Camapuã, terra dos seios bonitos e de fala portuguesa
Antes de Camapuã, as terras do Mato Grosso do Sul falavam espanhol. A palavra "Camapuã" é de origem indígena e quer dizer "seios bonitos". Nunca saberemos se todas as mulheres de Camapuã tinham belos seios, a relação da palavra vem da existência de dois morros cuja geomorfologia lembra a forma de seios. Inicialmente, Camapuã foi uma fazenda para hospedar paulistas. Criada em 1.728 e situada às margens de um ribeirão de mesmo nome, era lá que chegavam centenas de canoas de São Paulo. Era uma enorme fazenda com, aproximadamente, 50 casas cobertas de sapê.
Depois de três meses, enfim, um banho.
Renovavam as energias e o estoque de viveres, depois de três meses de viagem. Despiam-se pela primeira vez, e podiam, caso desejassem, gozar as delícias de um banho. Muitos achavam que banhar-se era um exagero, preferiam o "comedimento do tradicional lava-pés". Era um lugar descrito como aprazível e de amenidade climática. Os carros de boi eram poucos e os animais, mal alimentados, eram lerdíssimos, tornando morosa a condução de cargas. Mas plantavam e criavam "capados e galinhas, fabricavam-se, para uso local, panos toscos, redes e louças".
Os ataques indígenas.
Os ataques dos Caiapós, índios que viviam nos rios, sacudiam vez por outra o torpor de Camapuã. Em 1.730, queimaram as casas e roças. Na mesma ocasião, os Caiapós uniram-se aos Gualachos e destruíram a fazenda Cajuru, que havia antecedido Camapuã, mas não tinha a mesma importância. Os índios eram chamados de "piratas" e, por causa deles, os habitantes de Camapuã viviam como em presídio. Armas sempre nas mãos, mesmo quando trabalhavam a terra. Caminhavam somente em pares, ainda que fosse tão somente para buscar água que tinham ao lado das casas.
Enormes canoas.
Centenas de paulistas chegavam a Camapuã todos os anos. Vinham em enormes canoões que eram toscamente lavrados com o fogo. O comprimento ia de 12 a 15 metros e acomodava grande número de pessoas, que viajavam comprimidas. Na traseira das canoas havia um toldo de linho ou de cânhamo com muitas cores.
Chapelões e botas altas.
Os canoões desembarcam os passageiros. Deles, saia uma turba de barbudos, rudes e troncudos, gente habituada às labutas da agricultura. Vestiam-se de couro, cobriam-se com chapelões quebrados na testa. Estavam metidos em botas altas ou calçavam sapatos grosseiros. Havia os que usavam "avarcas", um tipo de sandália que deixa os dedos descobertos, sobre elas, prendiam couros amarrados entrelaçados até os joelhos. Usavam calções, presos nos joelhos com laçarotes e enfeites. Raramente aparecia alguém da elite paulista. Esses, tinham o rosto barbeado e cobriam-se de perucas empoadas e encaracoladas, que ficavam abaixo de pequenos chapéus, de bicos. Além desses tipos, que abundavam, viam-se os clérigos, vestidos de negro, com suas batinas justas e luzidas de mistura com essa turba, distinguiam-se algumas mulheres. Poucas, era um mundo de homens.
As ruínas de Camapuã.
Quem ensina é o emérito professor da UFMS Gilson Martins. Essa fazenda, fundamental para entendermos nossa história, não tem continuidade com a atual cidade que leva o mesmo nome. Apenas localizam-se no mesmo espaço geográfico. O município atual teve sua origem em 1.921, quando foi fundada uma fazenda na área próxima às ruínas da fazenda Camapuã original.