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Em Pauta

Bispos em guerra com a reforma da Previdência

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/05/2017 08:07
Bispos em guerra com a reforma da Previdência

Só fanáticos duvidam da necessidade de uma reforma da Previdência. Todavia, paira no ar muitas suspeitas de que a equipe econômica possa estar manipulando dados sobre o tamanho do déficit do sistema previdenciário.

A falta de transparência dos números é a razão central alegada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para se posicionar contrária à reforma. "Não é possível encaminhar solução de assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e contraditórias", diz a nota da entidade cuja divulgação, na missa dominical, tem aterrorizado os aliados da base governista.

Pelo menos metade das informações do "Portais da Transparência" são um amontoado de inutilidades, o que a população deseja saber permanece fechado a sete chaves: como funcionam as planilhas que reajustam os preços das passagens de ônibus, quais os postos de combustíveis cobram a gasolina mais barata, onde estão os médicos dos postos de saúde, onde ocorrem as rondas policiais, quantos alunos existem em cada sala de aula... Enfim, tudo que a população necessita conhecer é escondido, especialmente os números da previdência.

Bispos em guerra com a reforma da Previdência

Papa Francisco e as reformas de Temer.

No Brasil discute-se - e até houve uma greve prolongando um dos muitos feriadões - uma reforma trabalhista e outra da previdência. Em relação a primeira, a ideia é que em um país onde existem 16.293 sindicatos em nome da flexibilização e do desentupimento dos tribunais, as negociações passem a ser feitas diretamente entre patrão e empregado e não legisladas com base na CLT, um conjunto de 900 artigos poeirentos aprovados há 74 anos, ou seja, na era Getúlio Vargas.

Sobre a segunda, o que se defende hoje no Brasil é o que se defendeu na Europa nas últimas décadas - que, dada a falência iminente do sistema previdenciário, a idade de reforma comece a ser baseada nisso mesmo, na idade, e não em tempo de contribuição. Para evitar, portanto, que milhões de brasileiros continuem, como até agora, a aposentarem com pouco mais de 50 anos porque a lei pede apenas 30 anos (para as mulheres) e 35 anos (para os homens) de contribuição para que vistam o sonhado pijama.

Em um primeiro olhar, não há como não dar razão ao governo Temer: urge reformar as relações laborais e o sistema previdenciário em nome de uma agilidade econômica que a oitava economia do mundo teima em não ter.

Mas, os olhos não devem mirar tão somente o que está posto no debate atual. Em um país com desigualdades pornográficas, só levemente atenuadas nas últimas décadas de democracia; em um país onde os mais ricos, e portanto parcela importante dos empresários que as reformas pretendem ajudar, são protegidos com benefícios, anistias e dinheiro governamental barato, como em quase em nenhum outro país; em um país onde apenas 39% dos brasileiros vive com esgoto tratado e que, ao ritmo atual, só em 2144 a universalização do esgoto estará concluída, as reformas de Temer soam que estamos construindo uma casa iniciando pelo teto e não pela base. Mas tudo é questão de prioridade.

Sim, são importantes as reformas, principalmente para nos dar esperança de termos mais empregos em curto espaço de tempo, mas Papa Francisco indicou o melhor caminho: "Não se pode deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções fáceis e superficiais para crises". Só faltou incluir os desempregados em sua orientação.

Bispos em guerra com a reforma da Previdência

O discurso de Deus antes da criação do mundo.

Ambição para seus seguidores. Arrogância para detratores. O fato é que sob os canhões de Napoleão, um filósofo alemão ousou discutir "O discurso de Deus antes da criação do mundo". Georg Wilhem Friedrich Hegel viveu uma época de renovada força do pensamento filosófico. Hegel estudou em um seminário e dá lá saiu para debater as ideias de Kant, o filósofo mais importante de sua época. Seus pensamentos criaram uma legião de seguidores.

Diziam que a Via Láctea tem o tamanho de um verme. O nosso pensamento é o do verme. Já Hegel, vivia sentado na Ursa Maior, e desde essa constelação, via o cosmo em sua totalidade. Foi Hegel quem enunciou que um mundo sem deuses necessitava de uma voz humana de condição divina. Foi ele que se propôs a escrever "O discurso de Deus antes da criação do mundo". Para seus seguidores, conseguiu.

Depois de Hegel, um de seus alunos, Karl Marx, desejou prolongar a audácia hegeliana, lançando o céu no asfalto. Seu fracasso, se pode sentir, até hoje, em nosso cotidiano. Restou o fanatismo e a violência. Não percebem que pavimentam o caminho de seus opostos...

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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