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Em Pauta

Aparecida do Taboado, a fronteira do país rico com o pobre

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 29/08/2024 10:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Há muitos estudos sobre a fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Conta-se nos dedos de uma mão as pesquisas históricas sobre uma fronteira tão ou mais importante, aquela que o Rio Paraná nos separa de São Paulo. Para ser mais exato, a nossa fronteira com o Oeste paulista. A fronteira que separa dois mundos: um riquíssimo e outro pobre. Como essa diferença foi construída? Essa é uma história, pouco conhecida, que pode ser compreendida estudando a cidade de Aparecida do Taboado. Ou melhor, decantando o Porto de Taboado, que deu origem à cidade.


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A Estrada Boiadeira.

Nada menos de 80.000 cabeças de gado passavam pelo Porto do Táboado anualmente no inicio do século passado. Saiam dos longínquos Pantanal e dos Campos da Vacaria. Ao contrário do que conta a musica, a Comitiva Desesperança levava a boiada. Era uma viagem difícil e perigosa. Não havia caminho melhor que passar pelo chamado Porto do Taboado para atravessar o caudaloso (naquela época) rio Paraná. Em qualquer outro ponto, o risco de perdas de bois, burros e cavalos tornava quase proibitiva a passagem. Entre as duas margens, do MS e de SP, havia uma grande ilha. Bastavam alguns minutos de nado para chegar a essa ilha e tomar um fôlego. De uma margem a outra são apenas 800 metros.


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A Estrada do Taboado.

Com o crescimento da movimentação do gado, em 1.906, o governo paulista planejou a construção de uma estrada ligando ao Porto do Taboado, em MS, as cidades paulistas de Jaboticabal e São José do Rio Preto. Essa estrada recebeu o nome de Estrada do Taboado. Por ela, mercadorias paulistas como: fumo, cereais, cachaça e, principalmente, café chegavam ao Mato Grosso do Sul custando ordinariamente quatro vezes mais. Era um lucro fabuloso. Do MS saia apenas o gado magro, quase raquítico, comprado pelos paulistas a preço vil. É esse comercio, de resultados extremamente desiguais, que enriquecerá o Oeste paulista e deixará o MS na situação de pobreza em que vivia antes dessa estrada ser aberta. No lado do Mato Grosso do Sul, essa estrada continuo sendo uma trilha aberta a golpes de facão.


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Quando Porto não é porto.

Quando escrevemos Porto de Taboado não entenda um lugar onde existisse alguma obra humana. Não havia um cais, um píer, nem um lugar construído para atracar barcos ou passar boiada. O porto de antigamente, em qualquer lugar do MS, era apenas uma prainha, de areia ou de terra.


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Quando peão boiadeiro tem medo de vaca.

Imaginem mil vacas caminhando lentamente. Saindo de algum lugar próximo a Miranda e chegando à atual Aparecida do Tabuado. São 661 quilômetros separando as duas cidades. Nos melhores dias, a Comitiva Desesperança percorre 18 quilômetros. Mas esses dias são raros. Um pio de uma ave desconhecida do gado, um urro distante de onça, basta para promover o “estouro da boiada”, o maior temor do peão boiadeiro. Alguns deles morrem atropelados. É uma viagem do medo. Basta um burro ver uma carcaça de outro para que jogue o peão longe. E essa era a montaria preferencial dos peões. Havia também, muitos conflitos com os fazendeiros por onde o gado passava. Em São Paulo, chegavam a cobrar para que o gado passasse por suas terras.


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O Porto pariu a cidade.

O Porto de Taboado, sem duvida alguma, foi o mais importante do MS durante meio século. Foi ele que pariu o primeiro frigorífico do Oeste Paulista, localizado em Barretos, para onde o gado de MS passou a ser levado. Também foi esse porto que gerou a primeira povoação, como ponto de pouso e de hospedagem dos peões boiadeiros. Atribui-se a Antônio Leandro de Menezes a doação das terras onde se formaria esse povoado, conhecido inicialmente como “Córrego do Campo”, para, em seguida, passar a ser denominado de Aparecida do Taboado. Antônio Leandro pagava uma promessa à sua santa de devoção pela cura de um filho, doando as terras e construindo uma igrejinha. Sem dúvida alguma, o Porto pariu a cidade.

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