Aparecida do Taboado, a fronteira do país rico com o pobre
Há muitos estudos sobre a fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Conta-se nos dedos de uma mão as pesquisas históricas sobre uma fronteira tão ou mais importante, aquela que o Rio Paraná nos separa de São Paulo. Para ser mais exato, a nossa fronteira com o Oeste paulista. A fronteira que separa dois mundos: um riquíssimo e outro pobre. Como essa diferença foi construída? Essa é uma história, pouco conhecida, que pode ser compreendida estudando a cidade de Aparecida do Taboado. Ou melhor, decantando o Porto de Taboado, que deu origem à cidade.
A Estrada Boiadeira.
Nada menos de 80.000 cabeças de gado passavam pelo Porto do Táboado anualmente no inicio do século passado. Saiam dos longínquos Pantanal e dos Campos da Vacaria. Ao contrário do que conta a musica, a Comitiva Desesperança levava a boiada. Era uma viagem difícil e perigosa. Não havia caminho melhor que passar pelo chamado Porto do Taboado para atravessar o caudaloso (naquela época) rio Paraná. Em qualquer outro ponto, o risco de perdas de bois, burros e cavalos tornava quase proibitiva a passagem. Entre as duas margens, do MS e de SP, havia uma grande ilha. Bastavam alguns minutos de nado para chegar a essa ilha e tomar um fôlego. De uma margem a outra são apenas 800 metros.
A Estrada do Taboado.
Com o crescimento da movimentação do gado, em 1.906, o governo paulista planejou a construção de uma estrada ligando ao Porto do Taboado, em MS, as cidades paulistas de Jaboticabal e São José do Rio Preto. Essa estrada recebeu o nome de Estrada do Taboado. Por ela, mercadorias paulistas como: fumo, cereais, cachaça e, principalmente, café chegavam ao Mato Grosso do Sul custando ordinariamente quatro vezes mais. Era um lucro fabuloso. Do MS saia apenas o gado magro, quase raquítico, comprado pelos paulistas a preço vil. É esse comercio, de resultados extremamente desiguais, que enriquecerá o Oeste paulista e deixará o MS na situação de pobreza em que vivia antes dessa estrada ser aberta. No lado do Mato Grosso do Sul, essa estrada continuo sendo uma trilha aberta a golpes de facão.
Quando Porto não é porto.
Quando escrevemos Porto de Taboado não entenda um lugar onde existisse alguma obra humana. Não havia um cais, um píer, nem um lugar construído para atracar barcos ou passar boiada. O porto de antigamente, em qualquer lugar do MS, era apenas uma prainha, de areia ou de terra.
Quando peão boiadeiro tem medo de vaca.
Imaginem mil vacas caminhando lentamente. Saindo de algum lugar próximo a Miranda e chegando à atual Aparecida do Tabuado. São 661 quilômetros separando as duas cidades. Nos melhores dias, a Comitiva Desesperança percorre 18 quilômetros. Mas esses dias são raros. Um pio de uma ave desconhecida do gado, um urro distante de onça, basta para promover o “estouro da boiada”, o maior temor do peão boiadeiro. Alguns deles morrem atropelados. É uma viagem do medo. Basta um burro ver uma carcaça de outro para que jogue o peão longe. E essa era a montaria preferencial dos peões. Havia também, muitos conflitos com os fazendeiros por onde o gado passava. Em São Paulo, chegavam a cobrar para que o gado passasse por suas terras.
O Porto pariu a cidade.
O Porto de Taboado, sem duvida alguma, foi o mais importante do MS durante meio século. Foi ele que pariu o primeiro frigorífico do Oeste Paulista, localizado em Barretos, para onde o gado de MS passou a ser levado. Também foi esse porto que gerou a primeira povoação, como ponto de pouso e de hospedagem dos peões boiadeiros. Atribui-se a Antônio Leandro de Menezes a doação das terras onde se formaria esse povoado, conhecido inicialmente como “Córrego do Campo”, para, em seguida, passar a ser denominado de Aparecida do Taboado. Antônio Leandro pagava uma promessa à sua santa de devoção pela cura de um filho, doando as terras e construindo uma igrejinha. Sem dúvida alguma, o Porto pariu a cidade.