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Em Pauta

O 1º livro brasileiro visava provar que escravizar era fazer justiça

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/12/2021 08:30
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Na hora crucial de decidir entre o Brasil, que fornecia quatro quintas das receitas portuguesas, e o Reino, que produzia pouco mas gastava mas gastava muito, D.João esqueceu os defeitos morais dos brasileiros, tantas vezes lamentados nos documentos reais, e ficou com a riqueza. Fugiu, vergonhosamente, para o Brasi, acompanhado de 15 mil cortesãos. Essa gente inútil, recebia - e continuaria a receber - dois terços das despesas pagas pelo erário público.


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Abriram faculdade com dois séculos de atraso.

A vinda dessa montanha de nobres permitiu a instalação do primeiro curso superior brasileiro. A escola de medicina de Salvador, com dois séculos e meio de atraso em relação à América hispânica - tinham 23 faculdades nessa época - foi um marco na educação nacional.


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A primeira tipografia veio depois de 358 anos.

Outra mudança significativa foi o desembarque da primeira prensa tipográfica. Coube aos reis de Portugal a "imorredoura glória" de serem responsáveis por um atraso de 358 anos, em relação ao invento da tipografia, para seu emprego no Brasil a magnitude dessa política de ignorância fica clara numa singela comparação com os Estados Unidos - uma economia comparável à brasileira naquele momento. Em 1.776, as tiragens do livro "Common Sense", de Tom Payne, chegaram a 400 mil exemplares.


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1% de alfabetizados.

Outra comparação que pode ser feita entre esses dois países refere-se ao número de alfabetizados. O Brasil, na época da chegada da corte portuguesa, contava com 1% a 2% de alfabetizados. Os Estados Unidos tinha nada menos de 70% de sua população adulta alfabetizada. Mas alfabetizar com o que? Não haviam livros no Brasil, além da Bíblia. Eram proibidos.


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O primeiro livro brasileiro era escravista.

O primeiro contemplado com o favor da publicação de um livro foi o bispo José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho. Seu "Análise da Justiça do Comercio de Escravos com a Costa da África" se destinavam a provar que os termos "justiça" e "escravidão" eram sinônimos. Triste país, o primeiro livro brasileiro era um libelo em favor da escravidão.


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E o segundo também.

Quase ao mesmo tempo que o reizinho permitia o bispo imprimir seu livro, outro nome do panteão da cruel nobreza levava ao preso seu livro. Até hoje, o nome de Visconde de Cairu é lembrado em escolas, ruas e estradas. Mal sabem que foi dele o segundo livro impresso no Brasil. Estudava economia. Seu "Princípios de Economia Política" tinha a ótima intenção de divulgar "A riqueza das Nações", a obra de Adam Smith, um dos mais ferrenhos inimigos da escravidão. Mas como todo bom malandro brasileiro, o Visconde  visava tão somente utilizar o trabalho de Adam Smith para "comprovar" que a escravidão deveria ser mantida no Brasil. Os dois primeiros livros brasileiros não passavam de papeluchos escravocratas. A história conta a aversão dos brasileiros com a educação.

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