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Economia

Com recurso escasso, financiamento imobiliário tem queda de 40% em MS

São R$ 361 milhões a menos nos últimos anos; inadimplência cresceu 28%

Osvaldo Júnior | 06/02/2018 08:34
Imóvel à venda em Campo Grande (Foto: Saul Schramm)
Imóvel à venda em Campo Grande (Foto: Saul Schramm)

Há oito anos no mercado, a corretora Rita Aguiar usa a criatividade e a experiência para contornar as intempéries da economia. Em janeiro, ela vendeu sete imóveis em Campo Grande, quatro dos quais através de permuta. “É uma saída para um momento que há menos dinheiro disponível para financiamento”, justifica.

A estratégia usada por Rita ocorre em um cenário de baixa do crédito imobiliário se comparado com o desempenho de anos anteriores. O financiamento com recursos da poupança teve queda de 40,21% em Mato Grosso do Sul no acumulado de 2016 e 2017 em relação ao biênio anterior, conforme números do Banco Central. No mesmo período, a inadimplência aumentou 28%.

Rita, na atividade desde 2010, conhece bem as mudanças no mercado nos últimos anos. Ela estima que vendia, em média, 20 casas por mês. “Isso há três, quatro anos atrás. Hoje, vendo quatro, cinco, às vezes nenhuma”, contou. Nessa comparação, a corretora considerou apenas os imóveis com valores menores, financiados pelo programa MCMV (Minha Casa Minha Vida).

Troca – Agora, ela investe esforços em negociações de imóveis de alto padrão. “Essa é uma parte do mercado que sempre está bem”, considera. Mesmo nesse segmento, algumas vendas só são fechadas através de trocas parciais. “No mês passado, vendi sete imóveis, quatro por permuta, um por financiamento e dois à vista”, contou.

Como exemplo de permuta, ela mencionou que negociou uma fazenda, no valor de R$ 1,28 milhão, em dinheiro e uma pequena parcela em imóvel de R$ 180 mil. “A permuta é uma saída para as vendas. Muitos trocam por apartamentos, terrenos e até carros. E recebem uma parte em dinheiro”, detalhou.

Recursos escassos – A adoção de alternativas nas transações imobiliárias é uma forma de adaptar aos humores do mercado em época de escassez de recursos, como avalia a corretora. “Não tem mais dinheiro para financiamento como havia antes”, observa.

A Caixa Econômica Federal, principal instituição brasileira em crédito imobiliário, chegou a suspender, no ano passado, a Pró-Cotista, linha mais barata, e a reduzir para 50% o teto para financiamento de imóveis usados.

Em janeiro deste ano, o banco retomou a linha Pró-Cotista e aumentou o teto para compra de imóveis usados (voltou para 70%). No entanto, a instituição terá R$ 2 bilhões a menos para emprestar aos cotistas – de R$ 6,1 bilhões em 2017 para R$ 4 bilhões neste ano.

Na Capital, há diversos imóveis com placas como essa (Foto: Saul Schramm)
Na Capital, há diversos imóveis com placas como essa (Foto: Saul Schramm)

Emperrados – O “sumiço” do dinheiro no mercado imobiliário alarga o tempo para conclusão das vendas. Não há estatísticas em Mato Grosso do Sul quanto ao volume de imóveis que estão à venda ou à espera de inquilinos. Há, entretanto, indicativos de que o estoque estaria elevado.

“Tem muita oferta”, nota a corretora Rita, acrescentando que a procura também é grande. Essa equação só não fecha, porque os imóveis seguiriam caros, considerando o quadro de estancamento de recursos. “Ainda não caiu a ficha. Muitos ainda querem vender com preços altos, como era antes. Mas, hoje está diferente”, observa.

Com isso, o ritmo de venda e aluguel é lento. “Tenho imóvel usado para venda há quatro anos. É muito tempo”, menciona a corretora. “O mesmo aconteceu com imóveis para alugar. Também está demorando, porque os preços estão altos”, completa.

Essa situação pressiona a redução de preços. O corretor Clóvis Antônio Steim conta que tem imóvel para vender faz um ano. O valor inicial era de R$ 750 mil e, hoje, está em R$ 580 mil. Mesmo com a desvalorização de 22% ainda não foi vendido.

Com recurso escasso, financiamento imobiliário tem queda de 40% em MS

Financiamento retraído – Outro indicativo de estoque acentuado é a queda nos financiamentos. A aquisição de imóveis com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), cresceu em 2017 na comparação com 2016. No entanto, o valor está muito abaixo dos montantes de anos anteriores.

De acordo com o Banco Central, de janeiro a agosto (último dado) de 2017, o financiamento com carta de crédito SBPE somou R$ 286,15 milhões em Mato Grosso do Sul, alta de 13,5% sobre os R$ 251,97 milhões de igual período de 2016.

Esse avanço é pequeno se colocado da balança com os valores dos anos anteriores. Em 2015 (janeiro a agosto), o montante foi de R$ 374,58 milhões e, em 2014, de R$ 525,5 milhões.
O acumulado em 2016 e 2017, de R$ 538,13 milhões, é 40,2% inferior aos recursos somados nos dois anos anteriores. Em termos absolutos, são R$ 361,96 milhões a menos.

Inadimplência – Paralelamente ao esfriamento do mercado imobiliário, cresce a inadimplência. Na comparação entre 2016 e 2017, o número de contratos adimplentes no financiamento com recursos da poupança caiu 53% em Mato Grosso do Sul, de 51.285 para 23.734.

No mesmo período, a inadimplência aumentou 24,8% no Estado, de 4.192 para 5.232 imóveis. No acumulado de 2016 e 2017, há 9.424 contratos em atraso, alta de 28% sobre o total de 7.596 verificados nos dois anos anteriores.

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