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Em Pauta

Solo vivo. "Vivemos mais porque há melhores agricultores"

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/06/2023 08:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O marketing do agronegócio remete à riqueza. Dizem que o agro é pop pois acumula riqueza para os fazendeiros e para o país. É uma visão canhestra de uma atividade essencial para os humanos. O agro só é pop por acabar com a fome. Esse conceito é antigo, ainda que não tenha espaço no Brasil. Surgiu com a descoberta de que o solo é vivo.


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Não é um monte de rochas moídas.

A maneira como chegamos a esse entendimento foi complicada. Ocorreu devido a uma eclosão de atividades científicas em meados do século XIX. Foi nessa época que os cientistas começaram a perceber que o solo não era um monte de rochas moídas, inerte e imutável. Havia metabolismos, havia vida. Mas exigia gerenciamento correto. Nas circunstâncias certas, era capaz de uma fecundidade impressionante. Mal gerenciado, podia definhar e virar um pó sem vida. Estava repleto de vidas microscópicas, cada uma exercendo papel crucial no que agora chamamos de ciclo do nitrogênio.


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Procuravam antibióticos.

A etapa mais importante desse ciclo é a "fixação", que converte o nitrogênio do ar nos nitratos de amônia que as plantas usam como alimento. Esse trabalho é feito por inúmeros micro-organismos, conhecidos como "diazotróficos". Visto dessa perspectiva, o solo repentinamente começou a parecer uma fábrica de produção química, com incontáveis milhões de agentes microscópicos trabalhando para produzir nitratos. Por estranho que pareça, os cientistas que fizeram essa descoberta não estavam estudando a vida do solo, buscavam uma forma de produz antibióticos, a inovação médica mais importante do século passado.


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Queda drástica na fome.

Saber que o solo estava vivo nos ajudou a evitar infecções, mas também a afastar outra ameaça onipresente: a fome. Século após século, a fome dizimou mais vidas que as guerras. Para dar um exemplo pouco conhecido: a Grande Fome Persa (Irã atual) ocasionada pelos ingleses, na Primeira Guerra Mundial, matou a metade de sua população. Com o entendimento da existência de vida no solo, e com os cuidados que passaram a adotar - adubação, rotação de culturas - a fome foi reduzida no mundo. Entre 1980 e hoje, cerca de 5 milhões de pessoas morreram de fome, quando nos quarenta anos anteriores foram cerca de 50 milhões. É por esse motivo que inúmeros cientistas dizem que vivemos mais porque há melhores agricultores e não porque há melhores médicos. Este é um país que não necessita derrubar uma só árvore, basta recuperar seus solos inertes. O problema que essa essencialidade vira apenas discurso vazio na boca dos governantes.

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