Real digital: veja como a nova versão da moeda brasileira poderá impactar MS
Projeto está em fase de testes pelo Banco Central e deverá ser implementado até o fim de 2024
O real digital será uma versão virtual da moeda oficial brasileira, que será usada em um sistema que está em fase de testes desde março deste ano pelo Bacen (Banco Central), como forma de melhorar a eficácia dos pagamentos.
Ele é classificado como uma CBDC (Central Bank Digital Currency) ou, em tradução para o português, uma moeda digital emitida por Bancos Centrais).
É importante ressaltar que não se trata de uma versão de criptomoedas e que representa um avanço ao já consolidado sistema de transação Pix.
Os maiores beneficiados deverão ser agentes econômicos e empresas, por exemplo. “A moeda digital controlada pelo Banco Central busca utilizar a tecnologia para reduzir fraudes bancárias, uso de dinheiro vivo e ampliar o acesso maior para os brasileiros ao sistema financeiro”, explica o economista Eugênio Pavão ao Campo Grande News.
Real digital ou Pix?
A economia brasileira já ficou mais ágil e facilitada com a implementação do sistema Pix. No entanto, ele ainda é um intermediador na hora de realizar compras. “Diferente do Pix, o real digital servirá para muitas opções de financiamento ou empréstimos, por exemplo, estimulando a atividade econômica, enquanto o Pix é apenas um meio de pagamento, restrito para transferência de valores”.
A expectativa é que o real digital revolucione os processos financeiros, no geral, e deixe de ser apenas um sistema de transferência. Na prática, será a moeda oficial brasileira em versão digitalizada.
“Tem mais vantagens que o Pix, pois pode ser usado em viagens internacionais, compras, etc. Centraliza as ações de gerenciamento financeiro em um mesmo local ou plataforma. Ele substituiria a moeda do mundo real para o mundo digital”, explica Pavão.
Quem deve ser impactado com o real digital?
É esperado que o novo formato impacte principalmente as empresas, a liquidez das operações e a quantidade de transações. Vale ressaltar, no entanto, que as consequências ainda não são possíveis de mensurar com clareza, ainda que outros países tenham sistemas semelhantes.
Na prática, haverá o real tokenizado, uma moeda de varejo, para transações entre pessoas físicas ou jurídicas, e o real digital, uma moeda de atacado, para pagamentos entre o Banco Central e instituições financeiras autorizadas.
“As possibilidades são bastante significativas, com o uso on-line, dinheiro programável, meio de pagamento [no varejo], maior segurança jurídica, visando mitigar lavagem de dinheiro, contrabando, etc”, ressalta o economista Eugênio Pavão.
O real digital é uma criptomoeda?
O real digital não será uma criptomoeda, mas sim a moeda brasileira num formato digital. A diferença entre as duas é que uma moeda digital é emitida e controlada por instituições financeiras reconhecidas pelo governo, como o Banco Central.
Já as criptomoedas são emitidas por instituições privadas e não têm uma autoridade responsável por sua emissão e controle. “Não é uma criptomoeda, pois tem a garantia do Banco Central, sendo assim uma moeda mais estável, fugindo da especulação das moedas descentralizadas”.
Para que serve o real digital?
O objetivo do Banco Central é diminuir custos com operações bancárias, tais como emissão de papel-moeda. Outra meta é ampliar a quantidade de pessoas no mercado financeiro.
O foco dessa moeda digitalizada são consumidores conectados ao mundo digital. Segundo o órgão, o acesso a recursos financeiros será muito mais fácil, a movimentação do dinheiro será mais rápida e haverá mais segurança.
O projeto está preparado para a web 3.0, já que usa o sistema de segurança de tecnologia blockchain. A moeda poderá ser acessada por meio de carteira digital, que será de total responsabilidade dos bancos e outras instituições financeiras autorizadas.
O real digital poderá ser usado em qualquer país do mundo, sem precisar convertê-lo. Isso também ajuda a inibir crimes de lavagem de dinheiro e assaltos. Mas é importante entender que o real digital não vai eliminar a circulação de dinheiro em papel ou moedas físicas — apenas reduzi-la. Vale ressaltar que não será possível converter em dinheiro físico, mas a ideia é que isso nem seja necessário.
O Brasil vai ser o primeiro país a ter moeda digital?
Vale lembrar que bancos centrais ao redor do mundo buscam criar moedas digitais, que podem trazer diversos benefícios tanto para o sistema financeiro de cada país como para os consumidores.
“A experiência internacional mostrou que as transações com moeda digital são a forma que os bancos centrais visam combater as criptomoedas descentralizadas. A implantação está levando às transformações do sistema financeiro. Com o surgimento de novas estruturas dos bancos tradicionais, se adaptando às possibilidades de negócios com essa nova modalidade. Na questão geopolítica, os estados buscam se contrapor ao domínio do dólar como padrão financeiro e comercial”.
Segundo dados do Banco Central, mais de 80 países têm projetos de CBDCs, entre eles a China, Estados Unidos e Índia. A mais avançada é a do yuan digital, no país chinês. Os testes da moeda, que funciona por meio de uma rede de blockchain privada controlada pelo governo do país, vêm sendo expandidos. A pesquisa em torno da criação da moeda digital foi iniciada em 2014.
“A desvantagem especulada é a da possibilidade de, numa crise financeira, tirar os valores dos bancos tradicionais e depositarem no Banco Central na conta digital, com risco inerente ao sistema financeiro, que é a perda da confiança nos bancos comerciais, fuga de capitais e efeito dominó, com quebras e perda de liquidez. Como o Banco Central não quebra, ficaria a conta para evitar a falta de recursos reais e digitais”.
Quando o real digital será lançado?
A previsão é que o projeto tenha início, efetivamente, até o fim de 2024. Nesta semana, o Banco Central começou a fazer testes com tokens e bibliotecas digitais. O código-fonte utilizado também foi divulgado, para que programadores e interessados possam colaborar.
“[É] um desafio para todos os agentes econômicos, como governos, investidores, bancos, correntistas, pessoas sem conta em bancos, etc. É uma disruptura no poder dos monetaristas”, avalia o economista Eugênio Pavão.