Tentando controlar as nuvens na Casa da Magia da GE
Chuvas torrenciais inundam as cidades. Secas catastróficas matavam a vida no Pantanal. O homem ainda necessita chamar um pajé para a dança da chuva? Só nos resta o misticismo e a luta político-ambiental quando se trata de clima? Houve um tempo em que procuramos por melhores alternativas. No dia 13 de novembro de 1946, o cientista Vincent Schaefer subiu em um avião com o objetivo de atravessar uma nuvem que estava acima da cidadezinha de Greylock, em Massachusetts, nos EUA. Uma vez dentro da nuvem, abriram um compartimento do avião, lançando mais de um quilo de gelo seco.
O Projeto Cirrus e a neve.
"Longas serpentinas de neve caindo desde a base da nuvem", relatou Shaefer. Com a produção de neve, foi colocado em marcha o Projeto Cirrus, em fevereiro de 1947. O propósito era transformar o tempo climático, um antigo sonho dos humanos, inaugurado na pré-história com dancinhas simpáticas de pajés e outros homens, tidos como interlocutores dos interesses dos terráqueos com os céus.
Dois irmãos: o cientista e o literato.
Muitos homens foram contratados para o Projeto Cirrus, inclusive um membro da confraria dos que receberam Prêmio Nobel. Entre eles, estavam os irmãos Vonnegut. O mais velho, Bernard, era cientista, enquanto o mais novo, Kurt, tinha ideais literários e trabalhava como jornalista da empresa, quer dizer, era um tipo de relações públicas da época, encarregado da propaganda da Casa da Magia. Esse era o nome dado ao Departamento de Pesquisas da General Eletric (GE).
A chuva de Vonnegut.
Com a vitoriosa pesquisa que fez nuvem jorrar neve, Bernard Vonnegut pensou que se os cristais de gelo seco - dióxido de carbono congelado - alterava o equilíbrio interno das nuvens, ativando a formação da desejada neve, outras substâncias deveriam funcionar para produzir água líquida, chuva. Depois de estudar a estrutura cristalina de milhares de substâncias, encontrou a chave. Se tratava do iodeto de prata. Era o mesmo composto usado para revelar fotografias ou como antisséptico de feridas.
Ótimo, não precisava de avião.
Vonnegut também descobriu que o iodeto de prata era muito mais fácil de usar que o gelo seco. Não havia necessidade de aparato algum para que ele conseguisse fazer chuva. Bastava situá-lo embaixo de uma nuvem e provocar fumaça para que a nuvem descarregasse.
Uma ficção leva o medo à pesquisa?
Kurtz, o mais novo dos irmãos, escreveu um livro de ficção nessa época (posteriormente, escreveria muito outros). "Cama de Gato", conta a disparatada história de Felix Hoenikker, um cientista cuja invenção do Gelo-9 acaba com a vida na Terra devido ao congelamento dos Oceanos. Não se sabe até hoje os motivos que levaram a General Eletric a fechar a Casa da Magia, talvez por falta de recursos, a estranha versão oficial. Pode ser pelo medo criado pelo "Cama de Gato". O fato é que ainda vivemos - estamos inertes - sob os desmandos das nuvens, não as domamos.