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Em Pauta

Doce, inesperada e longínqua história do açúcar

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/11/2022 06:20
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Por milhares de anos, aquilo que chamamos "açúcar" continuou desconhecido para o homem. Nenhum dos livros antigos o menciona. Não aparece na Bíblia, no I Ching, no Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo e nem no Corão. Mas a cana já era conhecida. Na Antiguidade era uma preciosidade importada de longe e extremamente cara. Nada sabemos do uso que davam à cana, além de oferecê-la em sacrifício aos deuses. É bem possível, mas não temos certeza, que tenha sido a Índia o longínquo país de onde veio a cana-de-açúcar.


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Tal como neve.

Na Índia antiga, as vacas sagradas devem tê-la mascado. Os indianos passaram a cultivá-la em suas terras, e, por sua doçura, devem ter começado a chupá-la. A cana "era cultivava com grande esforço pelos homens, que a esmagavam, quando madura, num almofariz e colocavam o suco em um recipiente, até que adquirisse a forma sólida, tal como neve ou sal branco". Comiam com mingau. Mais tarde, começaram a espremer a cana e beber o suco.


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Sem nome para gregos e romanos.

"Um tipo de mel", foi assim que o açúcar foi descrito pela primeira vez pelo comandante Niarchos, um grego das tropas de Alexandre, o Grande. Nos documentos romanos aparece comparado ao mel e ao sal. "Sal indiano" ou "mel sem abelhas", importado em pequenas quantidades e a preços elevadíssimos, era como o romano Plinio, o Velho, o registrou. Era usado como um medicamento, assim como o mel. Coube a um anônimo escritor romano, do tempo de Nero, registar seu nome latino: "saccharum", de onde vem sacarose.


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A grande transformação feita pelos iranianos (Pérsia).

Atribui-se à Escola de Medicina e Farmacologia da Universidade de Djondisapour, uma das mais fantásticas escolas de medicina da Antiguidade, conhecida como a "Pérola da Pérsia", a pesquisa e desenvolvimento de um processo de solidificação e refino do suco de cana, dando-lhe uma forma sólida, que poderia ser estocada sem que fermentasse. Transporte e comércio tornavam-se assim possíveis. Isso ocorreu aproximadamente 600 anos depois de Cristo.


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Os muçulmanos levaram o açúcar para o mundo.

Como todos os impérios, o Império Persa teve sua ascensão e queda. Quando as armas dos muçulmanos o devastaram, um dos troféus da vitória foi a posse do segredo do processamento da cana em "medicamento", em açúcar. Logo, assumiram o controle de todos os negócios do saccharum. Omayyad Caliph Walid II, filho do califa que venceu todas as lutas de conquista levadas pelos islâmicos, desenvolveu um gosto especial por bebidas açucaradas. Seus exércitos passaram a levar consigo os grãos de arroz da Pérsia e as mudas de cana-de-açúcar. O mundo começou a se apaixonar por tudo que fosse doce. Um vicio infinitamente superior a qualquer outra droga.

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