Nasce a polarização política: guelfos contra gibelinos
Desde Roma Antiga, a política tinha muitas vertentes, muitas correntes de pensamento. As então chamadas “facções” digladiavam entre si buscando o poder. Raramente ocorriam polarizações. Quando ocorriam, eram momentâneas e não ensejavam correntes de pensamento, foram pragmáticas. Tudo mudou no século XII.
A origem alemã.
Na origem, tratava-se de uma disputa entre os partidários do Papa - os guelfos - e os partidários dos reis, alemães e italianos - os gibelinos. Surge na região entre a fronteira alemã com a Áustria e, desta, com a Itália. A mesma que criaria, séculos depois, um monstro chamado Adolf Hitler. Mas, por lá, não vicejou, teve curta existência. A força e importância só surgiria na Itália. E da península italiana, serviria de modelo para a Europa toda. Esta é uma história do nascedouro da atual polarização entre esquerda e direita.
“Partes“ de guelfos ou de gibelinos
Ainda não existia a palavra “partido”, mas a usada não estava muito distante. Diziam que pertenciam “à parte de guelfos ou de gibelinos”. Vestiam-se de maneira diferente, comportavam-se de maneira diferente e, diziam, que cortavam uma fruta também de maneira diferente. Procuravam distinguir-se, uns dos outros, de todas as maneiras imagináveis. Não a toa, temos um Brasil dividido entre o vermelho e o amarelo, apenas um eflúvio da Itália medieval. Ruas, bairros e cidades podiam ser guelfos ou gibelinos. Ou então, cidades e regiões inteiras de uma das “partes”. Mas, o mais interessante, eram as ruas onde um lado inteiro era guelfo, e o lado em frente era gibelino. Algo como o Brasil dividido entre um Centro-Oeste unido ao Sul amarelo e o Norte e Nordeste vermelhos. Lembram-se dos Montecchio e Capuleto, os rivais de Romeu e Julieta, em Verona, pois bem, era uma disputa entre guelfos e gibelinos. Uma disputa, dentre muitas outras, fratricida. Muito sangue correu nas guerras entre as duas “partes”.
Guelfos anti-imperialistas, gibelinos eram contra o Papa.
Uma senhora guelfo jamais falaria bem do Papa. O mesmo vale para uma senhora gibelino, nunca elogiaria um rei. Os gibelinos eram republicanos, antimonarquistas. Já os guelfos, defendiam o que chamavam de “direito das pessoas”, ainda não existia um direito internacional. O mais famoso guelfo, Dante Alighieri, proclamava que o mundo deveria ser governado por uma monarquia universal. Eram os primórdios do capitalismo, que só nascerá efetivamente no século XVI.
Nobres e plebeus.
Os estratos mais ricos das cidades tendiam estar com os guelfos, tal como os plebeus, que desejavam manter a independência das delas. Gibelinos eram mais rurais, mais fidalgos, ou, como os historiadores dizem: mais feudais, mas, lembrem-se, eram republicanos. Havia muitas exceções. Existiam nobres e plebeus de um lado e do outro, mesmo que fossem contra seus interesses mais imediatos. A polarização obrigava a identificação por um lado ou outro, mesmo que fosse contra o interesse de cada pessoa. Florença era uma cidade guelfa. Siena era gibelina. Gênova mantinha um equilíbrio, seu poder era determinado por oito guelfos e oito gibelinos. O mesmo valia para as cidades que estavam sob a esfera de influência de Gênova, como a distante Criméia, onde, hoje, disputam o poder a Rússia e a Ucrânia.