Chatô, o canalha poderoso da história do Brasil
Odiar a Rede Globo e Roberto Marinho. Esse é o único ponto de encontro entre a esquerda e a direita brasileira. Não sabem o que era viver sob a egide de Assis Chateaubriand, o Chatô. Os historiadores são unânimes, Chatô foi o homem mais poderoso da história brasileira. Teve uma influência enorme na política, na economia e na cultura de seu tempo, a ponto de seu biógrafo, Fernando Morais, batizar seu livro de "Chatô, o rei do Brasil". Nenhum exagero.
O poder corrompe.
Poucos sabem quem foi John Emerich Edward Dalberg-Acton, historiador que lecionou em Cambridge. Mas todo mundo conhece sua frase famosa: "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente". O magnata das comunicações Assis Chateaubriand foi muitas vezes descrito como o melhor exemplo dessa frase.
O primeiro magnata do jornalismo.
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892 - 1968), ou simplesmente Chatô, tornou-se célebre porque foi o primeiro grande empresário do jornalismo brasileiro. Foi ele que construiu a modelagem para sobrenomes como Bloch, Civita e Marinho pontificarem em jornais, revistas, rádios e televisão.
Um gago constrói um império.
Chateaubriand foi um garoto tímido e gago. Só foi alfabetizado aos 10 anos de idade. Cursou direito, mas logo se aproximou do jornalismo. Em 1919 já era chefe de redação do Jornal do Brasil. Em cinco anos havia adquirido "O Jornal" que se torna a base de um império que foi denominado de "Diários Associados", com 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, a revista mensal "A Cigarra" e a semanal "O Cruzeiro", a grande publicação do fotojornalismo que chegou aos 700.000 exemplares por semana.
Criador da televisão.
Chatô é o pai da televisão brasileira. Foi ele que criou a TV Tupi em 1950. Com profundo senso comercial, Chateaubriand apostou no novo meio de comunicação quando ainda não existiam televisores no país. Na transmissão inaugural, espalhou 200 aparelhos que havia importado pelo saguão do prédio da emissora e em vitrines das principais lojas de São Paulo. Para não pagar impostos na compra de toda a aparelhagem da TV Tupi, usou sua influência junto ao governo. Prática que se tornaria rotineira em sua longa carreira. Usava de pressões, chantagem e extorsões para lograr seus interesses.
Somos canalhas.
Nem mesmo Getúlio Vargas, a quem Chatô só chamava de ditador e a quem, em diversos momentos, fez oposição, conseguia se livrar dessa figura truculenta. "No fundo, Getúlio Vargas gostava de mim porque eu era um canalha igual a ele", disse Chatô.
O caso do arcebispo que cometeu estupro contra a própria irmã.
A canalhice de Chatô é lendária. Um arcebispo de Minas Gerais, irritado com uma crônica de Rubem Braga sobre Nossa Senhora, conclamou os fiéis a deixarem de ler "O Estado de Minas", um dos jornais de Chateaubriand. O rei do Brasil reagiu imediatamente. Mandou publicar uma reportagem sobre um suposto estupro cometido pelo arcebispo contra a própria irmã. O constrangido editor do jornal, argumentou que não podia imprimir tamanha violência porque o religioso não tinha irmã. Chatô respondeu: "Cabe a ele provar que não tem irmãs!"