O descobrimento da humanidade. Como nasceu o humanismo?
Mário Sérgio Lorenzetto | 13/11/2022 08:15
Antonio Pigafetta só podia acreditar no que seus olhos enxergavam. Em junho de 1.520, na Argentina atual, o explorador italiano viu um "gigante". Nove meses antes, Pigafetta tinha se unido a uma viagem espanhola que pretendia circunavegar o globo. Comandados por Fernando de Magalhães, o primeiro desafio era cruzar o Atlântico e bordear a costa sul-americana. Chegaram a uma baia que denominaram Porto São Julião. Ali, passaram dois meses sem ver nenhuma pessoa, recordava Pigafetta. Mas "um dia, de repente vimos um homem desnudo de uma estatura gigantesca na orla do porto, dançando, cantando e lançando pó sobre sua cabeça". Ainda que exagerado, Pigafetta calculou a altura dessa pessoa em 2,44 metros. Tinha a cara pintada de vermelho e ao redor dos olhos tinha pintado de amarelo.
Animais, plantas e habitantes desconhecidos.
Nas Américas os europeus viram pela primeira vez animais e plantas desconhecidos. Mas, para muitos deles, o mais impactante eram seus habitantes. O diário de Pigafetta foi só um dos muitos informes sobre povos desconhecidos que, durante o século XVI, chegaram à Europa desde as Américas. As descrições de canibalismo e sacrifícios humanos despertaram a imaginação popular. E começaram a levar indígenas para a Europa. Colombo capturou seis indígenas e os apresentou à corte espanhola. Cortes capturou setenta astecas e os transportou, com grilhões, através do Atlântico.
Nas Américas os europeus viram pela primeira vez animais e plantas desconhecidos. Mas, para muitos deles, o mais impactante eram seus habitantes. O diário de Pigafetta foi só um dos muitos informes sobre povos desconhecidos que, durante o século XVI, chegaram à Europa desde as Américas. As descrições de canibalismo e sacrifícios humanos despertaram a imaginação popular. E começaram a levar indígenas para a Europa. Colombo capturou seis indígenas e os apresentou à corte espanhola. Cortes capturou setenta astecas e os transportou, com grilhões, através do Atlântico.
Novas perguntas apareceram.
A existência de povos indígenas fez com que os europeus planteassem novas questões. Esses indígenas eram humanos? Ou eram monstros? Se humanos, descendiam de Adão, tal como a Bíblia ensinava? Ou haviam sido criados de forma independente? Se tiveram origem na Europa, como chegaram às Américas? Para responder a essas perguntas tinham de pensar de uma forma completamente nova. Aristóteles negava a possibilidade de existir humanos fora dos territórios conhecidos pelo excesso de calor que deveria existir nesses lugares. Plinio, O Velho, negava a possibilidade de existir povos desconhecidos. E esses dois intelectuais dominavam o pensamento europeu.
A existência de povos indígenas fez com que os europeus planteassem novas questões. Esses indígenas eram humanos? Ou eram monstros? Se humanos, descendiam de Adão, tal como a Bíblia ensinava? Ou haviam sido criados de forma independente? Se tiveram origem na Europa, como chegaram às Américas? Para responder a essas perguntas tinham de pensar de uma forma completamente nova. Aristóteles negava a possibilidade de existir humanos fora dos territórios conhecidos pelo excesso de calor que deveria existir nesses lugares. Plinio, O Velho, negava a possibilidade de existir povos desconhecidos. E esses dois intelectuais dominavam o pensamento europeu.
Surgem os conceitos de humanidade e de humanismo.
Foi uma das mais importantes batalhas intelectuais que o mundo já presenciou. Em Valladolid, na Espanha, reuniram todos os intelectuais importantes da época para responder às questões anunciadas acima. O enigma da origem dos indígenas era um assunto científico e político. O descobrimento das Américas também foi o descobrimento da humanidade e marco inicial do humanismo. Comandando o grupo que defendia a monstruosidade indígena, estava o teólogo conservador Juan Ginés de Sepúlveda. Dizia que os indígenas eram irracionais e não mereciam a liberdade. Na defesa dos indígenas, o comando estava entre o missionário jesuíta José de Acosta e o dominicano Bartolomé de las Casas. Após muito tempo e muitos debates, o papa Paulo III estudou o assunto, declarando que "os índios são realmente homens". A humanidade estava descoberta e sacramentada. Muita luta - e muito sangue - ainda correria para chegarmos aos ideais do humanismo.
Foi uma das mais importantes batalhas intelectuais que o mundo já presenciou. Em Valladolid, na Espanha, reuniram todos os intelectuais importantes da época para responder às questões anunciadas acima. O enigma da origem dos indígenas era um assunto científico e político. O descobrimento das Américas também foi o descobrimento da humanidade e marco inicial do humanismo. Comandando o grupo que defendia a monstruosidade indígena, estava o teólogo conservador Juan Ginés de Sepúlveda. Dizia que os indígenas eram irracionais e não mereciam a liberdade. Na defesa dos indígenas, o comando estava entre o missionário jesuíta José de Acosta e o dominicano Bartolomé de las Casas. Após muito tempo e muitos debates, o papa Paulo III estudou o assunto, declarando que "os índios são realmente homens". A humanidade estava descoberta e sacramentada. Muita luta - e muito sangue - ainda correria para chegarmos aos ideais do humanismo.