População, rebanho… uma foto do MS em 1.900
Imagine uma nave alienígena sobrevoando e fotografando o Mato Grosso do Sul em 1.900. Enxergaria Corumbá, Miranda, Aquidauana, Nioaque, Bela Vista, Campo Grande, Paranaíba e Coxim. Esses oito povoados tinham populações diminutas, algo como, em média, três mil pessoas. A maior parte do povo tinha de ser procurado, com uma lupa, nas fazendas. Contando brancos e indígenas, o ET dessa nave só encontraria 88 mil pessoas. Havia um pouco mais em torno de Campo Grande e de Paranaíba. E muito menos na região de Coxim. Quase todos eram sitiantes e posseiros vindos de Minas Gerais, Goiás e, mais raramente, de S.Paulo e Bahia. Mas, na fronteira com o Paraguai o quadro populacional era diferente. Havia milhares de gaúchos, um estudo diz que eram 7 mil, outro afirma que chegavam a quase 20 mil. Pouquíssimos indígenas nessa região tomada por gaúchos. Os estudos mostram que era uma região despovoada de indígenas ou que havia alguns poucos Caiuás vivendo dispersos nos matos, “ainda selvagens“. Só havia muitas aldeias, com milhares de indígenas, entre Aquidauna e Miranda. Estes estavam todos “domesticados ou semicivilizados”.
Criação primitiva de gado.
As fontes históricas apontam a existência de 2 milhões de cabeças de vaca no Mato Grosso do Sul nessa época. Coincidem em mostrar o primitivismo na criação de gado. Os campos da Vacaria - entre Nioaque e Nova Andradina - eram considerados os mais adiantados do Estado por usarem curral, potreiros e pastos artificiais. Essa região também tinha bom clima e insignificância de pragas, além, é claro, de abundância de pastagens. A taxa de aumento do gado da Vacaria era muito superior à do Pantanal, onde o gado “vive à lei da natureza”, selvagem. Criações de asnos, porcos e ovelhas não são suficientes nem para o consumo. O gado pantaneiro poucas vezes ia para outros Estados, era abatido e consumido na própria região, inclusive pelas duas charqueadas ali existentes. O gado da Vacaria saia para Uberaba, cerca de 25 mil cabeças anualmente. Eram levados por boiadeiros. Todos eles vinham do Triângulo Mineiro para comprar gado magro. O gado era constituído por indivíduos bem pequenos, a chamada raça pantaneira ou cuiabana. Cruzavam com o zebu e a raça franqueira, ambas introduzidas pelos boiadeiros mineiros.
Ervais e seringais.
A atividade produtiva mais rentável não era o gado. Pertencia à exploração da erva-mate. Representava de 44% a 63% de tudo que se produzia no MS. Era um monopólio assustador na fronteira com o Paraguai. Uma empresa chamada “ Matte Laranjeira”, que só empregava paraguaios e argentinos. Havia denuncias até da existência de um campo de concentração e de escravidão em seu interior. Era uma empresa odiada, matava gaúchos em grande quantidade. Também havia a exploração do látex da mangabeira, uma árvore típica do cerrado. Há registro da exportação dessa borracha pelo porto de Corumbá. As fontes estavam situadas em Aquidauana e em C.Grande. É curioso que nessa época não haja referência à exploração das madeiras. A única madeira que os documentos mostram é o quebracho da região de Porto Murtinho, usada em postes e dormentes nas fazendas por ser muito dura. Havia ainda, grande quantidade de pequenas usinas de açúcar nas fazendas, todas bem primitivas. Em algumas regiões cultivavam milho, arroz, feijão e cana-de-açúcar em quantidades estritamente necessárias para o consumo local. Eram roças bem rudimentares, usavam apenas foice, enxada e machado. Plantavam mandioca para preparar o terreno onde, no ano seguinte, iria o milho ou o feijão.