ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, QUINTA  14    CAMPO GRANDE 32º

Educação e Tecnologia

Meliponicultura resgata cultura e língua Ofaié em escola indígena de MS

O curso é voltado aos alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental da Escola Estadual Debrasa, em Brasilândia

Mylena Fraiha | 06/08/2023 14:08
Professora explica procedimentos da meliponicultura para alunos da aldeia Ofaié (Foto: Divulgação)
Professora explica procedimentos da meliponicultura para alunos da aldeia Ofaié (Foto: Divulgação)

A meliponicultura, que consiste na criação de abelhas sem ferrão, se destaca como um importante instrumento de revitalização da língua Ofaié e dos costumes tradicionais na Escola Estadual Debrasa, situada na aldeia Ofaié em Brasilândia, a 355 km de Campo Grande.

O povo Ofaié é conhecido como o "povo do mel", pois possui um profundo conhecimento das abelhas, cultiva produtos relacionados e tem hábitos alimentares específicos relacionados ao mel e seus derivados.

Com o objetivo de preservar esses conhecimentos tradicionais, a atividade de extensão realizada na escola tem proporcionado uma conexão cultural e linguística às crianças e adolescentes da etnia Ofaié. A iniciativa é desenvolvida pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) em parceria com a SED (Secretaria de Estado de Educação).

O projeto oferece capacitação em apicultura para os adultos da aldeia há dois anos, e recentemente foi iniciado o curso de meliponicultura para os dez alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, da Extensão Ofaié da unidade da REE (Rede Estadual de Ensino).

De acordo com a engenheira agrônoma da Agraer, Francielle Malinowski, o trabalho na meliponicultura é uma oportunidade de resgate cultural e linguístico para as crianças. “Estamos na fase de preparar as armadilhas para captura das abelhas e eles amam. É um momento de aprendizado, de forma leve”, explica.

Professora auxilia aluna a instalar armadilhas para captura das abelhas (Foto: Divulgação)
Professora auxilia aluna a instalar armadilhas para captura das abelhas (Foto: Divulgação)

Para o assessor pedagógico Fernando Azambuja de Almeida, o projeto tem sido bem aceito pelas crianças e pela comunidade local. “As crianças e os professores estão adorando. É uma atividade pedagógica de extrema importância para revitalizar a língua e a cultura do povo. As crianças que não tinha mais essa vivência com os pais, agora estão obtendo na escola. E assim trazemos de volta esse referencial, o sentimento de pertencimento”, explica.

Fernando pontua que a revitalização da língua Ofaié é um processo de longo prazo, estimado em 10 a 20 anos, mas os resultados já são visíveis. “O professor indígena, que fala Ofaié, se comunica com frases na língua indígena. As crianças falam a numeração, e os cumprimentos, como o “bom dia”. E agora eles levam isso pra casa, para conversarem com os pais”.

Produção melífera - O projeto também tem previsão de efetivar a produção de mel nos próximos meses, permitindo que as crianças contribuam para o manejo adequado das abelhas sem ferrão e mantenham a tradição do "povo do mel".

Além disso, o mel produzido por essas abelhas é valorizado para consumo e possui propriedades farmacológicas para o tratamento de doenças respiratórias.

Preservação - A iniciativa também se alinha com o Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, que tem como objetivo preservar a cultura das comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul. O estado possui uma das maiores comunidades indígenas do Brasil, com cerca de 80 mil indígenas de oito etnias diferentes.

O plano prevê ações específicas para as línguas kinikinau, ofaié e guató, que estão em vias de extinção, além da Língua Terena de Sinais, a única língua indígena de sinais reconhecida no país.

Receba as principais notícias do Estado pelo WhatsApp. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias