Quando "templo" era pagão e "cristão" meio pejorativo
A religião está na língua porque seus ritos e leituras estão em nossa cabeça, em nossa forma de nos relacionar. A marca do cristianismo nos faz dizer que "pagamos a conta religiosamente" ou que "colocamos alguém no altar". Também usamos expressões bíblicas: "atirar a primeira pedra", "dar a outra face".... e a melhor de todas é observar ateu dizendo "graças a Deus". O cristianismo substituiu de forma deliberada o léxico do politeísmo romano.
Quando "templo" era pagão.
O cristianismo preferiu, por exemplo, chamar "igreja" o que antes era "templo". Esse é um dos equívocos mais perturbadores praticado pelos evangélicos, que não admitem o uso da palavra "igreja". Essa palavra vem do grego "ekklésia" e significa "reunião" ou "convocação", reunir ou convocar para ouvir os ensinamentos de Jesus. Mas também passamos a usar termos de outras religiões. Chamamos "guru" aquele que cumpre as funções de líder espiritual. Dizemos que alguém está em estado "zen" ou atingiu o "nirvana", que não é diferente da "elevação" que diziam experimentar os místicos da Idade de Ouro Cristã.
Expulsaram o latim.
Na Índia, o sânscrito sempre foi a língua da liturgia. Continua sendo, ainda que não seja usada nas ruas. No Ocidente, durante séculos, ocorreu o mesmo fenômeno. O latim era a língua oficial da igreja, mas não era praticada nas ruas. Após lutas sangrentas, o latim foi defenestrado das missas. Haverá quem se lembre da beleza das missas com rituais em latim.
"Nazarenos" partilham o pão.
Antes mesmo de usarem o termo "irmãos", os "nazarenos" - como passaram a ser chamados os poucos adeptos dos ensinamentos de Jesus - desenvolveram, pouco a pouco, uma liturgia própria, praticada em suas residências. Tratava-se de refeições comunitárias acompanhadas de orações, durante as quais poderia ocorrer a renovação da Última Ceia. Era o que os nazarenos denominavam "a fração do pão", em grego "eukharistía", que em português viria a ser a "eucaristia". Rapidamente, essas refeições foram transferidas para o domingo, abandonando o sabá judeu.
"Irmãos" e "santos".
No tempo do primeiro crescimento (saíram de 120 para 3.000), os seguidores dos ensinamentos de Jesus adotavam a palavra "irmãos" como forma de tratamento entre eles. Também usavam o termo "santo", mas não usavam a palavra "cristão". Essa palavra, ainda nos primeiros séculos, passou a ser usada pelos que não eram "irmãos" para designar os seguidores da palavra de Jesus. Há muitos debates, mas a impressão que fica é que a palavra "cristão" era meio pejorativa, alguma ponta de sarcasmo aparecia.