Falar sobre o suicídio é um ato de prevenção
Pensar no suicídio e na disseminação de informações sobre saúde mental, faz com que mais pessoas possam ter acesso às informações e consequentemente aos tratamentos. Nos anos 80, não se falava sobre camisinha, não se falava sobre Aids, justamente porque o medo era que, ao falar sobre isso, as pessoas seriam estimuladas a fazer sexo e, com isso, se pensava que a contaminação poderia ser maior. Porém, ao se criar campanhas, e disseminar informações e conhecimentos sobre a forma de contaminação, o uso do preservativo e métodos de saúde e autocuidado é que se conseguiu com que a população não tornasse uma epidemia maior do que foi nos anos 80.
Sobre o suicídio, é preciso quebrar o tabu, para poder prevenir e estimular a vida. É preciso oferecer afeto a quem está pensando sobre isso, é preciso estimular saídas, e, ao falar em saídas, ao oferecer afeto, você desestimula o ato ou até mesmo a ideia. O silêncio é sempre pior, pois, nada irá tornar mais fácil enfrentar a ideia de que alguém próximo ou mesmo um desconhecido cometeu suicídio. Não falar sobre esse tema, não conversar sobre os métodos preventivos ou sobre o que está sentindo não deixa o tema menos doloroso. Muitas pessoas ainda acham que conversar sobre o assunto é constrangedor, como se fosse um desrespeito a quem cometeu suicídio.
E os dados são alarmantes, no Brasil, segundo o Mapa da Violência do Ministério da Saúde, 25 pessoas tiram a própria vida por dia e outras 50 tentam, fora as ideações. É um brasileiro que se mata a cada 45 minutos. A tendência já aparece em estudos acadêmicos. Um trabalho da Universidade Federal de Campinas mostrou que 17% dos brasileiros já pensaram seriamente em colocar um ponto final em sua vida. E o que é ainda mais preocupante – segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que há 53 anos se ocupa de atender pessoas em situação de vulnerabilidade que pensam em cometer suicídio – as taxas estão crescendo rapidamente entre os mais jovens no Brasil.
Estudos mostram que 90% dos suicídios poderiam ser evitados, são muitos os caminhos que poderiam ser trilhados e pensados. A prevenção começa quando começamos a ter como costume fazer uma autoavaliação emocional. No dia a dia, se estamos com algum problema de saúde, medimos pressão e glicemia, mas não estamos acostumados a nos avaliar emocionalmente. Outro caminho é prestar atenção aos sinais e a não minimizar a situação quando as pessoas falam “eu vou sumir, “não consigo sair da cama”, “logo vocês vão se livrar de mim”, falas como essas, são alertas para os familiares ou para as pessoas que convivem com a pessoa que está sofrendo.
Ofereça ajuda, indique caminhos, muitas vezes o que mais se necessita é de uma escuta.
CAPS – Centros de Atenção Psicossocial do SUS. O acesso é direto nos endereços.
CVV – Presta atendimento gratuito telefônico pelo número 141 e via chat pela internet para quem busca ajuda.
Para ler: Cartilha “Falando Abertamente Sobre Suicídio” no site do CVV.
(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.
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