"Nobres" do Brasil não foram convidados para coroação de Carlos III
Os jornais nacionais noticiaram o óbvio: a "nobreza" brasileira não foi convidada para a festa inglesa de coroação do rei Carlos III. Essa possibilidade nunca existiu. Os ingleses em geral, inclusive seus nobres, não suportam a família real brasileira e a da Bélgica desde a época da abolição da escravatura. A campanha inglesa abolicionista foi centrada contra a realeza brasileira e belga. Pedro II, do Brasil e Leopoldo II, da Bélgica, que explorava a escravidão no Congo, eram os mandatários mais odiados na Europa.. Homens notadamente cruéis no trato e na tortura de escravos, foram eliminados de qualquer relacionamento com as famílias reais europeias. Ficaram tão isolados que só mantinham relações entre si. Seus filhos e filhas não conseguiam casar com nenhum nobre europeu, tiveram de constituir matrimônios somente entre brasileiros e belgas. Também não se pode esquecer que a marinha inglesa bombardeou o Porto de Paranaguá, no Paraná, exigindo de Pedro II o fim da escravidão. Em suma, Pedro II e Leopoldo II eram tão mal vistos no século XIX, quanto são Hitler e Stálin nos dias atuais.
Propaganda inglesa: pelourinho, maçã da morte e navio negreiro.
A propaganda abolicionista inglesa, feita não só nos jornais, mas em panfletos distribuídos de casa em casa, mostrava a crueldade de Pedro II e Leopoldo II utilizando imagens dos pelourinhos brasileiros, de uma arma de tortura inventado pelos belgas denominada "maçã da morte" e navios negreiros. O pelourinho era um poste colocado nas praças das principais cidades para prender escravos, acoitá-los e até mesmo enforcá-los. A maçã da morte belga era um instrumento metálico de tortura com o formato de uma maçã que, uma vez colocada e presa na boca do escravo, disparava finas agulhas que perfuravam várias partes da boca, prendendo o instrumento no palato e na bochecha. Os navios negreiros carregavam escravos deitados e presos por correntes durante toda a viagem, matando muitos deles. Além de incomensuravelmente burro, era um filme de terror.
Do abolicionismo ao movimento sufragista.
Apesar de na época as mulheres não terem direito ao voto, foram peça-chave na luta inglesa abolicionista. Além de contribuírem com as dezenas de comitês oficiais contra a escravidão, elas fundaram suas próprias instituições, denominadas "Sociedades Femininas". Um nome que deve ser sempre lembrado é o de Elisabeth Heyrick, tida como a mais radical abolicionista. É de sua lavra o primeiro panfleto exigindo abolição imediata e não gradual. A campanha pela abolição acabou fortalecendo outro movimento - o das sufragistas, pelo direito de voto para as mulheres.