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Economia

Entra e sai: baixo salário e nova geração aumentam rotatividade no comércio

Salário comercial para empregados em geral é de R$ 1.693, na Capital

Por Izabela Cavalcanti | 14/05/2024 11:57
Funcionária levando manequim para frente de loja, na Rua 14 de Julho (Foto: Marcos Maluf)
Funcionária levando manequim para frente de loja, na Rua 14 de Julho (Foto: Marcos Maluf)

Sai um funcionário, entra outro. Assim tem sido a realidade do comércio de Campo Grande, que tem sofrido uma alta rotatividade de colaboradores. O baixo salário e a diferença de gerações podem estar associados, segundo o presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila.

A gerente de uma loja de roupas na Rua 14 de Julho, Ana Claudia Martinez, de 26 anos, tem sentido na pele essa mudança. Ela conta que alguns acabam nem passando do período de teste.

“Nós sofremos muito com a alta rotatividade dos funcionários. Muitos nem chegam a passar pelo período de experiência, eles vêm, fazem o teste de três dias, dizem que gostou do trabalho e não voltam. Muitas vezes chegamos a marcar a entrevista e ninguém aparece. Acontece muito mais do que se imagina”, ressaltou.

Ana Claudia é gerente de uma loja de roupas no Centro (Foto: Marcos Maluf)
Ana Claudia é gerente de uma loja de roupas no Centro (Foto: Marcos Maluf)

Ela contou ainda que só em maio, já aconteceram três casos de funcionários que chegaram na loja e saíram.

Outro exemplo é na loja Anime-se, também localizada na 14 de Julho. O gerente Hermes Henrique, de 35 anos, acredita que o “entra e sai” das pessoas acontece em qualquer lugar, mas quando passam do período de experiência acabam folgando.

“As pessoas demonstram interesse e no final acabam não vindo. As pessoas não chegam a passar do prazo de experiência ou quando passam, elas relaxam ou folgam”, comentou.

Ainda de acordo com ele, por mais que as empresas tenham suas regras, às vezes não se adequam a forma de trabalhar. “Eu acho que é o pessoal da nova geração que não gosta de trabalhar. Quem reclama da hora de trabalhar, não quer trabalhar, querem um trabalho mais moleza”, completou.

De acordo com a Fecomércio-MS (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, o salário comercial para empregados em geral é de R$ 1.693; auxiliar de comércio e office boy ganham R$ 1.528; e os comissionados com garantia mínima recebem R$ 1.860.

Normalmente, a carga de trabalho semanal é de 44 horas, com até duas horas de almoço. Algumas lojas distribuem 8 horas de segunda a sexta-feira, e 4 horas aos sábados.

Motivos – O presidente da CDL comenta que em alguns casos, o tempo de durabilidade não passa de 30 dias.

“Esse é um dos grandes problemas hoje que nós estamos enfrentando, que é o famoso turnover [rotatividade de colaboradores]. Todo mundo reclamando da mesma coisa, que não estão conseguindo fixar esse funcionário e toda hora tem que começar de novo a nova equipe. Entradas e saídas muito rápidas e toda hora uma empresa tem que parar para treinar, para preparar, e depois a pessoa vai embora”, destacou.

Adeilado explica que essa é uma realidade em todos os setores, vestuário, indústria, setor do agronegócio, comércio e serviço. São dois fatores principais: gerações diferentes trabalhando juntas e o baixo salário oferecido.

“Nós temos no mercado, no mínimo, quatro gerações trabalhando em conjunto e cada um tem um olhar para o trabalho. Essas alterações de princípios, de valores, e também o que faz a pessoa trabalhar precisa ser considerada e trabalhada por esses líderes. Nós temos mais empregos hoje do que pessoas para trabalhar, e em compensação, nós temos um dos salários mais baixos do Brasil e isso se deve muito por conta da carga tributária de Mato Grosso do Sul”, pontuou.

Na visão do vice-presidente da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), Omar Aukar, também existe a falta de mão de obra.

“O comércio, assim como outros setores da economia, tem sofrido com a dificuldade de encontrar mão de obra, ou seja, que atenda os requisitos necessários para as áreas de vendas ou atendimento, que correspondem às principais vagas abertas no varejo. A situação engloba vários segmentos, de loja de roupas a supermercados”, disse.

Ainda segundo Omar, o pós-pandemia também trouxe mudança no comportamento dos trabalhadores.

“Uma parcela da sociedade prefere atuar em outra modalidade, por exemplo, como profissional liberal ou MEI, para ter autonomia sobre o horário e os dias trabalhados. Somado a isso, também sabemos que há pessoas que preferem viver de programas assistenciais do governo e procurar atividades informais para complemento de renda do que assumir um emprego formal, o que exige comprometimento com metas e dedicação presencial no expediente”, finalizou.

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