Rapamicina, a molécula milagrosa
Viveremos mais de 100 anos?
Conta o cientista David Sabatini que, quando aterrizou pela primeira vez na remota Ilha da Páscoa, parecia um lugar mágico. Alí, nas bactérias do solo onde estão as estátuas, as célebres moáis, uma expedição científica identificou, em 1975, uma molécula desconhecida até então. Recebeu o nome de rapamicina em homenagem ao nome nativo da ilha: Rapa Nui. Logo, ficou claro que aquela molécula era excepcional. Conseguia um milagre: inibia o crescimento de alguns tumores, combatia fungos e evitava o rechaço de órgãos transplantados. Há uma década, cientistas administraram a rapamicina em ratos. Eles viveram 10 anos a mais do que tem de média de vida.
A rapamicina inibe a ação de um interruptor.
Existe em nossas células uma proteína denominada mTOR. Ela funciona como um interruptor de luz em nossas casas. "Acende" quando há nutrientes e permite o crescimento celular, inclusive o crescimento "tresloucado", que chamamos de tumor. E "apaga", caso ocorra falta de nutrientes, quase inexistindo o crescimento celular e dificultando muito o aparecimento de tumores. A rapamicina age inibindo a ação da mTOR. Em torno de 60% dos tumores malignos ocorrem devido à ação aberrante desse interruptor. A rapamicina é o remédio que buscamos há muito tempo para substituir a restrição calórica, aquela façanha de reduzir em 30% nossa alimentação. imagine você comer o mínimo que suporta, agora, reduza mais 30%.... quem aguenta?
Para quais ações já está aprovada a rapamicina.
Os cientistas já criaram várias moléculas assemelhadas à rapamicina. Uma das indicações é na imunossupressão - a inibição das defesas do organismo nos transplantes de órgãos. Outra, é na cardiologia, vem sendo usada para prevenir a " reestenose" - a recorrência da estenose, o estreitamento de um vaso e o consequente impedimento do fluxo sanguíneo. Também vem sendo utilizado, com sucesso, para combater tumores renais e da mama. Mas os cientistas esperam desenvolver muitas outras moléculas à partir da rapamicina.
O desafio de novas moléculas é não causar danos colaterais.
O grande desafio é usar a rapamicina para que ela nos faça somente coisas boas. Não podemos esquecer que não se pode eliminar a proteína mTOR de nosso organismo para sempre, ela desempenha papéis importantes. Novas moléculas também trazem a incerteza dos efeitos secundários. Esses são os dois fatores que limitam a colocação no mercado das novas moléculas.
Teste com cães.
Há algum tempo cientistas criticam as pesquisas da rapamicina com os ratos. Afirmam que os testes não nos dão garantias pois os roedores vivem em gaiolas, em um ambiente idêntico a outro. É muito diferente das condições de vida dos humanos. Foi com essa clareza que alguns cientistas estão conduzindo um ensaio com cachorros nos EUA. Como eles vivem em diferentes casas, comem diferentes alimentos e fazem diferentes exercícios, tem um estilo de vida quase idêntico ao dos humanos. Se a pesquisa tiver sucesso, veremos muitas novas moléculas sendo comercializadas. Provavelmente tratarão de vários problemas relacionados com o envelhecimento: câncer, Alzheimer, cardiovasculares. Tudo isso em bloco.