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Em Pauta

Terra, um planeta de vírus

Mário Sérgio Lorenzetto | 19/06/2020 08:26
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Em 2009, uma expedição da Universidade da Columbia Britânica (Canadá), conseguiu autorização para entrar na mais incrível caverna de cristais, localizada na Serra de Naica, próxima à cidade mexicana de Chihuahua. Nela, há cristais que medem 11 metros e pesam 50 toneladas. São tão grandes que podem ser escalados como se fossem colinas. Pouquíssimos cientistas, até 2009, tinham conseguido permissão para nela entrar. É hermeticamente fechada. A equipe extraiu amostras de água das piscinas que existem nessa caverna. Eles não tinham o menor interesse em cristais, minerais ou qualquer tipo de rocha. Se dedicavam ao estudo dos vírus. Nessa caverna, obviamente, não mora nenhum humano. Nem sequer há peixes. Mas em cada gota de água, encontraram 200 milhões de vírus.

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A caçada aos vírus que vivem no corpo humano.

Nesse mesmo ano, uma cientistas de nome Dana Willner, empreendeu sua caçada ao vírus. Em vez de entrar em uma caverna, optou por fazê-lo no corpo humano. Pediu que uma série de indivíduos cuspissem em uma taça, e a partir desse líquido, extraiam fragmentos de DNA. Em seguida, comparavam esse fragmentos com tantos outros que estavam armazenados em uma base de dados. Boa parte era de origem humana mas muitos fragmentos de DNA procediam de vírus. Antes dessa experiência,  a comunidade científica tinha convicção que os pulmões das pessoas sadias eram esterilizados, não tinham vírus. Dana Willner descobriu que, em média, um pulmão humano chega a conter 174 tipos de vírus. Só 10% deles eram conhecidos. Mais de 90% deles eram tão estranhos quanto os que a equipe da Universidade da Columbia Britânica havia encontrado na caverna dos cristais.


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A virologia é uma ciência jovem.

Onde um cientista coloque seu olhar, descobrirá novos vírus. O ritmo de descobertas de novos vírus é muito superior ao que conseguem decifrá-los. Há nuvens de vírus no Saara. Há uma incrível quantidade vírus por debaixo do gelo da Antártida. Há bem pouco tempo conseguimos outros dados sobre eles que não fossem aqueles que conhecemos ligados às doenças.


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Vírus, criação e destruição.

O próprio termo "vírus" começou com uma contradição. O herdamos do Império Romano. Para eles, a palavra "vírus" significava o veneno de uma serpente e, ao mesmo tempo, o esperma de um homem. Criação e destruição, unidas em uma só palavra. Com o passar dos séculos, "vírus" adquiriu um novo significado. Passou a definir qualquer substância contagiosa que pudesse disseminar alguma doença.


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Uma catástrofe agrícola. 

A ideia moderna do termo "vírus" teve início no século XVIII. As plantações de tabaco da Holanda foram assoladas por uma doença. As folhas passaram a ter um mosaico de tecidos mortos e vivos, lado a lado. Tiveram de destruir todas as plantações. Em 1897, os fazendeiros holandeses solicitaram a ajuda de um jovem químico alemão de nome Adolph Mayer. O jovem estudou longamente as folhas e afirmou que a doença daquelas plantas eram decorrentes do "vírus do mosaico do tabaco". Analisou o ambiente das plantações. O terreno, a temperatura e a luz. Foi incapaz de encontrar a causa da doença. Pensou que, talvez, fosse algo invisível ao olho humano. Pensou em fungos. Naquela época, já sabiam que fungos atacavam plantações. Não encontrou nada. Buscou vermes. Também não encontrou. Por último, Mayer pegou um pouco de seiva das folhas doentes e inoculou em folhas sadias. As plantas sadias adoeceram. O alemão viu - em outra pesquisa - que não eram bactérias que causavam aquela doença. Mayer não descobriu o vírus, mas deixou o caminho pronto para ser trilhado.


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Forte, quase indestrutível.

Anos mais tarde, outro cientista, um holandês de nome Martinus Beijerinck, retomou os estudos de Mayer. Concluiu, definitivamente, que não eram bactérias que matavam as folhas de tabaco. Era algo menor, muito menor. Beijerinck tentou matar esse ser, que estava na seiva da folha,  com álcool. Ele seguia sendo infeccioso. Tocou fogo até o ponto de ebulição. Não causou dano algum ao ser. Colocou em uma folha de papel e botou para secar. Após três meses, continuava sendo infeccioso. Beijerinck recorreu à palavra "vírus" para descrever esse agente infeccioso. Só conseguiu definir pelo que eles não eram. Não eram animais, nem plantas, nem fungos e nem bactérias. Dizer o que eram, estava fora de seu alcance.


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Vivos ou mortos?

A confusão continuou. Em 1923, os cientistas não conseguiam chegar a nenhum acordo sobre os vírus. Alguns argumentavam que não passavam de substâncias químicas. Outros, acreditavam que eram parasitos, que viviam no interior de células. A confusão atingiu tal magnitude que passaram a brigar sobre se eram vivos ou mortos. Declararam que era impossível a natureza dos vírus.


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O vírus vivo de DNA ou RNA.

Somente em 1936, os cientistas britânicos Norman Pirie e Fred Bawden descobriram que os vírus não eram apenas um pequeno filamento de proteínas. Pelo menos 5% dos vírus eram de uma outra substância, aquela que define a vida, uma substância em forma de cadeia denominada ácido nucleico. Muitos deles tinham a dupla hélice, o DNA. Outros tantos, tinham uma hélice simples, o RNA. Com a invenção de um novo tipo de microscópio, quatro anos depois, conseguiram enxergar um vírus. Ninguém havia observado um organismo vivo tão pequeno... e tão forte!

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