Vespasiano Martins, o autêntico líder do MS revolucionário
No final da década de 1.920, surgem no Mato Grosso do Sul os primeiros líderes do separatismo. Homens que cansados do esquecimento a que Cuiabá nos relegava, só éramos recordados na hora de pagar impostos. O movimento divisionista ganha força em um breve período. São políticos da Vacaria, aquela extensa região que ia, aproximadamente, de Jardim a Nova Andradina. Jango Mascarenhas, João Muzzi, Bento Xavier e Cassal, são os nomes mais conhecidos. Muita tinta foi gasta para elogiá-los e detratá-los (textos cuiabanos), não há unanimidade. Só um deles tem fama incontestável: Vespasiano Barbosa Martins. Aquele que se converteria no ícone maior da causa divisionista. Quem foi esse politico sem manchas. Os textos históricos o tratam como algo próximo a um herói ou, pelo menos, o respeitam.
1.304 vacas para virar médico.
Primeiro médico sul-matogrossense, formado no Rio de Janeiro em 1.915, clinicou em Campo Grande, onde foi pioneiro na prática de cirurgia. Caçula de 14 irmãos, nascido e criado na fazenda Campeiro, em Rio Brilhante, foi o único que satisfez o desejo do pai, todos os demais foram trabalhar na pecuária. Se, atualmente, ter um diploma de medicina custa caro, naquela época era quase impossível. Seu pai vendeu 1.304 vacas para que ele estudasse. Vespasiano, em 1.925, vende todos seus bens e vai completar seus estudos médicos na Europa. Recebe diploma de cirurgião, façanha ainda mais difícil. Retorna a C.Grande, a pedidos, para participar de campanhas políticas.
Fraude eleitoral.
A primeira disputa, em 1.929, frustrou-se. Saíra candidato para “combater o mandonismo politico”. Concorreu contra Antero Paes de Barros, oriundo de família poderosa que representava a “oligarquia tradicional”. Venceu Antero do “partido dominante“. Choveram denuncias de “grosseiras falsificações no pleito eleitoral”. “Votaram mortos cujos óbitos estavam devidamente registrados no Registro Civil”. Menos de dois anos depois, fruto dos golpes e contragolpes que incendiavam a politica local, Vespasiano foi nomeado prefeito pelo interventor do Estado.
Chefe do movimento divisionista.
Um ano se passou. Vespasiano é ungido “chefe do governo constitucionalista”, leia-se “chefe do divisionismo”. O nome que passou para a história é “Governador do Estado de Maracaju”, escolhido para o Mato Grosso do Sul. Todos se levantaram ao lado dos “revolucionários”. Havia chegado a hora de concretizar o sonho de Muzzi, Mascarenhas, Cassal e Bento Xavier. As diferenças com Cuiabá eram enormes.
Derrotado, exila-se no Paraguai.
O levante armado foi derrotado pelas tropas de Getúlio Vargas. Os cuiabanos retomaram o controle politico do Mato Grosso do Sul. Vespasiano exilou-se no Paraguai. Da cidade de Pedro Juan Caballero, onde viveu com a família de outubro de 1.932 a abril de 1.933, não esmoreceu e nem se arrependeu. Enviou uma carta a um irmão dizendo que vivia uma “vidinha pacata” e que não estava arrependido. “Exílio, cassação de direitos políticos, confisco de bens, nada disso me impressiona”, afirmava o médico revolucionário. Os cuiabanos faziam de tudo para enxovalhar o movimento divisionista, mas não conspurcavam a imagem de Vespasiano. Uma das investidas cuiabanas foi a de transformar em piada a moda que surgiu no meio revolucionário do “Estado de Maracaju” de usar gravata borboleta preta. O divisionismo foi colocado de lado por longo período. Em 1.934, Vespasiano retorna a C.Grande, onde é nomeado prefeito e à seguir, vence uma eleição para o mesmo cargo. Ainda sofrerá um atentado a bala, encomendado pelos governantes cuiabanos, e se elegerá senador e voltará á prefeitura, encerrando sua vida politica.
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