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Em Pauta

Funciona pagar fazendeiros para que não desmatem?

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 02/12/2023 07:30
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O governo do Estado acaba de enviar à Assembleia Legislativa um projeto que pretende coibir o desmatamento do Pantanal. No geral, é uma tentativa de acordo entre entidades representativas de fazendeiros e ambientalistas. Vale repetir: uma tentativa. A maior discussão está centrada na ideia de construir uma premiação àqueles que desejarem deixar de desmatar. O texto não deixa claro se serão premiados aqueles que não desmatam há anos, ou para os que estavam desmatando até 2023 e desejam parar suas atividades anti-ambientalistas.


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Inferno está cheio.

Está bem. É um início. Tem boas intenções, mas todos sabem do velhos adágio: "o inferno está cheio de bem intencionados". Só há uma maneira de começar corretamente: copiar a experiência de quem estuda esse tipo de ação governamental. Não há no mundo uma entidade que tenha o conhecimento do "Instituto Florestal Europeu". Sven Wunder, seu presidente, tem 20 anos de acompanhamento da eficácia desse tipo de experiência. Trabalha no Brasil, Uganda, Peru, Equador, Colômbia e Indonésia.


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Copiam a ciência médica.

Diz Sven Wunder: "Nos inspiramos em como se comparam diferentes tratamentos na ciência médica, comparando uma área que recebe determinado "tratamento" com uma de controle que não recebe". É o chamado ensaio controlado aleatório. Traduzindo: acompanham com censos agrícolas e imagens de satélite fazendeiros que recebem a premiação e outros, que nada recebem, mas são vizinhos.


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O caso brasileiro.

Um exemplo de acompanhamento é o projeto Trans-Amazon" na Amazônia brasileira. Um grupo de fazendeiros selecionados de forma não aleatória recebe pagamentos pelos serviços ambientais de manter intactas suas matas. Os vizinhos não receberam pagamentos, só assistência técnica. No início, entrevistavam constantemente aqueles que recebiam pagamentos e dois grupos - sem pagamento - de controle. Para escolher, observaram que tivessem tamanho de fazendas similares, lucros semelhantes, mesma distância da estrada e mercados. As avaliações demonstraram que os que receberam pagamentos efetivamente reduziram o desmatamento. O resultado conservacionista foi o desejado.


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121 aldeias de Uganda.

Estudaram os efeitos de pagamentos em 121 aldeias de Uganda. O estudo está publicado na revista "Science de 2017". É um trabalho bem mais amplo e profundo que o brasileiro. Das 121, 60 aldeias receberam pagamentos. Ficou cabalmente demonstrado que conservaram suas matas muito mais que as demais. Esse estudo teve muito impacto.


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Entra no jogo o Banco Mundial.

Uma vez finalizado o projeto em Uganda, o Banco Mundial fez um estudo de seguimento. Concluiu que assim que pararam de pagar, os desmatamentos retornaram no mesmo ritmo de antes. Mas isso não eliminou a perda de árvores que foi evitada no período dos pagamentos. Então, quando deixarem de pagar, o problema não terá sido eliminado, mas pelo menos foi mitigado durante a duração do projeto. Em outro raciocínio: o projeto não educa, mas conserva enquanto existir.
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