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Em Pauta

A vida com uma bolsa presa na tripa

Mário Sérgio Lorenzetto | 02/05/2019 06:35
A vida com uma bolsa presa na tripa

Uma bolsa presa na barriga salva sua vida. Ela tem apenas 35 anos. Vive há oito anos com uma ostomia, uma abertura artificial no abdômen conectada a um dispositivo para recolher resíduos biológicos. Mas essa bolsa que lhe salva a vida, também é um estigma. É por isso que prefere não divulgar seu nome. Sofre de agorafobia, só sai de sua casa para ir ao médico ou fazer as compras.
No Brasil há mais de 100 mil ostomizados. De acordo com a Associação Brasileira dos Ostomizados - ABRASO - só 35 mil deles são atendidos pelas redes de saúde dos governos municipais e estaduais, os demais tem de se virar sozinhos, ou seja não recebem nem mesmo uma bolsa coletora. É como se não existissem para os governantes.

A vida com uma bolsa presa na tripa

Sem banheiro público não há como sair de casa.

Em uma cidade que não sabe o significado de banheiro público, a imensa maioria dos ostomizados torna-se prisioneiro de suas casas. Temem a fuga de fezes ou de urina e não há um banheiro adaptado para a manutenção das bolsas que determinam seus movimentos. "O medo absoluto que temos é da fuga de fezes", diz nossa entrevistada e complementa: "já cansamos de pedir na Secretaria Municipal de Saúde para disponibilizar banheiros públicos com uma mesa para a limpeza das bolsas, mas não nos ouvem". Ela anda com uma mochila. Compras? Não. Leva bolsas de reposição, discos que prende na barriga, cremes e medicamentos para dores crônicas e uma garrafa de água para não desidratar-se. Ela conta que uma amiga leva bem menos materiais. Sente uma pequena inveja. A amiga leva tudo que necessita em uma necessaire e não sente dores.

A vida com uma bolsa presa na tripa

Descriminados nos banheiros para incapacitados.

"Quando conto que estou ostomizada, sempre estranham, pensam em pessoas idosas como se fossem as únicas a andarem com uma bolsa presa na tripa". "Somos incapacitados de segunda porque ninguém nos dá importância", afirma ela.
Lamenta ter de dar explicações quando entra em um banheiro para pessoas com incapacidade e assegura que, mais de uma vez, criaram confusão por entrar nesse tipo de banheiro. "Mas quero continuar vivendo. Bem ou mal, quero a vida".

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