Quando surgiram os guerreiros? Violência ou guerra?
Explícita ou dissimulada, a guerra voltou a ocupar as principais manchetes brasileiras. Dentre muitas declarações beligerantes, passamos pelo ridículo de declarar guerra à Venezuela. E para constar no Recorde do Guinnes Book das maiores idiotices proferidas por um mandatário, propusemos guerra aos Estados Unidos. O ethos guerreiro, a "alma" belicista está de volta. Ou nunca saiu de cena no território nacional? Para os pacifistas é possível viver em uma sociedade sem guerreiros e sem guerras. Einstein, após a Segunda Guerra Mundial, passou a pregar pelo fim definitivo das guerras e das forças armadas.
Hobbes x Rousseau, guerra ou paz?
A base de sua utopia pacifista estava nas ideias do "Bom Selvagem", de Jean Jacques Rousseau. Todavia, os mais recentes estudos demonstram que Rousseau estava errado. "O homem é um lobo para o homem", de Thomas Hobbes estava certo. O humano começou a praticar a violência desde que desceu das árvores. E fez guerra à partir do momento que passou a cultivar os campos e criar animais domesticados.
A diferença de violência e guerra.
As matanças entre humanos se perdem no distante Paleolítico, na Idade da Pedra Lascada, há muito mais que 10 000 anos atrás. Mas a brutalidade aceita socialmente, articulada e organizada é muito mais recente. A guerra e a violência não são a mesma coisa. A violência se baseia na natureza da ação, no fato de ferir alguém ou matá-lo. A guerra é uma organização mais complexa da violência. E ela só surge na Idade do Bronze, há 4.000 ou 5.000 anos.
A espada e a guerra.
A espada apareceu há 3.700 anos e marca um ponto de inflexão. Ela só podia ser de metal e tem importantes consequências na forma de lutar, uma vez que aproxima os atacantes. A espada representa uma ruptura entre o tempo da violência e o da guerra. Essa arma determina o nascimento da guerra.
O ato de violência mais antigo comprovado está em Atapuerca, na Espanha.
Há 850.000 anos, um grupo de homens atacou e comeu outro grupo. Esse é o ato de canibalismo - alimentar ou ritual, ninguém sabe discernir - de violência mais antigo comprovado na história da evolução humana. Depois de Atapuerca, os restos dos massacres de Jebel Sahaba, no atual Sudão e os encontrados em Nataruk, no Kenia, revelam assassinatos em massa há 13.000 anos e 10.000 anos respectivamente. Não eram guerras pois há ossos de crianças, mulheres e idosos.
A guerra na Croácia e na Polônia.
É bem provável que a guerra tenha iniciado na Mesopotâmia, no Oriente Médio. Mas a arqueologia só conseguiu, recentemente, comprovar a guerra em Potocani, na Croácia, que guarda 41 cadáveres massacrados há 6.200 anos. Outra investigação genética ainda mais recente, em Koszyce, na Polônia, revelou os detalhes de outra matança ocorrida há 5.000 anos. A ciência atual mostra que, além das espadas, a diferença entre violência e guerra, está nos cuidados como os corpos foram enterrados - com ou sem cuidados - como também no DNA diferente entre os combatentes locais e os que chegavam.
Alianças e redes sociais são os cimentos.
Está claro para a nova ciência que os humanos matam humanos desde o surgimento de nossa espécie. Mas, também, se conhecem muitos mais casos de comportamentos "positivos". Pessoas que trabalham juntas, constroem juntas, vivem juntas, enterram seus mortos, comercializam em paz com outras pessoas. A construção de alianças e redes sociais são os verdadeiros cimentos das sociedades. Já a guerra e a violência são desafortunados efeitos secundários.