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Em Pauta

As aventuras do conde Azambuja nas matas do MS

Mário Sérgio Lofrenzetto | 02/04/2022 09:35
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Um punhado de farinha e um pedaço de cobra. No cotidiano sertanejo e predador dos paulistas que vinham para o MS, o cavalo foi quase desconhecido, mesmo porque era uma região de cobertura vegetal muito densa. Vinham descalços, esparramando, como os índios, toda a planta dos pés ao andar e virando um pouco para dentro, o que diminuía o cansaço. Sempre faltavam provisões, passavam os dias com tudo que a espingarda conseguia abater. Cobras, lagartos, frutas bravas e raízes de vários paus, avançavam nas roças indígenas e em suas colmeias. Caminhavam pelo mato como se estivessem nas ruas de S.Paulo.


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Poucos dias de mantimentos.

Nas canoas, único meio de transporte, levavam feijão, farinha, toucinho e "algumas galinhas para os doentes". A dieta ambicionada era de caça de patos-bravos, perdizes, mútuns, veados, pacas, capivaras gordas (as magras provocavam diarreias), jaús e dourados. Arroz só era encontrado no Pantanal. E de lá também saiam palmitos que lembravam castanhas, eram socados e comidos em mingau. Não lhes faltavam jenipapos, mas lhes sobrevinha prisão de ventre terrível.


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Uma sucuri por companhia.

Pousava-se onde dava. A preferência era por prainhas, mas sempre podiam acordar com uma sucuri como companheira. Dormiam em redes, mas estas não bastavam para enfrentar os mosquitos e as chuvas fortes. Era preciso recolher ao mosquiteiro, adaptação das camas da cidade com cortinado. Não poucas vezes dormiam encerrados na areia para escapar das flechadas do "gentios", como denominam os indígenas.


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Olha a aranha!

Como as canoas roçavam nos paus e ramos ribeirinhos, que chegavam a fazer um teto sobre os rios, toda a "porcaria e bicharia" existente neles era arremessada para dentro das embarcações. Familiarizavam com as aranhas que a todo instante caiam. De noite e de dia diferentes tipos de pernilongos não cessavam de picar, provocando bolhas. Certos vermes picavam a pele e nela introduziam um "bicho gadelhudo". Havia carrapatos em bolas do tamanho de nozes, pendendo das folhas. Tinham muito medo de onças e de qualquer cobra que subisse nas redes. Varriam o chão sob elas.


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O conde de farda e chapéu de plumas.

Em 5 de agosto de 1.754, d.Antonio Rolim de Moura, conde de Azambuja, deixou o porto de Araritaguaba, em S.Paulo. Seguiam com ele 190 homens. A comitiva foi bem descrita pelo autor em uma "Relação", destacando as insígnias do status. Conta-nos que seguia na primeira canoa "muito bem vestido com farda azul, e chapéu de plumas todo agaloado". Os demais iam vestidos com um calção e um barrete. Atrás, ia a canoa dos padres, acompanhada de perto pela dos "oficiais de sala", pela dos criados e, por fim, pelas de carga. Nelas embarcaram 1.130 sacos de mantimentos. Fechava o cortejo fluvial a canoa encarregada de nunca deixar para trás embarcação alguma. Essa "Relação "é riquíssima na descrição da fauna. O pouso que mais mau humor despertou no fidalgo foi um aguapé do Pantanal. Vale ainda ressaltar que Azambuja é uma pequena vila próxima a Lisboa.

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