demasiada frequência nos impede avançar.
Um período muito delicado.
Na ave, a época de muda, de mudança da plumagem é um período muito delicado. Às vezes, momentaneamente, não pode voar. Então dizemos que tem uma "plumagem de eclipse". Uma bonita expressão para designar o momento em que a ave fica um pouco isolada das demais. Sabe que é frágil, opta pela discrição, não empreende nada importante. Tem paciência. Espera que se produza a renovação, para recuperar toda sua força, toda sua beleza. Esse deve ser nosso comportamento.
Sem descanso, não podemos eclipsar.
Em uma sociedade que nos empurra sem descanso para sermos eficientes, desaprendemos de como eclipsar. Perder o tempo, que algumas vezes necessitamos, durante alguns períodos mais frágeis de nossas vidas. Quantas vezes ouvimos durante um período de dor "A vida continua". Mas não, a vida não continua igual depois de uma dor intensa como a perda de pais ou irmãos. Ou como a demissão de um trabalho que adoramos. É certo que a vida nos aportará novas alegrias, novos encontros, mas porque não querem nos conceder algum tempo para a tristeza desaparecer. Para que possamos mudar. Como os pássaros.