ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, DOMINGO  24    CAMPO GRANDE 32º

Educação e Tecnologia

Professores sofrem com alunos ansiosos, pontapés e tapas em sala de aula

"Todos os dias a gente leva chute, a gente leva tapa", diz educadora da rede pública

Alison Silva e Idaicy Solano | 14/09/2023 16:08
Hematomas na coxa da professora, após receber chutes dos alunos durante um "desentendimento" na última semana (Foto: Arquivo Pessoal)
Hematomas na coxa da professora, após receber chutes dos alunos durante um "desentendimento" na última semana (Foto: Arquivo Pessoal)

"Todos os dias a gente leva chute, a gente leva tapa". O relato é de uma professora da educação infantil, de 55 anos, que pediu para não ser identificada. A profissional observa que a reflexão não é sobre as crianças e adolescentes, mas sim sobre a realidade em que eles vivem, e como essa realidade reflete no comportamento nas escolas.

Ansiosos, agressivos e relutantes. Essas características, segundo a professora, podem ser facilmente adquiridas a partir da convivência dentro de casa. É importante frisar que cada situação difere da outra e tem suas particularidades, mas no geral, a educadora destaca que "eles [alunos] reagem a qualquer frustração de forma agressiva em sala de aula. Os professores chegaram a um extremo".

A conversa não existe mais. Praticamente dia sim, dia não, a gente leva um pontapé, leva um tapa, quando a gente simplesmente fala "não", ou pede para cumprirem as regras", relata professora de 55 anos.

A professora desabafa que a sociedade cria a expectativa de que a escola cumpra o papel da instituição familiar, o que sobrecarrega os profissionais. Um dos problemas é a falta de acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos. "Às vezes dá a entender que a escola é a salvadora da Pátria, mas ela não é! Ela precisa que a família caminhe junto”.

Segundo a educadora, a realidade nas salas de aula é dura, e comentários do tipo “mas como não dá conta de uma criança de cinco anos?” acontecem com frequência. O problema é que não se trata de apenas uma criança, mas sim uma sala com mais de 30 alunos.

Falta conscientização - A vice-presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Deumeires Morais, destaca que a principal preocupação da categoria é a conscientização de pais, alunos e escolas.

Ela ainda reforça a importância de investir em projetos de combate à violência e auxílios psicológicos entre alunos e professores. “Essas medidas podem nos auxiliar sobretudo contra qualquer tipo de violência, seja esta qual for, psicológica, verbal, emocional e física”.

Segundo Deumeires Morais, o trabalho da Fetems busca resolver os atritos junto à direção das escolas e às famílias. “[Existe] a necessidade de trabalhar a conscientização com a juventude e com os alunos em relação a respeito, solidariedade, para que possamos diminuir esses casos com os professores".

Violência na rede pública de ensino - O secretário Estadual de Educação, Hélio Daher, destaca que a pasta adotou uma série de ações na rede para reforçar a autoridade dos professores, em ação direta junto à Coordenadoria de Psicologia Educacional. Quando atritos evoluem para casos sérios, a pasta aciona a família, psicólogos, Conselho Tutelar e, em último caso, a polícia.

De acordo com o secretário, a maioria dos casos que envolve violência envolve alunos do ensino médio. Segundo Daher, as medidas se aplicam aos professores, merendeiras, zeladores e todas as pessoas vinculadas ao sistema educacional de cada escola.

Daher aponta que a maioria dos registros de violência ocorrem com alunos cujo os pais não realizam o acompanhamento escolar junto aos filhos. Quando a família é presente, é mais fácil a escola conectar e resolver o problema.

O secretário disse que em muitos momentos, gestores e professores buscam contato com familiares de alunos envolvidos em discussões e casos de violência, entretanto, não recebem nenhum retorno dos pais do aluno. “Uma escola se queixou de uma postura de um aluno, a família foi acionada três vezes e não foi até a escola. Muitas vezes esse estudante é oriundo de uma família que não vai ou interage menos com a escola”, diz.

Questionada sobre as estatísticas de casos de agressões em escolas estaduais, a SED (Secretaria Estadual de Educação) informou que não trabalha com levantamentos quantitativos de ocorrências. "Nossa análise e acompanhamento se dá de forma qualitativa, colocando à disposição toda a estrutura de profissionais para nossas unidades escolares”.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias